Olá, todo mundo!
Uma paródia bem feita vale a pena a gente ler. Você conhece essa do Millôr Fernandes? Ele homenageou Manuel Bandeira, o criador da utópica e delirante Pasárgada. E o fez desconstruindo-a com uma bela paródia que leva o título "
Vou-me Embora de Pasárgada". É bom antes, ler o original, que também gosto demais, para, em seguida apreciar a beleza do humor cáustico do
"escritor, finalmente, sem estilo", que amo de paixão. E observe que a paródia, não poderia ser mais atual. Atualidade que devemos lamentar. Olhaí as eleições gente!!
O R I G I N A L
Manuel Bandeira - VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA!
Vou-me embora pra Pasárgada // Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero // Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada // Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura // De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha // Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente // Da nora que nunca tive
E como farei ginástica // Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo // Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar! // E quando estiver cansado
Deito na beira do rio // Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias // Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar // Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo // É outra civilização
Tem um processo seguro // De impedir a concepção
Tem telefone automático // Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas // Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste // Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der // Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei — // Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei // Vou-me embora pra Pasárgada.
P A R Ó D I A
Millôr Fernandes - VOU-ME EMBORA DE PASÁRGADA!
Vou-me embora de Pasárgada // Sou inimigo do rei
Não tenho nada que quero // Não tenho e nunca terei
Vou-me embora de Pasárgada // Aqui eu não sou feliz
A existência é tão dura // As elites tão senis
Que Joana, a louca da Espanha // Rainha e falsa demente
Ainda é mais coerente // Do que os donos do país.
A gente só faz ginástica // Nos velhos trens da central
Se quer comer todo dia // A polícia baixa o pau
E como já estou cansado // Sem esperança num país
Em que tudo nos revolta // Já comprei ida sem volta
Pra outro qualquer lugar // Aqui não quero ficar.
Vou-me embora de Pasárgada.
Pasárgada já não tem nada // Nem mesmo recordação
Nem a fome e a doença // Impedem a concepção
Telefone não telefona // A droga é falsificada
E prostitutas aidéticas // Se fingem de namoradas.
E se hoje acordei alegre // Não pensem que vou ficar
Nosso presente já era // Nosso passado já foi.
Dou boiada pra ir embora // Pra ficar só dou um boi
Sou inimigo do rei // Não tenho nada na vida
Não tenho e nunca terei // Vou-me embora de Pasárgada.
See you later.
Beijos.