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terça-feira, outubro 14, 2025

O MONITOR CELESTE


O ANJO SORRIDENTE


- Marli Soares Borges - 

Decidi rever minha antiga postura de indignação com certas coisas que acontecem. Mudei de ideia, sinto que preciso espalhar alegria. O mundo precisa de alegria. Tenho que aprender a lidar com certas chatices. Vou conseguir. Se ao longo da minha vida consegui abandonar sonhos, porque não abandonaria pesadelos? 

A partir de agora serei uma fofa, simpaticona e animadona. Estarei sempre pronta a soltar um “gratidão” no lugar de obrigada. Prometo aprender a gargalhar sem filtro, um dos principais requisitos para ser a fofa que eu pretendo ser. Pensa que vai me xingar e que revidarei na mesma moeda? Nada disso amore. Vou ser superior, mais alta que os aviões, vou colocar meu pezinho no céu. 

Então, turbilhão.

Aconteceu num dia desses. Fui tirar um cochilo e... 

Não acreditoooo! Estou no Céu! Ah, que bom, valeu a pena ter sido uma fofa, simpaticona e animadona, agora vou reencontrar-me com meus queridos e queridas que chegaram antes de mim e faremos a maior festa do planeta! Yesssss! 

No mesmo instante a porta se abriu e lá estava ele, o "Anjo Sorridente" fazendo as honras da casa. Mas eu estava muito ansiosa:  ‒ E os meus afetos, parentes e amigos, onde estão? Meus animais de estimação, meus gatinhos e doguinhos? Quero vê-los, conversar com eles, abraçá-los, estou louca de saudades.

O Anjo deu uma batidinha no meu ombro e convidou-ma a entrar. 

‒ Seja muito bem vinda ao Céu! Aqui é o lugar da leveza e da alegria, não se preocupe com nada, tenho certeza que você ainda vai ter a chance de ver seus queridos aqui, juntinho de você. Ah, ia me esquecendo: como Monitor do Céu, tenho o maior prazer em anunciar o atual Projeto Celeste: "Conhecer Gente Nova e Fazer Novas Amizades". Ao mesmo tempo quero cumprimentá-la pelo seu empenho em colaborar com o Projeto, e o lugar de honra que terá em "Nosso Lar". 

‒ Pois sim, mas você ainda não me respondeu. Onde estão meus afetos?

‒ No Inferno, ele disse. Como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.  

‒ No Inferno? Como assim? 

‒ Ofereci-lhes a chance de participarem do Projeto Celeste, mas ninguém aceitou, disse o Anjo, com um sorriso melífluo que, para os mais atentos, exalava uma falsidade quase palpável. Eles preferiram descer ao inferno. Todos eles. Mas fique calma, logo, logo eles retornarão ao Céu e, tenho certeza que estarão super dispostos a conhecerem gente nova e fazerem novas amizades. Talvez até façam amizade com você.

‒ Pois quero estar com eles agora mesmo! No mesmo lugar onde estão! Não quero saber de novas amizades, me poupe. Que me importa esse tal Projeto? Nesse momento importante da minha "vida" a última coisa que me interessa é fazer novas amizades. Quero minhas amizades antigas, ouviu? (então lembrei que não conhecia o caminho do inferno e fui tratando de amaciar a minha voz).

‒ Você me ajuda? perguntei cheia de fofura.

‒ Nem pensar! respondeu o Anjo, sempre sorrindo. Aqui é o seu lugar, você já fez a sua escolha quando estava na terra. E lutou muito para conseguir. Agora você está no Céu e aqui é a morada eterna das pessoas fofas, simpaticonas e animadonas como você! Para que rever quem você já conhece? O passado passou. Bora fazer novas amizades! Quer coisa melhor do que conhecer gente nova? Alegria, alegria! 

(Ali onde eu chorei qualquer um chorava. Anjo casca grossa, fanático duma figa - pensei -, você não me engana. Vou procurar um coach celestial pra ver se saio logo daqui! Chega de papo com monitor, decididamente qualquer anjo não serve. Tem que ser um Arcanjo ou um Santo sério, firme, cheio de empatia e bom na comunicação. E que esteja disposto a ensinar-me rapidinho o caminho do inferno. Mas, ai de mim(!) não posso me descuidar; aposto que por aqui também transitam anjos disfarçados. Já pensou se me encontro com um e ele me diz que, antes de sair para o reencontro eu precisarei “resgatar” alguma coisa e que o tal resgate só pode acontecer seu eu colaborar um caminhão de vezes com o Projeto?) Aí vai ser uma verdadeira hecatombe. Socorro, preciso dar o fora daqui imediatamente. Preciso encontrar-me com minha gente, antes que esqueçam de mim.

Ploft!

Me deu um branco... abri os olhos, onde estou? olhei ao redor e ele estava bem ali: meu gato! A culpa é do meu gato que deu um pulo em cima da minha perna e me acordou! Mas não foi culpa, foi uma graça dos deuses. Ainda bem que acordei. Custei a "aterrissar", mas estava acordada. Perdida e taquicárdica, suando frio, mas acordada.

Então, turbilhão.

Calma, deixa eu me situar. Estou viva, na terra. Descobri que esse negócio de rever posturas, querer virar uma fofa, simpaticona e animadona não é para mim. Desisto! Vou continuar como sou, com minhas indignações e chatices. Às vezes basta uma pequena mudança na dosagem da chatice e tudo entra nos eixos. 

Dito isso, informo que, por um bom tempo não falarei mais bobagens por aqui, porque eu decidi ser uma pessoa séria. Apaga tudo. Nada de decisões, não decidi coisa nenhuma. Vou deixar o barco correr. Depois eu penso.

