quarta-feira, abril 30, 2014

DA SÉRIE GATICES II


Vida dupla, coisa de humanos? Sei não.

Mondongo Borges
“Gatos são pessoas misteriosas.
Há mais coisas passando naquelas mentes do que nós podemos imaginar” 

(Sir Walter Scot)


Ontem o Dongo só veio aqui à noite e confesso que eu já estava com saudades. É a primeira vez que vejo um gatinho vivendo uma vida assim, morando em duas casas. Admiro a desenvoltura com que ele transita nesses dois universos. Mas eu queria mesmo era saber o que ele pensa, tenho certeza que pensa, e muito. Quando ele me olha com aquele olhar dourado e "arruma" suas orelhinhas, é óbvio que está pensando. Aqui um parêntese, preciso dizer uma coisa, apesar de eu ser avó, é a primeira vez que convivo com um gatinho. Por isso, tantas novidades, (sim ainda existe primeira vez para mim, rsrsrsrs.)


Nossa, como ele dorme, fico abobada. Outra coisa, tenho certeza que ele confia em nós, mas ao mesmo tempo ele me parece tão desconfiado. Ouvi dizer que os gatos são assim mesmo, desconfiados e dorminhocos. O Nilton diz que ele é assim porque é um felino e um caçador nato. Um caçador? Essa é boa, diz o Mateus. Caçador que não caça, que só come e dorme! Nunca vi.


Na minha opinião, o Dongo é muito mais que um caçador ele é um gatinho superespecial, um frajolinha muito fofo que me faz companhia todas as tardes. Batemos longos papos, mas eu sempre acabo falando demais, avemaria, como falo abobrinhas! E ele fica ali me ouvindo, com toda a paciência do mundo, e ainda faz "zóinho" para mim. E depois suas pupilas se dilatam e ele me encara, e ele sabe que esse olhar amolece os corações mais duros. Óbvio que não resisto, eu morro! Abraço-o, e então eu posso ouvir aquele ronronar baixinho, como um motor.


Ora se ele fosse somente um caçador, agiria assim? Jamais. Quer saber? Desde que ele me ensinou seu código secreto, eu descobri que na verdade, ele até pode ser um felino-caçador, mas antes de tudo, é um grande filósofo, uma criatura cativante e mágica. Suas palavras são poucas, mas incrivelmente objetivas e abrangentes, -- sim, eu sei que isso é próprio dos sábios--. A senha é singela: "MIAU". Com um simples miau e algumas entonações específicas, ele diz tudo o que precisa ser dito!


Ele anda pela casa atrás de mim, sempre. E só bebe água direto da torneira, água no potinho não tem vez. E se fico aqui no computador, ele me acompanha, e se me descuido ele vai direto para o teclado, porque acredita que tudo que existe por aqui faz parte de seu acervo pessoal. E alguém por acaso, ousa duvidar? À noite quando me sento para ver TV, ele se instala no meu colo, e fica ali atiradaço, até a hora de voltar para casa.


É. Mas nem tudo são flores e ele adora mordiscar as folhas do bonsai do Nilton. Nossa, tive que tirar de circulação, imagina só quem morre, se o Dongo detonar um bonsai de 33 anos?!


Minha filha diz que os animais também têm seus carmas e dharmas e eu acredito que sim. Até porque o Dongo é um caso típico de dharma: a Michelle o encontrou no lixo, um micro-gatinho, todo enlameado, no portal da morte. Então, tem gente que diz que ele tirou a sorte grande, pois agora tem uma família, pai, mãe e avós, que lhe dão afeto, amor e atenção. Mas eu sei que essa sorte não foi só dele. Também nós, eu e Nilton, Mateus e Michelle, fomos premiados com esse bilhete.

