segunda-feira, março 14, 2011

BLOGAGEM COLETIVA - DIA DA POESIA

Olá turma,


Hoje é o Dia da Poesia e é simplesmente impossível deixar de prestar homenagem à minha poeta do coração: Cora Coralina. Grande poeta, dispensa apresentações.


Cora Coralina, você é muito dez!



E você, leitor, tenho certeza que concorda comigo.

Já falei sobre ela em outras oportunidades, e postei alguns de seus poemas. Você pode ler aqui e aqui.

Agora, nessa blogagem trago um poema que no meu sentir, é pura fascinação. Na verdade, sinto esse poema como uma confissão, uma confissão inteira, de corpo e alma, a própria confissão de Aninha. E amo esse despreendimento, esse jeito sereno que Cora sinaliza sua trajetória no mundo. No início, ela se apresenta: "// Sou a planta humilde dos quintais pequenos // e das lavouras pobres.//". Mas, quando brota o verso final – “Sou o milho!”, ela é puro esplendor. A grandeza na humildade! De modo suave, somos levados a refletir sobre muitas coisas que acontecem na nossa caminhada existencial. Cora transparece, revela-se. Quem não lembra as palavras dela no poema Minha Cidade, que termina assim: “Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa./Eu sou Aninha.”. Sorry, não posso deixar de fazer essa relação.

ORAÇÃO DO MILHO


Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos
e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e, se me ajudardes, Senhor,
mesmo planta de acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo,
de mim não se faz o pão alvo universal.
O justo não me consagrou Pão de Vida
nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial
dos que trabalham a terra,
alimento de rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
coroados de rosas e de espigas,
e os hebreus iam em longas caravanas
buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
quando Rute respigava cantando nas searas de Booz
e Jesus abençoava os trigais maduros,
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo
na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proprietário, sou a polenta
do imigrante e a amiga dos que começam a vida
em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga,
o que me planta não levanta comércio,
nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa
e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos
na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras
à volta dos ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós,
Senhor,
que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho!


Bem, por enquanto vou ficando por aqui. Espero que gostem.
Beijos a todos.


Blogagem coletiva proposta pelas amigas:
Lu, do Blog  "Lichia Doce"
Glorinha do Blog "Café com Bolo"

quarta-feira, março 09, 2011

A PROPÓSITO...

Olá terráqueos!
Fiquei sabendo que hoje é quarta-feira de cinzas e começa o ano por aí.
Feliz 2011!!!

- o -

Gosto muito desse discurso -- bem antiguinho -- do publicitário Nizan Guanaes, como paraninfo de uma turma de formandos em Administração de Empresas na Bahia, parece que foi em 2003, não sei bem. É um texto longo, mas vale cada palavra. (Ele ainda segue falando, mas não coloquei porque são questões pontuais dirigidas diretamente aos afilhados).

Enjoy.
"Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma.

A propósito disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo. E ela responde: Eu também não, meu filho".

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.

Meu segundo conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem, como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassú. Que era ficção, mas hoje é realidade(...)

Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito.

É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido.

Tendo consciência de que, cada homem foi feito, para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar (...)"

Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios.

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta. Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho.

Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão.

E isso se chama sucesso.
(...)

Espero que gostem.
Beijos a todos.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

BLOGAGEM COLETIVA - MEU PERSONAGEM FAVORITO DE LIVRO

Olá!

Qual o meu personagem favorito de livro? Ixi, é complicado. Gosto de tantos que nomear apenas um, me dá uma sensação de injustiça... , mas enfim, faz parte da blogagem*. Ah, antes que eu esqueça, esse post é programado pra sexta-feira, dia 25.02.2011, às 08h. Tomara que o Blogger colabore.

Parece mentira, mas é a primeira vez na vida que respondo essa pergunta. Sempre perguntei, sempre tive curiosidade de saber as preferências dos amigos, saber mais sobre eles, mas eu mesma, nunca havia respondido, nunca havia parado pra pensar. Pra mim então, essa resposta é como se fosse uma experiência cool, um tipo diferente de exposição, mais incisiva, intimista.