 
🍄 🍄 🍄


NotaO "Anjo Sorridente" (L'Ange au Sourire) é uma escultura que se encontra na fachada da Catedral de Notre-Dame, na cidade de Reims, França. É famosa por seu sorriso sereno e gracioso, uma expressão incomum na arte gótica da época em que foi esculpida, entre 1236 e 1245. O anjo faz parte do grupo de esculturas do portal norte da catedral, onde representa a Anunciação à Virgem Maria. Nos dias de hoje, a estátua é uma das principais atrações da Catedral de Reims e um dos símbolos mais reconhecidos da cidade. 
Fonte: IA

sábado, outubro 11, 2025

DIA DA CRIANÇA - AQUELE ABRAÇO


Dia da Criança - Arte Naif


- Marli Soares Borges (c) 2022 -

Muito se falou e se falará sobre a falta de limites da pirralhada, o pode-tudo, o nível de solidão e a baixa autoestima que as atitudes displicentes dos pais plantam no coração das crianças. Mas hoje não quero falar nisso. Amanhã será o Dia da Criança e não quero falar das mazelas que roubam descaradamente a infância de nossas crianças.

Hoje eu quero abraçar.

Quero abraçar todas as crianças e dizer-lhes que sejam confiantes, que a vida no aqui e agora, nesse mundo onde a gente vive, não é tão ruim como os adultos andam dizendo. Não levem à sério essa amargura dos adultos, isso passa, amanhã eles estarão sorrindo novamente.

Também quero dizer-lhes que sonhem, brinquem, aproveitem essa idade do bem-bom. Mas por favor, não deixem de estudar pois o tempo passa e sem estudo vocês não chegarão a lugar nenhum. Sem estudo não tem sonho que resista. Sem estudo vocês não aprenderão a pensar. E cairão como patinhos na conversa mole de qualquer um. E serão adultos burros, obtusos e ultrapassados. E amargos.

Estudem e se esforcem para trabalhar naquilo que gostam. Isso facilita muito a vida, vocês nem imaginam! Assim, ganhando seu próprio dinheiro vocês terão maiores chances de alcançarem aquilo que andam sonhando. E o melhor de tudo é que, bem cedinho, serão donos de seus próprios narizes! Já imaginaram que bacana, ninguém se metendo e mandando isso e aquilo?

E vocês serão úteis a vocês próprios e à sociedade, pois se ninguém lhes disse, eu vou dizer-lhes: vocês têm que pensar uns nos outros, sim! pois vocês não são ilhas. Vocês não são ilhas! Vocês são um continente! Um grande continente, ouviram? E tratem de ser um continente que sorri! A vida é boa e vocês estão aí, vivinhos da silva, com uma longa estrada pela frente. Aproveitem que o tempo passa voando.

Feliz Dia da Criança!
Um abraço bem apertado e um beijo em cada uma.

🎁 🎁 🎁

quinta-feira, outubro 09, 2025

TUBA AUDITIVA



ROMEU E JULIETA E A TUBA AUDITIVA

- Marli Soares Borges - 

Estive uns dias resfriada, eu75 e o Nilton81. E nossos ouvidos entupiram. Não, não foi o nariz, foi o ouvido mesmo. É a primeira vez que isso nos acontece. Sinal de que ainda temos primeira vez, viram? rsrsrs. 

Eu não conseguia nem falar pois ouvia um eco na minha voz e meus ouvidos estavam completamente abafados. Uma sensação horrível. HORRÍVEL. Me apavorei, será que estou ficando surda? Fala mais alto, eu pedia, fala mais alto que não estou ouvindo muito bem, que coisa! não consigo ouvir os sons graves, só consigo ouvir os agudos e muito mal. Bom, aí o Nilton abriu o jogo. Eu também disse ele, será que é do resfriado ou é mais um logro da velhice? Então. Vocês já sabem que somos um casal solidário, deusdocéu, até nas mazelas... ROMEU e JULIETA, hahahaha, um dia eu conto outra pra vocês. 

Continuando. Fomos parar no otorrino. Diagnóstico: entupimento da tuba auditiva, a tal trompa de Eustáquio, em virtude do resfriado. Coisa pouca, sem complicações, disse o médico. Tá bom, tá bom, se fosse com ele eu queria ver! Voltamos pra casa com uma receitinha básica: um spray no nariz para desentupir os ouvidos e nada mais. Pode? Meio desconfiada segui a prescrição. Pois não é que deu certo? (conhecimento é tudo). Santo remédio! Tratamos de melhorar e já estamos sarando. Aleluia! 

Também, esse tempo aqui no sul não ajuda nada. A Primavera faz de tudo para ficar, mas o Inverno, sem noção, se aboletou no assento e não quer sair. Nem com reza forte. Frio, chuva e umidade é lugar comum por aqui. Quando o sol consegue dar as caras é uma alegria. A gente olha pra fora e o dia está lindo com cara de quem está quente, óbvio, estamos na primavera, daí a gente se anima e pensa, bora abandonar esse monte de roupa! Xô! mas experimente tirar os agasalhos pra ver o que te acontece, o frio não desiste e joga você direto no buraco. Sem novidades, a gente sabe que é assim, sempre foi assim desde o início dos tempos e por isso nos resfriamos. Mas a gente não aprende. E a não bastar, temos ainda uma boa parcela de juventude acumulada que não deixa nada barato para nós. Tanto é que um único dia ensolarado fez esse estrago que acabei de contar.

A vida ensina, mas a gente, cabeça dura, não aprende. 

❤ ❤ ❤

quinta-feira, outubro 02, 2025

ESSE MUNDO É UMA FESTA!



