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sábado, agosto 28, 2021

ENTRE MIMOSURAS E TRAVESSURAS


Entre mimosuras e travessuras
Dongo sendo Dongo. Foto minha.



Sempre que escrevo sobre o Dongo exalto suas qualidades, ele é bonzinho, calmo, afetuoso, mimoso e por aí vai, e se me descuido vou continuar desfiando um rosário de mimosuras pra esse ser ronronante. E você que está lendo fica sempre aplaudindo essa lindeza. Pois é, mas nada é perfeito e essa lindeza também tem o seu lado, digamos... digamos... deixa assim: entre mimosuras e travessuras. 

Melhor você ver com seus próprios olhos. Espia só! e isso acontece sempre, não tem jeito, levanto por um segundo do lugar onde estou sentada e plaft! o Dongo se materializa exatamente no meu lugar! E faz uma pose de esfinge como se nada estivesse acontecendo. 

Como assim, ele tem o sofá, as cadeiras, as mesas, os armários, a casa inteira para escolher e vem se instalar no meu lugar, no lugar que eu estava ocupando, o lugar que é meu? Aí eu reclamo com ele: Dongo, esse lugar é meu! Pode ir dando o fora e blá, blá blá... e sabe o que ele faz? Nada. E isso não muda nuuunca. Ele me olha com aqueles olhos - lindos - cor de mel e ... nem te ligo. Continua ali, sem mudar um milímetro de posição. Parece que está - e acho que está mesmo - me dizendo: “é isso o que eu penso desse teu discurso sobre propriedade privada, aqui, na minha casa". 

Óbvio que eu acabo me acomodando noutro lugar. E sabe o que ele faz? plaft! vem se aninhar no meu colo! Pura verdade. Essa lindeza faz exatamente assim. Gatinho espaçoso. 

Mas, por outro lado, como boa libriana que sou, fico pensando que ele também mora aqui e tem direito de usufruir do acervo da casa. Pois é, mas esse direito eu também tenho oras. Tenho esse direito e ninguém me vê pulando pra cima dos armários quando ele "desocupa" o lugar. 

Me julguem. 


Em tempo: Deus existe! a chuva sumiu e amanheceu um espetacular sunny day! Vivaaa.

-Marli Soares Borges-


quarta-feira, agosto 25, 2021

A DANÇA DO FOGO



A dança do fogo
A dança do fogo - foto minha


Não consigo entender, estou louca para escrever e não sei sobre o quê. É como se minha cabeça estivesse vazia, mas sei que não está. Tem tanta coisa, adoro escrever, quero sinceramente escrever e sei que tenho muito a dizer, mas parece que estou travada. Zerada. Sem palavras. Queria escrever uma crônica mas não tem assunto que me agrade. Queria tecer um conto, mas não tem conta nem pra rezar um terço. Aí dou uma olhada pela janela, quem sabe... mas lá fora só vejo chuva, um cinza escuro paralisante, um frio de lascar. E o aguaceiro inclemente. 

E o teclado na minha frente. E eu pensando na morte da bezerra. 

No lago, os patos firmes nadando. E mergulhando. Patos malucos, querem congelar? Pronto, agora comecei a implicar com os patos. Sei, é o confinamento... e essas trovoadas... não tem cristo que aguente. 

Nada contra o inverno, nada contra a chuva, afinal, sou gaúcha, nasci e vivo no sul e estou habituada com essas intempéries. Acontece que tudo que é demais enjoa e esse inverno está abusando. Já deu o que tinha que dar. Ontem choveu o dia inteiro, hoje está chovendo e parece que amanhã a chuva vai continuar. É mole? O Dongo também ouviu esse vaticínio mas nem ligou. Permaneceu ali, dormitando na poltrona, aproveitando sua doce vida, na fronteira entre o mágico e o real. Uma obra de arte ronronante que me faz tão bem... Ah, como eu queria ser um gato e viver esse vidão! 

O que me salva nesses dias sem graça é o cafezinho que o Nilton faz todas as tardes. E ontem teve aqueles bolinhos tipo de chuva, aqui chamamos 'cueca virada' que ele costuma comprar, 'feitos na hora', no super. Sempre fico feliz e saio da mesa com vontade de ficar me empanturrando com os tais bolinhos. Mas pra mim é só um(zinho), meu figado vive se achando e não me deixa comer o que eu quero. Quem ele pensa que é? um grandalhão, que mora de graça na minha barriga, isso sim!    

