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quinta-feira, junho 19, 2025

A CIDADE DO SOL

A cidade do sol

- Marli Soares Borges - 


Que livro, meus amigos, que livro!   

Outro livro difícil de desgrudar. * Tenho gostado demais dos livros de Khaled Hosseini.  

Superbem escrito, "A Cidade do Sol" tem um tema pra lá de interessante: duas mulheres obrigadas a casarem com o mesmo homem. O relato é inteligente e sutil e traz descrições perfeitas dos personagens e do que se passa em suas almas. Parece que você está ali, ao lado deles. A gente "percorre" grandes lapsos de tempo sem jamais perder o fio da meada, e nada é repetitivo. Mas o que me agradou mesmo foi o modo como o autor demonstrou a ironia da vida: tudo poderia ser diferente a partir de uma única escolha (feita ou não) lá atrás.

A história é sobre a vida de duas mulheres: Mariam, filha bastarda de um homem importante e Laila uma jovem bem nascida. Suas vidas se cruzam ao serem obrigadas a casarem com o mesmo homem.

O cenário é o Afeganistão, seus usos e costumes, um regime que proíbe toda e qualquer forma de pensamento e, no caso das mulheres, seu universo é ainda mais restrito: resume-se em limpar a casa, parir e fazer sexo (quando e do jeito que o marido quiser). É um romance muito triste, mais triste ainda porque traz à tona uma situação real. A gente sabe que não é só uma história de personagens, mas é uma história de luta e opressões diárias. São doses homeopáticas de terror a que ainda estão submetidas nos dias de hoje, um incontável número de mulheres naquele pedaço de mundo. 

Outra coisa que me ganhou é que o livro não é tendencioso. Não aponta demônios nem santos, mas apresenta seu protesto contra a situação daquelas mulheres. As protagonistas não são heroínas dependentes e inúteis. A força da mulher afegã aparece em toda a sua essência e durante a leitura você consegue ver a logística. Você vê a inteligência das personagens, na medida em que, sem direito nenhum, invisíveis por baixo da burca e da submissão, enfrentando dificuldades inimagináveis, elas constroem seu destino, que será infinitamente diferente daquele que parecia ser o seu único modo de sobreviver.

O autor desenhou duas personagens incríveis, absolutamente contrastantes, íntegras e inteiras, cada uma com seus próprios dramas e frustrações, mas de forma que no final... bom, é melhor você ler. O final é surpreendente.


* Em tempo: li esse livro em 2013, fiz a resenha e... não postei! Ontem fui procurar um arquivo no computador e dei de cara com o texto prontinho para postar. Taí pra você.




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quarta-feira, maio 14, 2025

A POÇÃO MÁGICA DA FELICIDADE

 


A poção mágica da felicidade


- Marli Soares Borges -

Quando adolescente li na escola um livro intitulado "Poemas para Rezar" de autoria de Michel Quoist. Na época não me empolguei, eu estava noutra. Mas veja como são as coisas, pois não é que agora dei de lembrar do tal livro? Lembro da cara do livro, de como ele chegou até mim e do pouco caso que fiz quando minha professora nos convocou para a leitura. Do conteúdo não lembro nada, apenas do título de um poema: “Senhor, Liberta-me de Mim”. Encasquetei com o livro. Parei tudo e fui procurar na internet. E lá está ele. E lá está o poema: uma oração onde o autor, sentindo-se prisioneiro de si mesmo, pede a Deus que o ajude a sair de si, que o liberte da prisão de amar apenas a si próprio. O poema tem outras implicações, nada a ver com o que me fez escrever esse texto. Fixei-me apenas no título e agora sei o porquê: é que sempre desejei voltar-me generosamente para os outros, mas na época não entendia direito com “funcionava” o mandamento do Mestre: “ama teu próximo como a ti mesmo”. 

Continuo não entendendo muita coisa, mas aprendi que amar verdadeiramente o próximo não é fácil, é preciso sair de si, libertar-se, ir além do próprio umbigo e abandonar definitivamente a armadilha do egoísmo, que faz aflorar em nós os piores sentimentos e desprezar valores, ideais e princípios verdadeiros. O egoísmo é uma doença instalada nas entranhas da alma. O egoísmo impede a empatia. Para os egoístas, o relativismo parece ser a única atitude à altura dos tempos atuais. Eles fazem milhares de julgamentos usando como critério apenas o “achismo” do próprio eu. Nesse contexto, o certo e o errado passam a ser definidos segundo interesses próprios: o bandido vira vítima; o malandro vira herói; o vício vira virtude e a liberdade vira opressão. A espiritualidade fica relegada à categoria de "ignorância" e o amor ao próximo vira vetor para a indiferença, que é um lugar confortável onde os conceitos de amor e desamor são relativos e dependem do pensamento de cada um. Hoje em dia, entendo que amar o próximo é um sinal de evolução espiritual e material que nos faz falta desde a aurora da terra. É um apelo a cada dia mais necessário e que não se dilui com a passagem do tempo. 

Acha difícil? Toque aqui, eu também acho. Às vezes fico pensando que a convivência com a diversidade seria tão boa se não fosse essa tendência infeliz de achar que somos mais merecedores que o outro, melhores que o outro, sabemos mais que o outro, somos os tais. Maldita sensação de superioridade que não nos leva a lugar nenhum. Maldito ego gigante. 

“Senhor, liberta-me de mim.” 

Penso que é natural em alguns momentos da vida, - sem prejudicar ninguém -, as pessoas agirem pensando apenas em si mesmas. Mas só em alguns momentos, porque, se estamos nesse planeta, certamente temos uma missão -individual- a cumprir e às vezes pode ser necessário agirmos de forma pouco altruísta a fim de fazer valer nossa individualidade e melhor cumprir nosso próprio dever. Mas como falei, só em alguns momentos, porque tudo fica melhor sem egoísmo, a começar pelo nosso discernimento: passaremos a conduzir nossas ações com total liberdade, pois os princípios e critérios serão sempre valores não perecíveis, que não podem ser objeto de negociação. O que é verdadeiro será sempre verdadeiro e o que é falso será sempre falso. E poderemos assumir as virtudes naturais da evolução: a humildade, a compaixão, a generosidade e a empatia. Amar ao próximo é oferecer a sua mão, o seu olhar e a sua atenção. Amor ao próximo é um sentimento pró-ativo, singular, original e especial. É um sentimento libertador que traz à tona a melhor parte de nós.  

Quem diria que o título de um poema que vi num livro há mais de cinquenta anos, -- e nem liguei --, seria hoje minha inspiração para escrever esse texto? 

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