- Marli Soares Borges -

Adultos com chupeta, bebês reborn sendo levados ao pediatra, influencers pagando micos, gente se achando bicho, esse mundo é uma festa. Mas, o que mais tem me impressionado é o número de pessoas que estão se identificando e agindo como animais. Ouvi dizer que o neto de uma amiga (dos tempos de antigamente), o Aurélio, um garoto de 13 anos, simplesmente mudou seu nome para Cacau e passou a identificar-se como um cachorro vira lata. 

Os pais fizeram de tudo para dissuadi-lo dessa ideia, principalmente depois que ele adquiriu o hábito de fazer cocô no chão. Como não obtiveram sucesso, os pais levaram-no para passear de carro e o soltaram num terreno baldio perto do acostamento de uma estrada distante. Uma tristeza. 

Mas me conformei quando soube que passados alguns dias, os protetores o resgataram e ele foi colocado para adoção responsável, depois de ter sido vacinado e castrado. 

Ufa! ainda bem! 


🐶 🐶 🐶


domingo, setembro 28, 2025

GATINHA GRACIOSA

 


                         - Marli Soares Borges -

Esta gatinha graciosa
logo vai ser festejada.
Ela posa gloriosa:
a foto será premiada!


🐾 🐾 🐾


Participando da Proposta da Lúcia do Blog

terça-feira, setembro 23, 2025

AMANHECER


                                  

                        - Marli Soares Borges -

Vejo ao longe o sol nascer
e o seu brilho me seduz,
traz com ele o amanhecer
do dia, em ouro e luz.


💛 💛 💛

Participando da proposta da Lúcia do Blog 

sexta-feira, setembro 19, 2025

É PRIMAVERA!


É PRIMAVERA!


                           - Marli Soares Borges -

Quando chega a Primavera
com seu perfume no ar,
a natureza se esmera
e nos convida a sonhar.

No Portal da Primavera
há buquês de várias cores.
Valeu a pena a espera
pelo perfume das flores.

Tem passarinhos cantando,
fazendo ninhos a mil.
Tem flores desabrochando
e brisa primaveril!

O desabrochar das flores
me traz sensíveis alentos,
basta apenas ver as cores
e sinto os encantamentos.

Oh! Primavera querida,
minha doce inspiração
alegras a minha vida
e me enches de emoção.

Agradeço ao Criador
da natureza sincera,
que faz brotar tanto amor...
Artista da Primavera!


🌻 🌿 🌸 🐦 🌸 🌿 🌻

segunda-feira, setembro 08, 2025

A VEZ DAS BONECAS

 

A vez das bonecas

- Marli Soares Borges -


Em pequena, minha vó fazia de tudo para eu brincar de bonecas. 

Santa Terezinha fica feliz quando vê tu brincando com tuas bonecas, ela dizia. E eu, espertinha, olhava atravessado e já ia respondendo: ela fica mais feliz quando corro no quintal até cansar, ou quando pulo corda, ou quando subo nas árvores pra ficar perto dos passarinhos. 

Na maior parte das vezes, mesmo a contragosto, eu abandonava tudo o que estava fazendo e ia bem depressa pegar minhas bonecas e tratava de brincar. Eu me sentia muito feliz em alegrar a quem eu amava e que tanto me amava. 

Benditos foram os dias nos quais alegrei os dias de minha querida vó! Essas lembranças refrigeram minha alma e fazem sorrir meu coração. 

(Desculpe a lembrança, estou saudosa hoje, desde que acordei).


💛 💛 💛

quinta-feira, junho 26, 2025

QUESTIONÁRIO. VOCÊ QUER ASSINAR?

Espichando conversa

       

        - Marli Soares Borges -

Lembra aqueles questionários que a gente fazia no passado? Tínhamos um caderno especial que corria de mão-em-mão e todo mundo queria "assinar" o tal questionário. Bah! veja só do que eu fui lembrar, mas é bom lembrar as coisas boas que a gente fez, não é? Ainda mais quando surge a possibilidade de repeti-las. Repetir? Sim, com roupa nova, é claro. 

O lance é o seguinte: tenho aqui umas perguntinhas, (toscas, você acha? tá bom, tá bom), mas com um pouquinho de boa vontade, dá pra você responder, contar a historinha e espichar nossa conversa. Eu jogo a bola e você rebate. Como assim? 

Muito simples: escolha a(s) pergunta(s) que quiser e manda ver nos comentários! Quem quiser pode até fazer um post no seu blog e trazer o link para cá. Tenho certeza que surgirão muitas histórias bacanas pra gente ler. É um mexe-mexe, um ping-pong. O importante são as ideias fervilhando na cabeça e as letrinhas saltando na telinha e contando histórias de vida, em múltiplos cenários, sempre interessantes e únicos!

Se não quiser, ok, é só não responder. Democraticamente. Mas, por gentileza, não deixe de comentar. Os comentários alavancam e dão vida às postagens.


  1. Tem algum animalzinho de estimação? Ah, não saia daí sem me contar tudoooo.
  2. Agora, neste momento, quem você mandaria para PQP?
  3. Já se sentiu mal só de entrar num lugar?
  4. O que um dia te encantou e hoje não encanta mais?
  5. Se pudesse voltar ao passado, que idade você gostaria de reviver?
  6. Será mesmo que o tempo apaga tudo?
  7. Que é "matar o tempo" para você?
  8. Qual o maior susto que você já levou na vida?
  9. Quem ou o quê, conseguiu arrancar de você um gargalhada das boas?
  10. Você acha mesmo que "as aparências enganam"?


❤ ❤ ❤ ❤ ❤ ❤ ❤

sexta-feira, novembro 12, 2021

O PASSEIO DAS PALAVRAS



Depois do revival elas voltaram com renovada paixão pela vida.
O passeio das Palavras


- Marli Soares Borges


Simplesmente sumiram. E eu aqui sem saber o que fazer, o cursor piscando solitário na telinha. Foi então que ouvi as risadas e da janela pude observar. Lá estavam elas, esfuziantes. Tomei o maior susto. Meu primeiro impulso foi trazê-las de volta imediatamente, a qualquer preço, agarrá-las pelo pescoço, óbvio que estavam se achando. 