C'est la vie. 

Olho de novo pra fora e dê-lhe chuva. Mas meu ar condicionado é porreta, ele aquece o ambiente e me mantém 'equilibrada' nessas friagens absurdas. Ele funciona mais ou menos como um psiquiatra, tudo pelo equilíbrio, rs. Quem inventou o condicionador de ar deveria ser condecorado com um cinturão de ouro e diamantes, tipo aqueles do UFC, coisa mais linda. Você já imaginou o que seria de nós sem ar condicionado? Não sei você, mas eu estaria arrancando os cabelos, surtada, nessa umidade e frio. Parei de digitar e fui ler o que escrevi. Nossa, quanta besteira. Mas não tenho culpa, é minha cabeça que está me trollando. Desculpem, amigos. 

O Nilton acabou de anunciar que a lareira já está acesa na sala. Ótimo. Agora o assunto é outro. Não sei o que mais gosto: se é o calor, ou o crepitar do fogo na lareira. Ou é o fogo em si. Ah, eu acho o fogo uma coisa muito mágica. Adoro. 

Bom, amigos, está na hora, estou indo para o ritual. A dança do fogo já começou.

-Marli Soares Borges-


quinta-feira, agosto 19, 2021

CARA DE PAISAGEM



Cara de paisagem


Hoje o tempo resolveu esquentar um pouco. O inverno deu licença para o calorzinho se aproximar. Até o sol apareceu. Aí, feliz da vida, fui pra janela dar uma espiada nos "movimentos". E o que vi? Bandos de pássaros voando, cachorros correndo e latindo de lá para cá, os patos nadando, os cavalos trotando e o Dongo aqui, ao meu lado, na doce vida de gatinho miau. Indiferentes à pandemia, cada um deles cumpre seu destino na vida. Decididamente, pandemia não é com eles. 

Ok, essa cruz é nossa.

Alguns amigos me perguntaram como estou. Obrigada pela atenção, estou bem, quase totalmente recuperada da cirurgia. Creio que a postura que venho adotando há alguns anos, tem me ajudado no fortalecimento da minha saúde, como um todo, e agora, mais ainda. 

Há algum tempo fiz um propósito de me cuidar melhor, na verdade, o propósito foi de observar os cuidados anti-stress, aqueles que servem de suporte ao fortalecimento do corpo. Esses cuidados incluem: jamais abrir vídeos ou propagandas político-partidárias no facebook; não responder a nenhuma provocação e recentemente, dar um tempo nas notícias da tv, a fim de não ouvir os arautos da desgraça anunciando o fim da humanidade.

Desta feita, aprendi a fazer cara de paisagem quando algum amigo virtual pretende me convocar para um confronto. Não entro em controvérsias. Não polemizo. Não gasto energia em temas que não me interessam. Simplesmente não ligo. Afasto-me e vou procurar minha turma, melhor dizendo: dou o fora!

E, para completar, fecho meu tratamento com chave de ouro: muito origami, muita música, bons filmes, oração e reflexão.


-Marli Soares Borges- 


terça-feira, maio 18, 2021

NÃO, A VIDA NÃO PAROU

 




Aderi cem por cento ao fique em casa. Como não preciso trabalhar de forma presencial, só saio o necessário. Meu marido também. Seguimos à risca os protocolos sanitários de prevenção à COVID e desde o início da pandemia vivemos confinados. Por sorte moramos num sítio e podemos tomar sol, caminhar ao ar livre e alegrar nossos olhos vendo a paisagem e brincando com o Dongo, nosso gatinho de estimação. 

Em casa, ando de lá para cá, arrumando e limpando isso e aquilo. Aqui o serviço é conosco, (meu marido e eu), a gente salta e pula pra dar conta de tudo. Por causa da pandemia, nossa convivência aumentou cem por cento e pude ver com nitidez o verdadeiro significado do companheirismo e do comprometimento de amor. Agradeço à Deus, de joelhos, nosso convívio pacífico, solidário e alegre. 

