O ano de 2020 ficará para sempre marcado pela pandemia de covid-19. O vírus tem ceifado milhares de vidas e certamente irá deixar marcas permanentes nos que estarão vivos, pois ninguém fica indiferente, quando esteve cara a cara com a impermanência, a limitação e a precariedade da vida.
Nada acontece por acaso. Acredito que todos os acontecimentos do mundo obedecem a uma ordem divina e perfeita, embora a gente não consiga entender. E é certo que não estamos aqui a passeio. Como seres espirituais que somos, viajamos em nossos corpos físicos a fim de seguir nossa jornada evolutiva.
Então eu fico pensando: desde que me conheço por gente, estamos sendo chamados à fraternidade universal e à responsabilidade nas relações com a natureza. Nunca ligamos para nada. Por muitos e muitos anos, nossas ações têm sido ruins para nós e para o mundo inteiro. Como estamos todos sujeitos à lei natural de Causa e Efeito, era de esperar-se que um dia, a própria vida nos desse uma resposta. E a resposta veio, de forma extremamente dolorosa.
Não quero dizer com isso que a pandemia seja um castigo divino. Não! Eu jamais pensaria em Deus como um juiz inclemente e vingativo! Deus é AMOR, inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Deus é o Pai, nosso, no dizer de Jesus na oração.
Aí eu sigo pensando: por onde andou nossa consciência planetária que foi preciso um vírus dessa magnitude para nos mostrar quem somos? O vírus chegou e nos fez entender tudo de uma só vez: somos seres imperfeitos e precários, poeira das estrelas, grãos de areia no deserto. Nada, absolutamente nada nesse mundo nos pertence; precisamos uns dos outros; temos que pensar coletivamente.
Como partes de um todo, estamos conectados e não importa onde vivemos, nossas atitudes repercutem em todo o universo. Se apenas algumas pessoas rejeitarem essa ideia de conexão e pensarem somente em si, todos nós estaremos em perigo. O que um fizer afetará a todos. De que nos serviu tanto egoísmo, vaidade e arrogância? Por acaso nos tornamos imunes ao contágio e à letalidade do vírus? A simples visita de um amigo pode contaminar e interromper existências "poderosas", diante desse vírus não há privilegiados.
A lição é de clareza solar: desde o início, para evitar o contágio, fomos - e continuamos - obrigados ao distanciamento social (buscado por meio do confinamento domiciliar). Limitados pelas paredes de nossas casas, a única coisa que podemos fazer é nos voltarmos uns para os outros. Se por um lado o encontro familiar nos gratifica, por outro, há o desgaste da convivência diária. Para suportar esse desgaste é imperioso que sejamos amigos uns dos outros, suaves, serenos e tolerantes, pois diante da adversidade as pessoas revelam seu verdadeiro 'eu' e os complexos pessoais vêm à tona, com o stress que lhes é próprio. Então: hora de resgatar a essência das coisas, de viver em paz e harmonia com todos, a começar pelo nosso próximo mais próximo. Nesse contexto, a humildade nunca nos foi tão necessária. A humildade nos torna receptivos para refletir, aprender e mudar. Na medida em que aprendemos, iremos nos libertando do desejo de controlar pessoas e situações e teremos condições de separar o joio do trigo e valorizar o que realmente tem valor.
Não temos o direito de desprezar nenhum dos seres da criação. O momento é propício para exercitarmos a compaixão concreta e verdadeira, não só pelas pessoas que estão sofrendo, mas também pelos animais. Eles também sofrem. E muito. Sua natureza os aproxima de nós. São nossos companheiros nessa viagem cósmica, e também estão em processo de evolução.
No tocante à espiritualidade em si, - aqui entendida como a busca do sentido da vida que transcende à materialidade - eu gosto de pensar que talvez esse confinamento tenha o condão de, positivamente, nos "acordar" para a vida espiritual e para o encontro com nosso mundo interior. E terá sido uma bênção, se favorecer à compreensão das necessidades da alma, do planeta e do universo. Precisamos dar espaço à Espiritualidade de modo a conseguirmos caminhar e elevar-nos acima das nossas fraquezas.
Óbvio que esses tempos de pandemia são tempos de sofrimento e dor, mas acho que também podem ser de resistência, de luz e de aprendizado autêntico. Não podemos nunca esquecer que Deus, como Pai amoroso, sempre age para o nosso bem, afinal somos seus filhos e estamos vivendo e evoluindo entre dois mundos, o físico e o espiritual.
Enfim, passados quase dois anos e sem esquecer a tristeza trazida pelas milhares de mortes, e o que isso representa para as famílias enlutadas, penso que devemos olhar no entorno com olhos de gratidão, pela natureza perfeita que nos acolhe e por tudo o que temos nessa vida, pela proteção divina que estamos recebendo e pelo nosso caminhar firme, nesses tempos de aflição.
Penso que com essa pandemia, estamos tendo uma oportunidade ímpar de abrir em nós um caminho de fé inteligente e racional, que nos fortalecerá com energias especiais, a fim de que sejamos capazes de enfrentar o caminho penoso das dificuldades (que ainda virão), e, ao mesmo tempo, possamos pavimentar caminhos de alegria. Não deixemos a Poliana morrer em nós!
Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro,
se a idade aumenta;
conserve a vontade de viver,
não se chega à parte alguma sem ela.
(Fernando Pessoa)
Em tempo:
(1) Infelizmente o egoísmo continua impedindo que muitas pessoas abandonem as aglomerações e sigam os protocolos de segurança para evitar o contágio. E as consequências todos nós sofremos.
-Marli Soares Borges-
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XII Interação Fraterna - 12 anos de blogue |
Aplausos, Rosélia! Parabéns ao Blogue
Que você possa continuar por muito tempo com esse espaço de beleza e amor!
Tema proposto:
"Meu olhar espiritual na pandemia"