Ingratas! me abandonarem assim, sem mais nem menos, sem um aviso sequer, vou esganá-las, uma a uma! Fiquei indignada, mas fazer o quê, elas já estavam indo. Simplesmente fiquei na janela olhando e admirando - sim, admirando, acredita?! - aquele grito de liberdade... sou dessas, de princípios, rsrsss. Por certo querem divertir-se, namorar o mundo, abraçar a vida, pensei. Tudo bem, mas, e agora, (surtei) se elas não voltarem, o que vai ser de mim? silente pelo resto da vida? será que elas foram embora mesmo? não, não pode ser. 

Olha, se alguma vez aconteceu isso com você, não precisa nem ler esse texto. Nenhum relato conseguirá ser absolutamente fiel ao que se passou comigo naquele dia em que as Palavras foram passear. 

Fiquei perplexa. Lembro que minha cabeça entrou em parafuso, parecia que ia explodir, dava mil voltas. Os pensamentos zuniam, que mancada a minha: que fiz eu com as Palavras, minhas amigas de tantos anos? eu as monopolizei como se fossem minha propriedade, não lhes dei descanso, só trabalho. Gastei suas energias, não as deixava respirar. E elas ali, pacientes, heroicas, expressando meus pensamentos e suportando minhas loucuras. Tanto malabarismo que o cansaço bateu. Por Deus, palavra também é gente, palavra também cansa. Como não percebi isso? Mil vezes idiota, é isso que sou.  

Passei o dia inteirinho na janela, de olho na rua e, nada! Às vezes eu me aproximava do teclado e as letrinhas torciam o nariz para mim. Que agonia! Lá pelas tantas, no meio da noite, a chave girou e a porta abriu-se. Hosana nas alturas, chegaram as Palavras! e chegaram alegres e espontâneas, como se nada tivesse acontecido. Depois do revival elas voltaram fluentes, com renovada paixão pela vida.

Abracei-as com amizade, como grandes amigas que somos e ofertei-lhes meu melhor astral. Não reclamei e não fiz cara feia; pelo contrário, engoli a indignação e entendi o recado. São fortes os laços que nos unem.
 

💞 💞 💞

quarta-feira, outubro 20, 2021

CARTÃO DE MEMÓRIA


Por que ainda estou guardando esses cartões?
Onde guardei?


-Marli Soares Borges


Sabe aqueles cartõezinhos de memória das máquinas digitais de antigamente? Pois eu tenho cinco. Todos guardados, desde o início do mundo, numa caixinha de plástico transparente. Pelos séculos dos séculos, há anos, sempre no mesmo lugar. Encontro-os de olhos fechados.

Sqn

Dia desses, resolvi fazer um destralhamento aqui em casa: bem me quer, mal me quer, isso eu quero, isso não quero. E fui povoando o lixo de coisas sem valor e absolutamente desnecessárias. Lá pelas tantas, dei de cara com a caixinha de plástico transparente. Abri e olhei. E contei: cinco cartões de memória. Por que ainda estou guardando esses cartões? minha câmera já era, hiper obsoleta, e quem quer bater fotos em câmeras obsoletas? Ah, chega de tralhas, dessa vez vai pro lixo. E plof! 

E continuei examinando e separando coisas.

Virei o pescoço e dei uma espiada no saco do lixo. Ali estava ela, minha caixinha, recheada de lindos memory cards! Tadinhos, estão comigo há tantos anos, a caixinha com os cartões. Que mal fizeram pra descartá-los assim? Me fiz de offline. Não consegui. Peguei a caixinha de novo: abri, olhei e guardei. Pois é guardei novamente. Meus tesouros, rs. E bem guardados que é pra eu não fazer besteira de novo. 

Felizmente essa foi minha única recaída, no mais, me destralhei total. Foram sacos e sacos de lixinhos, coisinhas, bobaginhas que não fazia mais o menor sentido guardá-las. E me senti ultra leve, menina passarinho, com vontade de voar.

Mas, nada é perfeito.

Dias depois, meu marido comprou pela internet umas câmaras sem fio "pra espalhar aqui no sítio, a gente está precisando", ele disse. Sabe aqueles cartões que tu vive guardando? agora eles terão utilidade, vamos precisar de três, quantos tu tens? Cinco eu disse, de supetão. (Bom eu ter tido aquela recaída, pensei orgulhosa).

Como a encomenda está quase chegando, fui direto pegar a caixinha com os cartões. Não achei. Não estava mais no antigo lugar, óbvio, no dia da arrumação tive um insight criativo, grrr, e mudei tudo de lugar. Meu Deus, onde guardei a caixinha? Lembrei. Óbvio que eu lembraria, - sei onde guardo tuuuudo aqui em casa -, vou ali pegar e já volto. Adivinha. Não achei. Revirei tudo e ... Nada! Desapareceram sem deixar vestígios. 

Mas eu conheço os bastidores. É tudo obra daquela gangue de duendes mau-caráter que vivem escondidos aqui em casa e adoram esconder minhas coisas. Fazem isso só pra me infernizar: eu guardo e eles escondem. E eu fico p da vida.

Como já vi esse filme, vou dar um tempo. O modus operandi deles é sempre o mesmo: eu guardo num lugar e eles, só pra incomodar, colocam em outro. E para completar, ainda fazem as coisas aparecerem num lugar onde eu já havia procurado um milhão de vezes! Da última vez fiquei tão indignada que prometi fritar-lhes o fígado um por um. Aí, eles tomaram tento e sumiram. Agora voltaram, os safados. 