Pensando bem, se eu tivesse que listar os personagens que marcaram minha vida, certamente ela estaria lá, ela e o respectivo livro, encabeçando a lista. Aliás, falando um pouquinho no livro, nem sei como descrever direito o que sinto, mas até parece que sou abduzida pra dentro dele, cada vez que o leio. Verdade. A personagem? Avemaria, ela é mega incrível! Gosto demais. Além de vir muito bem contextualizada no livro, suas características são pra lá de marcantes, o que, a meu ver, faz toda a diferença e corrobora pra torná-la uma personagem fora do comum. Seu nome: Clara. O Livro? "A Casa dos Espíritos" de Isabel Allende. Ano passado fiz uma postagem a respeito e acho sinceramente que, se você ainda não conhece a Clara, vale a pena dar um clique e ir lá conhecê-la. Aposto que você vai se amarrar na prévia que fiz sobre seus encantos e a mágica história que a envolve. A bem da verdade, cada uma das personagens do livro é mais encantadora que a outra.

Ai meu Deus, como eu estava dizendo, me dá uma sensação de injustiça...

Beijos.

*Blogagem coletiva proposta por Alessandro, do Blog Livros e Afins.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

DE HERODES A PILATOS

Olá todo mundo!

Acha que ando esquecendo você? Não mesmo. Saiba que você faz parte da minha realidade existencial, de minhas elucubrações. Ando meio ausente da blogosfera por outros motivos. Não tenho postado e nem visitado os blogs com a regularidade a que me propus. Mas que culpa tenho eu, se, quando posso, a internet não ajuda? Se ela simplesmente sai do ar sem avisar? Gente, estou em crise. Crise de internet. É sério, help. Ando roxa de vontade de voltar à normalidade, de blogar simplesmente. Ah, e pensar que há pouco tempo a internet funcionava por aqui... não era uma brastemp, mas era tão bom... ixi, e ainda assim eu reclamava. Nossa, eu era feliz e não sabia, rsrs! (Até parece a historinha do bode, lembra? rsrs)

Internet, porque me abandonaste?

Fico boba pois a única coisa a fazer pra minha internet dar as caras é direcionar a antena. Yes, apenas direcionar uma antena. Nada que um simples aparelhinho não seja capaz de fazer. É só dar as coordenadas e pronto. Já vi fazerem isso, é rapidinho. Mas essa nova antena parece ter outra tecnologia, outras demandas. E é aí que mora o perigo. Já andamos de Herodes a Pilatos, e ninguém entende do riscado, acho. Quando aparece alguém aparentando uma certa competência, esse alguém se compromete e some. Pois é, e depois os arautos alardeiam sobre o desemprego. O que falta mesmo é conhecimento e responsabilidade.

Easy madame, easy. Rsrs.

Direcionar uma antena, uma simples anteninha. Por Deus, quem saberá? Haverá alguém no mundo, capaz de levar a cabo essa façanha? Alguém que consiga desvendar os mistérios e segredos recônditos das antenas? Sim, elas devem ter muitos segredos. Santo Cristo, quem entende as antenas?

Puxa vida, que papo esclerosado esse sobre antenas, não é? Uma viagem. Ok, chega de alugar tua orelha, vou dar o fora. Sigo procurando, desistir jamais, um dia encontraremos a solução. O que não posso e nem quero é finalizar esse post sem agradecer a você, sua paciência, sua compreensão, suas visitas e comentários. Não fora tanto incentivo e a essas alturas eu teria jogado a toalha, com certeza. Mas sei que você está aí, e isso não tem preço. Obrigada. De todo o coração. Você é insubstituível. Fique comigo, voltaremos a interagir, tenho certeza, tudo vai dar certo.