- Marli Soares Borges -



Em tempo: Só para esclarecer: o Dongo é "filho" da Michelle e do Mateus. E o nome oficial dele é Mondongo Borges - https://www.facebook.com/mondongo.borges?fref=ts

sexta-feira, abril 25, 2014

COMUNICAR É SEMPRE UM DESAFIO

Marcas de batom no espelho

Numa escola, não sei onde, estava ocorrendo uma situação inusitada: algumas meninas, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom, e isso dava uma trabalheira dos infernos para o zelador fazer a limpeza. E no dia seguinte, tudo de novo, lá estavam as malditas marcas. O diretor, indignado, juntou as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com aquelas marcas que elas faziam. Adiantou? Nadinha. No dia seguinte, tudo igual, as marcas de batom no mesmo lugar. Bom, aí o diretor se irritou e resolveu mudar de estratégia. Reuniu as meninas no banheiro e chamou o zelador para que demonstrasse a dificuldade do trabalho. O zelador, calmamente, pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho. Maravilha! Como num passe de mágica as marcas de batom sumiram instantaneamente! Pois é. Às vezes, precisamos diversificar os métodos para alcançar os resultados.
  • Bondade que nunca repreende, não é bondade: é passividade.
  • Paciência que nunca se esgota, não é paciência: é subserviência.
  • Serenidade que nunca se altera, não é serenidade: é indiferença.
  • Tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade.

Beijos
Marli


Em tempo: (pra variar, rsrsrs) Encontrei vários textos em diversos sites da internet, com inúmeras autorias e outras tantas versões, cada uma diferente da outra. Então APROVEITEI APENAS A IDEIA e escrevi do meu jeito. Espero que gostem.

segunda-feira, abril 14, 2014

PARA QUEM PENSA QUE VIAJAR DE AVIÃO É BELEZA PURA


Nos aviões deveria ser assim, mulheres, maridos e crianças para cá e os outros para lá. E não tudo junto, misturado como acontece. Deveria haver uma área sem crianças, ou melhor dizendo, uma área só para crianças, principalmente nos trechos longos. A paz reinaria e o berreiro dos pirralhos não atormentaria as pessoas inocentes que viajam -- mal, cada vez pior -- nos aviões. Ontem viajei para Teresina, Piauí. Vim de Porto Alegre - RS, viagem longa, conexão em S.Paulo e quase quatro horas esturricada num avião da Gol que é disparado, a pior das companhias aéreas, mas tudo lotado, que fazer? No segundo trecho, quando vi aquele batalhão de crianças e bebês de colo esperando para embarcar, literalmente gelei! Me deu uma intuição... olha se pudesse teria desistido ali mesmo pois não é a primeira vez que sofro com creches a bordo. Não adianta disfarçar, no avião criança incomoda e enche o saco demais, exatamente como aconteceu. A viagem foi insuportável, uma sinfonia de berros e chorinhos estridentes que ninguém merece. Um berrava daqui e outro respondia de lá e os maiores aproveitavam o embalo e gritavam também, (isso quando não se agarravam a tapas, sem falar nos chutes na poltrona, e nas conversas que extrapolavam os decibéis, eu vi e ouvi, bem ali na minha frente). Os papais e mamães enlouquecidos, coitados, naquela hora, vai fazer o quê? Gente, era berro, não era chorinho fofo. O voo inteiro, um inferno. Da próxima vez, se eu avistar uma creche na fila do embarque, juro que não viajo.

Outra coisa que não entendo: os(as) malas com as malas! Tem uma pá de gente-mala que literalmente embarca trazendo a casa nas costas. Ora, ali mesmo na fila dá para perceber que as bagagens não irão caber no lugar destinado na aeronave. Mas a tripulação não vê, ou faz de conta. E deixa passar. Depois lá dentro do avião é um deus nos acuda. Sei lá, parece pirraça com os infelizes -- como nós, meu marido e eu -- que pacientemente despachamos nossas bagagens.


Semana passada quando retornamos de Caldas Novas, (de Azul), embarcou uma mala, ops uma mulher, jovem, bonita e bem vestida. Dá só uma espiada na bagagem da dita cuja: uma malona, uma sacolona, uma sacolinha e uma bolsona e ainda por cima outra sacola -- linda, tenho que reconhecer -- com um presente comprado em boutique. Não deu outra, o avião lotadaço e a mulher ali, no 26, trancando a fila. Simplesmente não havia lugar. E eu sentada mais atrás, no lado oposto, observando. Entrei antes sou prioridade, oras. Sabe o que ela fez? Jogou, de qualquer jeito as tralhas por cima do banco, a malona no chão, em pé, porque não coube deitada e a bolsa e sacolas no colo de uns caras da frente que se ofereceram para ajudar. E se aboletou na cadeira da janela, com as pernas levantadas, avançando no banco do meio, atrapalhando e tirando o lugar da pessoa ao lado, uma senhora de meia idade. Óbvio, o voo atrasou, porque daí então a comissária viu o caos, e não sabia o que fazer. Acabou que a tal mulher ainda foi privilegiada! Acredita? Pois é, ela e suas tralhas viajaram muito bem obrigada. Foram acomodadas nos lugares especiais, que estavam vazios, em consideração aqueles que pagam mais caro pelo espaço extra. Brazzziiillll, zil, zil, zil.