Mas, dessa vez eles vão se dar mal. Prometi uns duplos carpados a São Longuinho, pode ser que ele me ajude.   

Tomara que dê tudo certo.

* * * * * * * * * *

sexta-feira, outubro 08, 2021

A INTELIGÊNCIA DO CHINELO


bom mexer os dedos do pé
A inteligência do chinelo


- Marli Soares Borges


Por aqui os dias continuam chuvosos e frios. E estamos em plena primavera, na estação das flores, do sol e dos coloridos sazonais. Mas a querida "prima" não quer aparecer. E isso não está me cheirando bem. Tenho a impressão de que esse ano não teremos primavera, nem verão, e, se bobear, nem outono. Alguém avisa o inverno que ele acabou, por favor.

Ontem, distraída, até me assustei quando minha filha chegou e me presenteou com um chinelo crock, um número maior que o meu. "Ó mãe, um presente, se não gostar me devolve. Sei que tu não acha muito bonito, mas lembrei desse frio que não para e trouxe pra tu usar com tuas meias de lã". Ela sabe que meu sistema termo-regulador anda trabalhando em 'curto' e que sinto um frio colossal. E nesse non-stop do inverno...

Confesso que nunca vi nada de bonito nesses tais chinelos, mas adorei o presente e nem penso em devolver. Estou feliz da vida com meus pezinhos aquecidos, confortavelmente metidos na meia de tricô favorita e no chinelo crock que acabei de ganhar. Sei... eu vivia falando mal deles, tá bom, já engoli as palavras. Mas, será mesmo que esse povo - gamado no tal chinelo - acha ele bonito? ou acha confortável? ou as duas coisas? Não, as duas não combinam, rs. 

Ih, acabei de lembrar um detalhe super importante: será que ele gosta de acordar tarde como eu? O meu chinelo havaiana, que uso o ano inteiro, nunca se incomodou com isso. Ele fica ali, ao lado da cama, paciente, esperando eu acordar. Ele é meu queridinho e, só para esclarecer, eu jamais pensaria em abandoná-lo por causa do crock, apenas estou pensando em deixá-lo descansando na gaveta, por um tempo, até o frio passar, ai meu Deus, será que passa?  

Meus pés agora, bem agasalhados, até viraram gente. Ah, que bom! que sensação maravilhosa! Puro aconchego. Dei uma espiada neles, e sabe que nem achei o chinelo tão feio assim? pura implicância minha, pensei. Fazia tempo que não me sentia tão bem... que bom mexer os dedos do pé e senti-los todos ali, vivos, à postos, quentinhos e flexíveis. 

Chinelo inteligente esse. Chegou aqui de mansinho, jogou um calorzinho nos meus pés e me enrolou feito um novelo! Identificou com precisão o momento certo de agir: fomos apresentados e ele me deu um breve aperto de pé. Na sequência, uma conversinha boba e, para completar, um verãozinho pontual. Pronto, bastou. Tudo de caso pensado, na medida certa pra me apaixonar. Evidente que se eu me apaixonasse, ele moraria comigo e teria um teto pra chamar de seu. E caí na rede feito um peixinho. Mas, quer saber? Valeu! Quem não ama um chinelo assim? 

Hoje tem sol claro e céu azul e bem que poderia ser um lindo dia de primavera, mas não! tinha que ser esse ridículo dia de inverno, com prazo de validade vencido. Por sorte, meu crock não nega fogo. 


* * * * * * * * * *

sábado, setembro 04, 2021

SAINDO DE FININHO

Saindo de fininho

- Marli Soares Borges -

Se você não gosta, esqueça, nem leia. 

Aqui em casa todo mundo gosta. Todo mundo somos: eu, Nilton e Mateus, os confinados. Estamos atravessando a pandemia a três. Para manter nossa privacidade trabalhamos - em home office - na mesma casa, mas em locais diferentes. 

O local mais frequentado é o meu "QG" (sigla de quartel-general), apelido 'carinhoso' que os dois engraçadinhos deram para as minhas instalações. Eles aparecem por aqui quase todos os dias, em horários distintos. Chegam de mansinho, um de cada vez, uma batidinha leve e entram discretamente. E discretamente abrem a portinha do armário, e discretamente fazem uns barulhinhos e discretamente se retiram. De fininho. Às vezes dizem oi, tudo bom? e pronto. Quando me viro pra dar uma conferida, já era. Sumiram. Antes que pensem mal de mim, informo que foi para o bem deles que decidi guardar no meu armário, sem segundas intenções. E está dando certo, eles conhecem as regras e estão carecas de saber que nesse quesito não tem arreglo, é pegar ou largar. 

As visitas são cíclicas: zero estoque, zero visitas. Nos dias 'zerados' o Nilton nem entra, só abre a porta e me chama pro cafezinho e eu vou e volto. Quando abasteço o armário recomeçam as visitas. Não dou um aviso sequer, mas estes têm um faro apuradíssimo e descobrem tudo num piscar de olhos. Deixá-los à vontade? Sem chance: em dois toques vão virar umas bolas e sair rolando por aí. Nhac! Nhac! Croc! Croc! Nada de andar o dia inteiro mastigando e engolindo como se fosse pão, muita calma nessa hora! 

Aposto que você já percebeu o porquê dessa decisão, digamos, pouco simpática. Antes era tudo livre, mas não deu certo. "Assim que sairmos do confinamento a gente vai rever o assunto", prometi. Eles são do bem, levaram na esportiva e ninguém ficou de bico. Melhor assim. 

Se eu também gosto de visitar meu armário? Adoro. Às vezes, pego unzinho e divido em quatro partes e vou mastigando bem devagarinho, saboreando, cheia de culpa. Reconheço que essa atitude é absolutamente condenável para minha bolinha murcha, ah... e eu com isso? rs. 