Uau. Meu marido me disse agora, que enxergou uma luz no túnel, ufa, ainda bem. Deus te proteja, amore!! Agarre a luz, amore!! Traga a internet, amore!! Rsrs.

Beijos a todos.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

BLOGAGEM COLETIVA - PORQUE EU GOSTO DE LER LIVROS

Olá todo mundo!

A respeito de ler, já andei falando alguma coisa por aqui. Falei sobre meu despertar para a leitura, "... tenho a impressão que nasci assim, gostando, querendo ler. Mas, racionalmente, sei que esse gostar não floresce do nada". E hoje pretendo retomar um pouquinho mais esse tema. Mas penso que, pra não fugir da proposta da Blogagem *, inicialmente devo concentrar-me na leitura dos livros. 




Livros? Adoro-os. Os livros impressos têm sido meus companheiros pela vida afora, somos íntimos, dividimos o mesmo quarto, tenho com eles uma ligação visceral. E sempre terei. Sei disso.

Mas de uns tempos para cá, talvez devido à idade (ai, ai, que fazer?, rsrs) ando apreciando demais os livros eletrônicos. Tenho-os guardados no lap, disponíveis a qualquer hora, a meu bel prazer, e aonde quer que eu esteja, pois viajo bastante a trabalho. Confesso, logo que conheci os tais e-books, não me empolguei muito pois havia em mim uma sensação clara de que, fosse qual fosse a autoria e o título do livro, não iria emplacar. Faltava algo, aquela sensação tátil, visual e olfativa que só os livros impressos têm. Mas como detesto preconceitos, fui ver de perto. E não é que gostei? Yes!! O livro eletrônico me ganhou em definitivo. Sigo lendo os impressos, mas um pouco menos, óbvio. Também não sou daquelas de ler tudo o que me cai nas mãos. Para mim, a leitura é um prazer, por isso tenho critérios, já postei a respeito. Também não tenho mais tanto tempo assim. A vida passa e tenho muitos projetos a por em prática. Mas acho importante deixar registrado aqui, que, a propósito das diferenças entre livro impresso e eletrônico, defendo que um não obscurece o outro, que há espaço para os dois. Cada um na sua hora. Acho que o e-book é uma tendência irreversível, mas isso não significará o fim do livro impresso, cujo encanto, praticidade e caráter lúdico é indiscutível.

O importante mesmo é que a gente consiga validar nossa leitura. E aqui, algo que considero crucial: nada de ler somente por obrigação, é ruim, não vale a pena. Concordo com as afirmações de Pennac, para mim também, a condição vital para que se dê a leitura válida é ela ser prazerosa. E para isso temos que fazer valer o nosso direito de leitor: o desejo. De ler, de escolher o que quer ler, de reler, de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, de não ler. “... o verbo ler não suporta o imperativo” - "Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado.". (Daniel Pennac. 1996. Como Um Romance).

Enfim, por enquanto era isso.

* Blogagem coletiva proposta por Alessandro Martins, do blog Livros e Afins:

Beijos a todos.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

COMER VERSUS COZINHAR


Comer é uma das melhores coisas do mundo. Cozinhar também. Comer e cozinhar. Eu acho. Mas se você pensa que comer é só encher a barriga e matar a fome, está muito enganada, comer é muito mais do que isso. Comer sacia o corpo e alegra o coração, e não é sem razão que comer tem várias conotações, rsrs. Mas cozinhar... vou confessar pra você: saber cozinhar era tudo o que eu queria, saber fazer comida mesmo. Para mim comida é alquimia, é feitiçaria, pura mandinga, é canjerê. E cozinhar é um ato individual e ousado de amar, pois na panela a gente coloca vida ou morte, tempero ou veneno, ternura ou ódio. Tenho inveja daquele pessoal que vive pela cozinha fazendo comidinhas, certamente eles têm cruza com magos, duendes, feiticeiros, bruxas e fadas... sei lá. Você já se deu conta que depois de comer ninguém permanece mais a mesma pessoa? É sim. Acontece uma mágica. A gente muda, pensa diferente, sonha colorido. Tá bom, às vezes não, o tiro sai pela culatra e a gente acaba ficando down... tudo vai depender do contexto, mas uma coisa é certa, quem come fica enfeitiçado na mesma hora. Por isso, acho que comer é uma glória, mas saber cozinhar é uma benção!