Por hoje é só. Outro dia contarei mais algumas historinhas que testemunho, em pleno voo, no espaço indevassável das aeronaves.

Beijos a todos.
Marli

Créditos: imagens retiradas do Google.

DE PROBLEMAS E DE VÍCIOS


Li não sei onde que contar problemas é o nosso maior vício. Taí uma coisa que concordo demais.

pássaros, pintura

É vício sim, e cheguei à conclusão que não suporto gente viciada em contar problemas. Faz um tempão que venho dizendo que nossos problemas são iguais a bola de neve. Você já viu uma bola de neve rolar do alto da montanha? Ela sai de lá minúscula e chega ao solo imensa. Tal como os nossos problemas. Quanto mais a gente fala, mais eles se expandem e mais fragilizada a gente fica, nossa voz é muito poderosa. Sei não, mas o ideal seria a gente dividir o problema com alguém, falar, desabafar, equacionar e partir para a solução. E tratar de entender que existem coisas que simplesmente não têm solução, temos que conviver com elas e ponto, "o que não tem remédio, remediado está". Sabedoria antiga e muito verdadeira. Então, para que sofrer sem necessidade? Chega de bater na mesma tecla, falando, relembrando, revivendo, chorando tudo de novo. Se é para reviver alguma coisa, então vamos falar das alegrias, reviver as alegrias, e sorrir tudo outra vez. Assim, quando a bola chegar ao solo estaremos inundados de bons sentimentos e com as forças redobradas. Em resumo, tem duas drogas na vida que nos fazem 'viajar': uma nos joga no inferno e a outra nos tira do chão e faz voar. Se é para ter um vício, escolha uma droga que valha a pena.

"Não é só anestesia que espanta a dor. Rir também".
Boa tarde.
Marli


Aceita um café?

terça-feira, abril 08, 2014

SERÁ QUE FUNCIONA?

body of prof

Encontrei essa foto perdida no baú. É da série "Body of Proof" lembra? Eu gostava demais, não perdia nenhum episódio, pena que acabou. Reconheço que a foto é tosca, mas a frase... bom, a frase é perfeita. Vem lá do século 18, e é muito usada nas salas de autópsias do mundo inteiro. Eis o texto original: 

"Taceant colloquia. Effugiat risus. 
Hic locus est ubi mors gaudet succurrere vitae." 
(Que cessem as conversas. Que fuja o riso. 
Este é o lugar em que a morte se deleita em servir a vida). 

Fico pensando na razão de uma frase assim, tão cheia de vida, continuar sendo usada somente nos portais das salas de autópsias. Sei lá, tem coisas que não entendo, parecem cristalizadas, permanecem ad aeternum, do jeito que estão. Quer saber, vou sugerir ao CFM, uma mudança. Que tal, além das salas de autópsias, emoldurar também o centro cirúrgico de transplantes com o texto completo como consta no original? Afinal, a vida está mesmo imbricada na morte. Ou é a morte que está imbricada na vida? Não importa. Sabemos que os transplantes podem ocorrer a partir de doadores vivos, mas é bem mais comum que ocorram a partir da tragédia da morte prematura, que, com a doação de órgãos ou tecidos, possibilita que outra pessoa tenha uma nova vida. Ora, essa frase se encaixa perfeitamente no propósito de fazer viver. E tem um conteúdo tão profundo e tão rico em interpretações, que pode funcionar como alento para as famílias dos doadores, no sentido de que a morte daquele ente querido não foi em vão, que houve um propósito maior. Aquela morte prematura e inesperada veio socorrer a vida, e, de certa forma, se sobrepôs à própria morte. Penso que essa mudança viria ao encontro das motivações que impulsionam o assunto das doações de órgãos na atualidade.

Mas o que tenho com isso, eu que não sei nada sobre transplantes nem sobre patologia?

Nada e tudo. Faço minha leitura voltada para a estreita relação de transcendência que une a vida e a morte. Penso no morrer e no viver. No viver e no morrer. Na morte, esse desespero que nos acompanha desde sempre.

- Marli Soares Borges -