E aí, adivinhou? Beleza. Estou falando do bombom Ouro Branco da Lacta. É um bombom super comum, sem "sofisticamentos", mas desses bombons comuns acho que é o único que ainda conserva intacto o sabor delicioso de antigamente. Aqui em casa a gente costuma comprar em embalagens de 1kg, antes de tudo, tem que encher os olhos, rsrs. 

Eu avisei, se você não gosta, esqueça, nem leia.


❤ ❤ ❤


domingo, agosto 15, 2021

ONDAS DE TALENTO

 

Ondas de talento
Origami “Ocean Wave”
Dobrado por mim - papel sulfite



Sempre ouvi dizer que todo mundo tem talento. Como assim? eu não tenho. Onde está o meu talento? Afinal o que é talento? 

Dizem que talento é fazer com facilidade o que os outros fazem com dificuldade. Nesse sentido é possível concluir que talento não se resume apenas a aptidões específicas como tocar, cantar, jogar, atuar no teatro, pilotar carros de corrida etc., mas que há vários tipos de talento. O talento natural, por exemplo, é uma aptidão inata que existe em cada um de nós para fazer alguma coisa, para intervir positivamente em determinada situação. Não lembro exatamente onde, mas sei que na Bíblia há referência sobre esse tipo de talento. 

Ser simples por exemplo, é um talento incrível de onde deriva a humildade, a hospitalidade e a coerência. Saber ouvir é outro talento fantástico, e saber pensar é uma glória! Mediar uma discussão, objetivar uma ideia, resumir as questões, acalmar os ânimos nas situações-limite, ensinar alguma coisa que a gente sabe, agir com delicadeza... são talentos maravilhosos. 

Aí eu sigo pensando... que bom seria se a gente pudesse aproveitar nossos talentos para melhorar o mundo. E por que não? Eu particularmente acredito demais nessa possibilidade, sempre é possível intervir positivamente no universo que nos circunda. 

Então, procura daqui, procura dali, acabei descobrindo em mim um talento incrível, que me ajuda (a mim e aos que me rodeiam), a atravessar o mar de angústia existencial que nos circunda. Seu nome? Paciência. Melhor seria "Santa Paciência", "Paciência de Jó", etc., uma paciência com nome e sobrenome. Esse talento é ótimo para enfrentar e ajudar as pessoas a enfrentarem situações difíceis. 

No meu caso, já peguei prática, consigo suportar um sem-número de revezes, dores e indignações sem ficar atormentando o próximo com minhas mazelas. Sqn, rs. Ultimamente ando meio contrariada, meio irritadiça, querendo dar umas porradas em alguém, sei lá em quem, rs. A causa? Tenho certeza que sei: é esse inverno violento e longo aqui do sul. Esse inverno estúpido e completamente desnecessário. E esse frio congelante? e essa umidade? Para quê? Onde diabos, se meteu o calor? Fugiu com o sol? Pra que tantas ondas de frio? É isso que está me dando nos nervos. E, pra completar, apareceu essa pandemia dos infernos que está, literalmente, comendo meus miolos! Resultado: ando talentando demais! E minha Paciência, com nome e sobrenome, está ameaçando fugir. E se ela fugir nesse frio, antes da pandemia acabar? help, estou ferrada, rsrs. 

Taí: uma "Onda de Paciência de Jó" até que seria bem vinda.

E você, como anda sua paciência?


- Marli Soares Borges -


quarta-feira, abril 28, 2021

SE ACASO VOCÊ CHEGASSE...

Se acaso você chegasse

 

- Marli Soares Borges -

Acredito no acaso muito mais do que no mérito e considero que o esforço e o talento, por si só, não determinam o sucesso de ninguém. Li um artigo de um escritor franco-canadense - Malcolm Gladwell - sobre esse assunto e concordo com ele. Para mim, a meritocracia não passa de uma ideia falsa, quase uma fé "virada para baixo" com dizia Murphy. 

Se o esforço árduo fosse necessariamente recompensado, o sucesso estaria praticamente garantido para todas as pessoas. Era só se esforçar e pronto. Mas, infelizmente não é assim que funciona, tem gente que leva a vida inteira se esforçando e nunca chega lá. Acontece que a meritocracia é apenas uma crença e o acaso não. 

O acaso é real e está em todos os lugares. Observe: o acaso inaugural, que praticamente dá o 'tom' da nossa existência, começa precisamente no dia em que, direto da barriga de nossa mãe, desembarcamos nesse mundo. Desde a nossa mãe, a nossa família, o lugar do nosso nascimento, nossa escola, etc, até os atos e fatos casuais, anteriores e decisivos que nos dizem respeito, todos eles são acasos determinantes na nossa vida. Enfim, penso que o papel do acaso não é pequeno, ele é bem maior do que gostaríamos de admitir. Mas isso não significa que eu despreze o valor do esforço e da dedicação. Pelo contrário, o esforço, a dedicação, o comprometimento e as horas-bunda de estudo, contam muitíssimo na vida e, verdadeiramente, alavancam o sucesso. 

Apenas não concordo com a ideia de que o esforço árduo terá necessariamente sua recompensa, pois o acaso é moeda forte e não pode ser desconsiderado. Lembro de Santo Agostinho, "somos todos iguais, até o momento em que nascemos". Certamente, também ele, por acaso, andou encucando no acaso de todos nós. 