Quando vi pela primeira vez o filme "A Festa de Babette", simplesmente me achei. 

A história acontece no final do século XIX, num vilarejo na Dinamarca e o filme confirma que a alimentação não pertence apenas ao registro da necessidade humana. E vai fundo nessa reflexão. A começar pela personagem principal, Babette: uma artista que conhece os segredos de produzir alegria pela comida e que sabe tudo sobre a tal mágica a que me referi. E tenho quase certeza de que aqueles moradores rudes da aldeia, também desconfiavam disso, se não, por qual motivo eles estariam com tanto medo de comer o banquete que Babette lhes preparara? Era tão estreita a visão daquelas pessoas, -- acostumadas desde sempre a sacrificar paixões e desejos em nome da fé e da obrigação --, que todos tinham 'certeza' que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. Daí o medo gigantesco e o propósito que fizeram de comer de bico calado, sem qualquer manifestação, -- sem sentir o gosto --, afinal eles estariam expostos aos prazeres terrenos da gula. Eles acreditavam que Babette, com aquele jantar, colocaria suas almas a perder e que eles não iriam para o céu. Sim, era isso que pensavam, enterrados naquele fim-de-mundo e atormentados por proibições religiosas, limites de pensamento e hipocrisia. Mas, se por um lado eles erraram, (e erraram mesmo), por outro estavam absolutamente certos. Era feitiçaria sim. E da boa, de outro tipo. Não do tipo que eles imaginavam. Dá só uma olhadinha no tamanho do feitiço: começando pela mesa, convidativa, requintada. Toalha, louça, talheres, cristais, tudo perfeito, nos mínimos detalhes. Você sabe, a gente come também com os olhos. Agora o menu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, e vinhos maravilhosos, deusdocéu! Tudo a ver com Adão e Eva, a maçã e o fruto proibido. A câmera vai focando o rosto de um a um dos comensais e a gente pode observar o prazer abrandando os sentimentos... transformando pensamentos. O paladar amenizando as aflições da vida e o riso embelezando os rostos enrugados e endurecidos. E as máscaras caindo... -- óbvio, o pecado da gula arrasta outros, tais como o orgulho e a inveja --. 

Mais tarde na rua, saindo do banquete, eles fizeram um grande círculo e todos de mãos dadas cantaram feito crianças... encantados. Felizes. Eram outras pessoas. Olhando para a noite e para a lua pareceu-lhes que a manhã seguinte seria diferente dos outros dias e das outras noites. Foi quase como se o tempo adquirisse outra intensidade.

Em tempo: comilanças à parte, o filme "A Festa de Babete" é na essência, uma alegoria que espelha a gravidade da contradição histórica vivida pelo ser humano. O "jantar francês" de Babette é o espaço onde ela reconstrói seu próprio passado e ressuscita para a vida. Preparando o jantar ela narra sua história e recupera seus referenciais e, jantando, os convidados constroem a narrativa da história de vida de cada um. E assim, recuperando-se o passado, outro futuro se desenha.

Marli Soares Borges

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

DA SÉRIE: SORRIA MEU BEM!

Olá, todo mundo!



Ok, não precisa ler, pode passar adiante, não me importo, tô na maior preguiça mental da face da terra. Preguicite aguda, caso sério. Mas você sabe, sou do bem e faço tudo pra não deixar você na mão. Por isso, apesar da preguiça, fui vasculhar meu baú e achei por lá umas piadinhas legais. Infames? Tá bom, tá bom. Retiro o legais. Puxa vida, pra quê me fritar? Quem mandou ler primeiro as piadas? Você não leva a sério minhas boas intenções? Caramba, eu só queria tirar você do sério. Tsc, tsc.