Somos dois septuagenários bastante ativos. Mas somos septuagenários, essa é a verdade e temos consciência de que, sozinhos, não conseguimos manter a nossa casa nos brilhos de antigamente. Tivemos que aprender a deixar alguma coisa para amanhã e a ignorar outras tantas. Além do meu trabalho profissional e de todo o serviço da casa e cozinha, eu sempre trato de arranjar tempo para o origami, haicai, tricô e crochê. E não abro mão de jogar  xadrez e ver meus filmes. Durmo sempre depois das duas da manhã. Ocupo todinho o meu tempo.

Apesar das coisas estarem dentro dos conformes, de vez em quando me bate uma sensação de que parei no tempo, que não estou fazendo nada, sei lá, um vazio. Parece que preciso fazer algo, só não sei o quê. Não me apavoro porque tenho certeza que é só impressão minha. A culpa é desses tempos sombrios que -todos- estamos tendo que enfrentar. 

O fato é que nesse ano e dois meses de isolamento, minha rotina foi completamente alterada. Só saí para cortar os cabelos (que não suportava mais!) e para tomar a vacina. Fiquei com tanto medo do vírus, que ignorei completamente a necessidade de fazer o controle da hepatopatia grave que tenho. Mas, o bom é que já estamos vacinados e agora é esperar os trinta dias da segunda dose e ir para a vacina da gripe. Depois voltarei a encarar minha vida de paciente: ressonância, endoscopia e exames laboratoriais a cada seis meses. E ver o resultado... sempre com o coração na mão. É mole? rs. 

E não é que estou me sentindo bem melhor? Gostei de elencar minhas atividades e ver quantas coisas úteis eu faço para mim e para os que me cercam. Está decidido: quando essa sensação de vazio voltar, (sempre volta, esse isolamento é cruel...) daí então vou ler esse post e entrar no prumo novamente. 

Marli Soares Borges

domingo, junho 15, 2014

DA SÉRIE GATICES III



dongo lixo



A gente nunca sabe quando faz as coisas certas na vida. Mas hoje, agora, nessa noite fria, nessa umidade que gela até os ossos, comecei a matutar... às vezes a gente sabe sim. 

Enquanto vou digitando e o Nilton vai acompanhando mais um jogo da Copa na TV, o Dongo - aquele gatinho pretinho, meu netinho peludinho - está na caminha dele, embaixo do split, aproveitando o calorzinho e dormindo um soninho legal. Ele está tranquilo, de barriga cheia, com a saúde em dia, amado e protegido. E ele sabe disso, ele sente, tenho certeza. 

Mas se o Dongo vive aqui na terra, num céu assim tão azul, é porque minha nora, num ato de coragem, enfrentou uma situação inusitada e o resgatou do inferno. Para quem não sabe, vai um resuminho básico: ano passado, ele era apenas um micro gatinho, poucos dias nascido e lá estava, desesperado de fome... jogado no meio do lixo! Abandonado como um objeto sem valor. 

Quando boto os olhos nele e começo a pensar, e me dou conta do que poderia ter-lhe acontecido, me arrepio até os dentes. Certamente se estivesse vivo esse gatinho tão amável, estaria sofrendo todos os tipos de atrocidades nas mãos de crianças estúpidas e grosseiras e de adultos ignorantes. Ainda bem que, para ele, a história teve outro desenrolar. Mas não posso deixar de pensar nos outros, seus irmãos de ninhada, meu Deus, como é possível isso? Como permites que os animais dividam seus espaços conosco, suas existências conosco e você os coloque assim no mundo, tão indefesos, sempre à nossa mercê? Não entendo, e quer saber? entro em parafuso com esse pensamento. Ao mesmo tempo, me parece impossível que um ser vivo, completamente indefeso, possa ter sua vida vilipendiada assim, vítima inocente da perversidade humana. 

No caso especial, - do Dongo - ainda me incomoda saber que essa gente imunda escapou impune, mas infelizmente não foi possível identificar ninguém. E vai me batendo uma amargura... então, antes que me dê aquele banzo pelas injustiças do mundo, vou largar o computador e bater uma fotinho legal. Taí a foto, pra você ver a mordomia. E eis que uma sensação de serenidade toma conta de mim. É. Não se pode fazer tudo por todos, quem me dera, mas o ideal sempre irá se contrapor ao real. É mais ou menos como o bem e o mal. O mundo é assim, por mais que nos custe reconhecer. E nem pense em dizer que estou sendo maniqueísta. Não mesmo.