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segunda-feira, fevereiro 08, 2016

TUDO É CARNAVAL IV


tudo é carnaval IV


- Marli Soares Borges -

Não sou saudosista. Detesto saudosismo, detesto saudosistas, aquela coisa de "ah, no meu tempo... naquele tempo é que existia carnaval de verdade..." de-tes-to! Não me fixo na razão paralisante do passado, apenas tenho saudade e embora saudosa, aprendi a experimentar o passado como fonte de vida: não vivo do passado, apenas viajo no passado. Vou e volto. E se agora não caio mais na folia, nada me impede de continuar gostando e observando a festa. E é com alegria que percebo a intensidade com que as pessoas constroem -- assim como eu construí -- as memórias que irão guardar para o resto de suas vidas. 

A festa mudou o formato, mas continua sendo popular e, na essência, o Carnaval segue como um espaço de irreverência e imersão nos sons, nas danças e nos novos valores que a sociedade aplaude. As fantasias de hoje são contextualizadas; a criatividade, o improviso e a tecnologia avançam a passos largos. O rebolado e os beijos também. Seguimos maravilhosos, cantando, dançando, abrindo os braços e marcando encontros, apesar dos temas mundiais, nem sempre auspiciosos, incorporados ao cenário carnavalesco pela Globalização. 

A meu ver, muita coisa 'moderna' piorou o Carnaval, mas isso fica por conta do meu olhar 'antigo', pois tenho certeza de que o Carnaval de hoje, para os jovens foliões de hoje, é o melhor Carnaval de todos os tempos! é a vez deles, eles são os donos do Carnaval! É deles a originalidade e o olhar de primeira vez! 

Mas é minha essa saudade. Saudade boa, que me permite, ainda agora, tocar com emoção as fantasias que habitaram meus carnavais juvenis. 


💃💃💃

sexta-feira, abril 25, 2014

COMUNICAR É SEMPRE UM DESAFIO

Marcas de batom no espelho

Numa escola, não sei onde, estava ocorrendo uma situação inusitada: algumas meninas, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom, e isso dava uma trabalheira dos infernos para o zelador fazer a limpeza. E no dia seguinte, tudo de novo, lá estavam as malditas marcas. 

O diretor, indignado, juntou as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com aquelas marcas que elas faziam. Adiantou? Nadinha. No dia seguinte, tudo igual, as marcas de batom no mesmo lugar. 

Bom, aí o diretor se irritou e resolveu mudar de estratégia. 

Reuniu as meninas no banheiro e chamou o zelador para que demonstrasse a dificuldade do trabalho. O zelador, calmamente, pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho. Maravilha! Como num passe de mágica as marcas de batom sumiram instantaneamente! Pois é. Às vezes, precisamos diversificar os métodos para alcançar os resultados.
  • Bondade que nunca repreende, não é bondade: é passividade.
  • Paciência que nunca se esgota, não é paciência: é subserviência.
  • Serenidade que nunca se altera, não é serenidade: é indiferença.
  • Tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade.

Em tempo: encontrei vários textos em diversos sites da internet, com inúmeras autorias e outras tantas versões, cada uma diferente da outra. Então APROVEITEI APENAS A IDEIA e escrevi do meu jeito. Espero que gostem.


😂😂😂

quinta-feira, março 06, 2014

DE URUBU E URUCUBACA

https://marliborges.blogspot.com/


- Marli Soares Borges -

Jamais pensei que acreditaria em olho gordo. Até o dia em que acreditei.

Naquele tempo - minha pré-adolescência - era moda as pessoas decorarem o interior de suas casas com plantas ornamentais, principalmente samambaias, plantadas em vasos suspensos, -- aliás, ouvi dizer que a moda está voltando. E minha vó tinha várias, e cuidava de todas com amor. Mas havia uma que se destacava, parecia uma renda (chamavam de Renda Portuguesa), e era a mais linda de todas. De um verde brilhante, era uma planta adulta, forte e saudável. 

Até que um dia, se não me engano, num sábado, bateram palmas lá fora e a vó correu para atender. Era a vizinha do lado, pra bater um papo. Assim que ela deu com os olhos na samambaia, desdobrou-se em elogios: coisa mais linda, como você consegue? Deus, ela é toda rendada! Olha, estou maravilhada, esta sim ficaria bonita na minha sala, você me dá uma muda? Claro, disse a vó, assim que 'brotar', farei a muda para você. 

E a vizinha papeava e voltava a elogiar a planta. E a vó, que no início estava feliz com os elogios, passou a sentir-se meio desconfortável, com um não-sei-quê de aflição que não conseguia entender, e por isso foi tratando de 'despedir' a visita. Ufa, graças a Deus ela foi embora, suspirou minha vó aliviada. 

Na sequência, entramos na sala e... bom, aí, tomamos o maior susto. A folhagem antes viçosa, jazia agora murcha, A-CA-BA-DA, nem sombra do que fora há poucos instantes! Não conseguimos recuperá-la de jeito nenhum. Estava mortinha da silva e seu destino foi o lixo. Verdade, gente, pura verdade.

Minha vó queria chorar! Olho gordo, inveja braba, jogou urucubaca em mim e matou minha folhagem! Você viu só? a inveja é uma tristeza, Marli. Fuja das pessoas invejosas. 

Guardei aquele episódio na memória e durante muito tempo acreditei em olho gordo. Hoje em dia, não mais. Aprendi que a inveja cumpre sua sina é no coração dos invejosos. Puxa vida, que tipo de gente é essa, que não consegue suportar o sucesso e a felicidade dos outros? Para quê, carregar no olhar esse roubo de energia vital? Dúvidas, sempre dúvidas. 

Contudo, a idade avançada clareou em mim algumas coisas e penso que embora a inveja mate -- como vovó passou a catequizar-me pela vida afora --, ela (a inveja) não tem tanto poder assim. Temos mais é que enfrentá-la com armas de longo alcance: alegria, senso de humor e firmeza. 