Cuidado com o stress!  Mais vale chegar atrasado neste mundo do que adiantado no outro.

Você está cansado de todos aqueles e-mails melosos, com poemas chatos sobre amizade? Hummm... Aqui está um poema que realmente expressa a amizade verdadeira.
AMIGO é aquele(a) que

Quando você está triste...
Te ajuda a planejar uma vingança contra o f.d.p. que te deixou assim.

Quando você está em desespero...
Enfia o dedo na sua goela e te faz por pra fora tudo o que estiver te engasgando.

Quando você está confuso...
Explica pra você com palavras bem simples porque sabe o quanto você é devagar.

Quando você sorri...
Já sabe que você deu uns pega em alguém ou em alguma coisa.

Um amigo de verdade não é aquele que aparta uma briga sua, mas sim aquele que chega dando uma voadora e nocauteia duma vez o adversário.

Bicho infeliz o homem...
tem peitos sem leite,
ovos sem casca,
passarinho sem asa,
e o pior de tudo:
saco sem dinheiro!
Beijos.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

ASSISTE RAZÃO À RAZÃO?

Olá todo mundo.

Estou postando hoje um trechinho de um texto intitulado "Deus e o Estado" de Mikhail Bakunin, (séc XIX). Como eu sei que, principalmente por ser grande no intelecto, ele teve inimigos declarados, achei que seria uma boa ideia reproduzir aqui pra você ler, algumas coisas que ele andou escrevendo e que causaram polêmica. Mikhail escreveu inúmeras frases fortes. Veja só essa: “... é no interesse da saúde de nosso próprio espírito que devemos nos esforçar para compreender a gênese histórica, a sucessão das causas que desenvolveram e produziram a idéia de Deus na consciência dos homens. De nada adianta nos dizermos e nos considerarmos ateus; enquanto não tivermos compreendido essas causas,..."

Para acessar o original (traduzido, é claro) direto da fonte, clique aqui. Você vai ver, o texto é bem longo, mas não é difícil de ler, nem é chato não. Ao contrário, é instigante, sagaz e reflexivo.

Bom, chega de conversa mole, com você, Mikhail Bakunin.

" É próprio do privilégio e de toda posição privilegiada matar o espírito e o coração dos homens. O homem privilegiado, seja política, seja economicamente, é um homem depravado de espírito e de coração. Eis uma lei social que não admite nenhuma exceção e que se aplica tanto a nações inteiras quanto às classes, companhias e indivíduos.

(...)

Decorre daí que rejeito toda autoridade? Longe de mim este pensamento. Quando se trata de botas, apelo para a autoridade dos sapateiros; se se trata de uma casa, de um canal ou de uma ferrovia, consulto a do arquiteto ou a do engenheiro. Por tal ciência especial, dirijo-me a este ou àquele cientista. Mas não deixo que me imponham nem o sapateiro, nem o arquiteto, nem o cientista. Eu os aceito livremente e com todo o respeito que me merecem sua inteligência, seu caráter, seu saber, reservando todavia meu direito incontestável de crítica e de controle. Não me contento em consultar uma única autoridade especialista, consulto várias; comparo suas opiniões, e escolho aquela que me parece a mais justa.

(...)

Se me inclino diante da autoridade dos especialistas, e se me declaro pronto a segui-la, numa certa medida e durante todo o tempo que isso me pareça necessário, suas indicações e mesmo sua direção, é porque esta autoridade não me é imposta por ninguém, nem pelos homens, nem por Deus. De outra forma as rejeitaria com horror, e mandaria ao diabo seus conselhos, sua direção e seus serviços, certo de que eles me fariam pagar, pela perda de minha liberdade e de minha dignidade, as migalhas de verdade, envoltas em muitas mentiras que poderiam me dar. Inclino-me diante da autoridade dos homens especiais porque ela me é imposta por minha própria razão."

Beijos a todos.