Mas como eu estava dizendo, algumas coisas a gente acerta. E minha nora acertou. E hoje em dia não me imagino mais sem esse netinho peludinho. Esse gatinho pretinho e... gordinho. E de regime! Um discreto regime, rsrsrsrs... que é para não perder a forma, rsrsrsrsrs! 

- Marli Soares Borges -

quarta-feira, abril 30, 2014

DA SÉRIE GATICES II


Vida dupla, coisa de humanos? Sei não.

Mondongo Borges
“Gatos são pessoas misteriosas.
Há mais coisas passando naquelas mentes do que nós podemos imaginar” 

(Sir Walter Scot)


Ontem o Dongo só veio aqui à noite e confesso que eu já estava com saudades. É a primeira vez que vejo um gatinho vivendo uma vida assim, morando em duas casas. Admiro a desenvoltura com que ele transita nesses dois universos. Mas eu queria mesmo era saber o que ele pensa, tenho certeza que pensa, e muito. Quando ele me olha com aquele olhar dourado e "arruma" suas orelhinhas, é óbvio que está pensando. Aqui um parêntese, preciso dizer uma coisa, apesar de eu ser avó, é a primeira vez que convivo com um gatinho. Por isso, tantas novidades, (sim ainda existe primeira vez para mim, rsrsrsrs.)


Nossa, como ele dorme, fico abobada. Outra coisa, tenho certeza que ele confia em nós, mas ao mesmo tempo ele me parece tão desconfiado. Ouvi dizer que os gatos são assim mesmo, desconfiados e dorminhocos. O Nilton diz que ele é assim porque é um felino e um caçador nato. Um caçador? Essa é boa, diz o Mateus. Caçador que não caça, que só come e dorme! Nunca vi.


Na minha opinião, o Dongo é muito mais que um caçador ele é um gatinho superespecial, um frajolinha muito fofo que me faz companhia todas as tardes. Batemos longos papos, mas eu sempre acabo falando demais, avemaria, como falo abobrinhas! E ele fica ali me ouvindo, com toda a paciência do mundo, e ainda faz "zóinho" para mim. E depois suas pupilas se dilatam e ele me encara, e ele sabe que esse olhar amolece os corações mais duros. Óbvio que não resisto, eu morro! Abraço-o, e então eu posso ouvir aquele ronronar baixinho, como um motor.


Ora se ele fosse somente um caçador, agiria assim? Jamais. Quer saber? Desde que ele me ensinou seu código secreto, eu descobri que na verdade, ele até pode ser um felino-caçador, mas antes de tudo, é um grande filósofo, uma criatura cativante e mágica. Suas palavras são poucas, mas incrivelmente objetivas e abrangentes, -- sim, eu sei que isso é próprio dos sábios--. A senha é singela: "MIAU". Com um simples miau e algumas entonações específicas, ele diz tudo o que precisa ser dito!


Ele anda pela casa atrás de mim, sempre. E só bebe água direto da torneira, água no potinho não tem vez. E se fico aqui no computador, ele me acompanha, e se me descuido ele vai direto para o teclado, porque acredita que tudo que existe por aqui faz parte de seu acervo pessoal. E alguém por acaso, ousa duvidar? À noite quando me sento para ver TV, ele se instala no meu colo, e fica ali atiradaço, até a hora de voltar para casa.


É. Mas nem tudo são flores e ele adora mordiscar as folhas do bonsai do Nilton. Nossa, tive que tirar de circulação, imagina só quem morre, se o Dongo detonar um bonsai de 33 anos?!


Minha filha diz que os animais também têm seus carmas e dharmas e eu acredito que sim. Até porque o Dongo é um caso típico de dharma: a Michelle o encontrou no lixo, um micro-gatinho, todo enlameado, no portal da morte. Então, tem gente que diz que ele tirou a sorte grande, pois agora tem uma família, pai, mãe e avós, que lhe dão afeto, amor e atenção. Mas eu sei que essa sorte não foi só dele. Também nós, eu e Nilton, Mateus e Michelle, fomos premiados com esse bilhete.

- Marli Soares Borges -



Em tempo: Só para esclarecer: o Dongo é "filho" da Michelle e do Mateus. E o nome oficial dele é Mondongo Borges - https://www.facebook.com/mondongo.borges?fref=ts