sábado, outubro 26, 2013

GENERALIZAR NÃO É PRECISO

Detesto generalizações, mas parece que elas me perseguem. Veja só o que encontrei num artigo escrito por uma especialista em "psicologia da vida a dois" -- nossa, estou por fora, eu nem sabia que existia esse tipo de especialização. -- Ela afirma o seguinte:"O silêncio é inimigo do amor. O silêncio mata o amor. Quem ama sempre tem o que falar. Sempre. Sem assunto, sem amor."

Bom, aí pisou no meu pé.

Maldita mania de generalizar. Quem disse que estar em silêncio incomoda? Quem disse que palavras são requisitos do amor? Será que todo o silêncio é ruim? Será mesmo, que o silêncio mata o amor? Será que ninguém nesse mundo aprecia o silêncio? Alto lá, eu aprecio. E meu marido também. E como nós, milhões de pessoas, aposto. Não vejo nada de mais no fato da gente ficar algum tempo, ao lado de alguém, sem se falar. E seguir vivendo assim, às vezes em silêncio, simplesmente. E estar feliz. Ninguém tem assunto o tempo inteiro. E se você já vive uma história de vida ao lado de outra pessoa, vai entender muito bem do que estou falando.

A meu ver, entre duas pessoas que se amam e compartilham a vida, existe pelo menos, dois tipos de silêncio: um baseado no sossego, na serenidade e na confiança. É silêncio que não incomoda, ao contrário, gratifica e liberta. É bálsamo suave, que conforta e alinha os caminhos; sinal de que está tudo bem. Retrata o amor absoluto, a doce intimidade, a parceria concreta. O grande poeta Fernando Pessoa, com seu brilho tão peculiar, escreveu certa vez: "Há tanta suavidade em nada dizer, e tudo se entender" . Algo me diz que ele se referia a este tipo de silêncio. E agora escute só o que encontrei na Desiderata: "Siga tranqüilamente entre a inquietude e a pressa, lembrando-se de que há sempre paz no silêncio." Recordo ainda as palavras de Machado de Assis, -- meu ídolo de priscas eras. -- Disse ele: "Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram.” Eu idem, ibidem.

Mas reconheço que há também um silêncio que incomoda, que mina qualquer relação, que impede o entendimento, que retrata amargura e desamor. Esse silêncio vem aos gritos e se afoga nas palavras não ditas. É mais ou menos como estar numa câmara escura. Você simplesmente não vê saída e seu coração sufoca. As mágoas são tantas que se você abrir a boca, não haverá munição que chegue. Então você decide que é melhor silenciar. Talvez a autora do texto -- bastante jovem -- só conheça este tipo de silêncio. E, afoita, foi logo generalizando. Marcou bobeira a moça.

Generalização não bate comigo. No mais das vezes, as generalizações resultam numa mentira com aparência de verdade. Um perigo.

Marli Soares Borges

6 comentários:

  1. Marli, fui lendo e acabei chorando... acho que estou muito sensível esses dias e a causa dessa sensibilidade é justamente o silêncio. Antes, por ser silêncio quando deveria ser palavras, e agora, por palavras que deveriam ser silêncio.
    Não dá mesmo pra generalizar...
    Nada dá pra generalizar!
    A moça sendo nova, com certeza vai chegar a essa conclusão no decorrer de sua vida.

    Lindo domingo. Beijos

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  2. "Psicologia da vida a dois" é a mesma "Terapeuta de casais"? rs Nova nomenclatura? Pode ser.
    Não sei, Marli, se o texto todo a desagradou e esta parte que vc mostrou foi a conclusão do que ela expôs.
    Do meu lado, entendo que há o silêncio que mata o amor, sim. Ou se não mata, o transforma.
    Acho que ela se referiu a "discutir a relação", a pessoas que absolutamente conversam sobre si mesmas. Sei lá eu, mas acho que o silêncio faz muito mal ao amor, sim.
    Beijo!

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  3. Se silencio for falta de amor,estou perdida pois sou muito calada.Até entre a familia sou assim...rsss...por isso adorei o seu texto,pois tenho muito amor em mim! bjs,

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  4. Oi, Marli!
    Entendi quando você fez o fechamento de sua análise, enfatizando que o silêncio que é sempre, realmente mina e incomoda a um dos cônjuges.
    Quanto a mim, passei alguns dias quase que em silêncio, mas na companhia do meu marido, pois gostamos de ficar juntos e quietinhos, lendo, vendo algum filme ou tomando sol, porque sabemos que este silêncio é quase que curativo nos finais de semana. Quando voltamos ao cotidiano já se fala tanto, a casa com filho e namorada e telefone, e gente que chega e sai, ao mesmo tempo meu marido também fala e ouve muito em reuniões maçantes. Ficar em silêncio, digo-lhe, é muito bom para o amor, podes crer!
    beijos cariocas e ótima semaninha!



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  5. Boa noite Marli,Belo debate,eu postei um texto sobre o silencio,muitos me escreveram dizendo que o silencio é traiçoeiro.
    Na verdade eu penso que o silencio é como você explicou!O silencio é o direito de cada um,mesmo nós sendo casados ou não!Todos nós temos o direito de ter nossa privacidade.
    Adorei beijinhos.

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  6. Marli,
    Nina e eu formamos o casal perfeito. Ela fala, sempre! E eu escuto, sempre! Assim, reina a paz.
    Bom, brincadeiras à parte, também entendo que existe o silêncio da amizade, do comprometimento, da cumplicidade, o silêncio do companheirismo que diz "estamos quietos mas estamos juntinhos um do outro". E, por outro lado, existe o silêncio da raiva, do "querer distância".
    Não dá para generalizar o silêncio.
    Abração.

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BOM VER VOCÊ POR AQUI!
Procurarei responder a todos e retribuir as visitas com a maior brevidade possível. Abraços. Marli