Não vejo a menor necessidade de esconder as coisas novas, o sucesso, e muito menos os dons pessoais que desenvolvemos ao longo da vida. E nada de falsa modéstia também. O ingrediente básico é um só: o bom senso. É assumir -- com firmeza e merecimento -- as riquezas que nos pertencem, mas por outro lado, não pegar carona na ingenuidade e sair por aí alardeando sua vida, seus projetos e esperanças. E por favor, sem ostentações, ok? Assim você acaba atiçando a inveja dos outros!

Xô urubuzada! A urucubaca não me pertence!

Talvez minha vó pudesse ter saído ilesa daquele olho gordo, se tivesse conseguido cortar o padrão vibratório da invejosa, usando e abusando do senso de humor, da alegria e da presença de espírito, virtudes que sempre foram tão marcantes em sua personalidade. Mas ela deixou-se tocar pelo pânico e ficou sem ação.

* Nada contra os urubus (as aves não têm culpa de nada, rsrsrs)


👀 👀 👀


segunda-feira, março 03, 2014

CARNAVAL


- Marli Soares Borges -

Que me perdoem os que não gostam de carnaval, mas eu gosto. 

Na juventude eu não perdia nada, 'sassaricava' todas as noites e tenho doces recordações. Continuo gostando, mas atualmente minha música mudou: ♫ daqui não saio daqui ninguém me tira... ♫, hahahaha, e não me tira mesmo, minha casa, meu conforto, meu aconchego em primeiro lugar. Já botei meu bloco na rua em outros carnavais e agora quero mesmo é, ♫ ficar no meio do povo espiando, minha escola perdendo ou ganhando, lá no carnaval... ♫.

Mas o som da bateria, os brilhos, as fantasias, sei lá, o carnaval me seduz! E nessa vibe continuo cantando meu mantra musical (que nunca me negou fogo): ♫ hoje eu não quero sofrer, hoje eu não quero chorar, deixei a tristeza lá fora, mandei a saudade esperar... ♫. 

Desejo um ótimo carnaval a todos, aos que gostam e aos que não gostam, aos que sambam e aos que não sambam!


SASSASSARICANDO
(Lembrei da Virginia Lane, a Vedete do Brasil, que há pouco tempo nos deixou. Essa música, de 1951, foi um de seus maiores sucessos, senão o maior)

Sassassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sassassaricando
A viúva o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo
É um assombro
Sassaricando

Quem não tem seu sassarico
Sassarica mesmo só
Porque sem sassaricar
Essa vida é um nó


💃💃💃

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

TORTURA CHINESA




- Marli Soares Borges -

Eu estava muda. Ela falava alto e gesticulava... e quase gritava. Não estava gostando de nada, nem de ninguém, a começar pela recepção e administração, incluindo garçons e jardins. Ninguém e nada prestava. O cardápio era uma droga, os guardanapos eram descartáveis, de papel, onde já se viu? E enquanto anunciava que era muito viajada seguia atropelando as palavras. Como é mesmo o seu nome? Marli, eu disse. Ah, sim, o meu é Amália, prazer. Olha, Marli, digo isso porque conheço o mundo inteiro, já me hospedei em diversos resorts e esse aqui é só mais um. Sabes, Marli, sou ativista social na rede. Você sabe o que é isso? E enfatizou: a-ti-vis-ta-so-ci-al. Você não me conhece, eu faço estragos na internet! E esse resort vai sentir o meu poder, vou terminar com ele. Não se trata de dinheiro, que isso não é problema para mim, sempre ganhei e ganho muito bem, e blablablá. Bom, aí então, ela só faltou me dizer que tinha um jatinho, ali na frente, esperando suas ordens para decolar.

E não parava. Mas como, nesse resort não tem um transporte interno até a praia, só para os idosos? E não tem alimentação especial para obesos? (Aí eu, discretamente, dei uma visualizada no shape: ela era grande, em altura e em largura. Avantajadíssima). E você notou que não tem alimentação especial para crianças e que as babás só trabalham até as seis? E o spa que não funciona 24 horas, um horror. E os jardins, pra quê tanta coisa? Salão de jogos, que bobagem. Meu neto, pobrezinho, ele veio comigo, junto com minha filha e meu genro, e ele só tem dois anos e ele não está tendo o que fazer! E a sauna, o que é aquilo? E a hidromassagem? É tudo muito desnecessário, afinal as pessoas estão em férias. E repetiu, aumentando os decibéis: des-nes-ces-sá-ri-o! Olha Marli, juro por Deus, eu não sabia. É a primeira vez que venho para esses lados e estou achando tudo muito caro! Olha, com esses preços, nunca mais! Se eu soubesse que esse resort era tão caro eu não teria vindo! E nem adianta você me dizer que está adorando e que você está se divertindo e que você adora praia, que não vou acreditar. (Detalhe: eu não disse uma palavra, não consegui sequer abrir a boca). 

Muito chato a gente topar com figuras assim, descompassadas. Avemaria!

Incrível como são as coisas, sem mais nem menos, ela me abordou: bom dia, vai a praia hoje? (eu estava batendo fotos). Pronto caí na rede! E o preço? Esse sim, posso afirmar que foi caro demais. Ninguém merece ouvir tantos desatinos numa manhã de férias. No final das contas, eu já estava era querendo matar meu marido, que não aparecia para me salvar. "Não quis atrapalhar a conversa" ele me disse mais tarde, se matando de rir. Engraçadinho! Mas, enfim, relatei o fato.

Tem gente que não se toca mesmo e não importa a idade, a propósito, a tal senhora tem 63, dois menos que eu. Nossa, morro e não vejo tudo. E não é que no dia seguinte, avisto a mesma figura, alugando a orelha, ou melhor, torturando um dos jardineiros? Coitado. 

Em tempo: o fato é real, aconteceu na semana passada, durante nossas férias em Fortaleza, mas o nome da senhora é fictício.
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