Li uma reportagem sobre as mentiras que os pais contam aos filhos. Em síntese: o que pode e o que não pode mentir. Fiquei pensando, pensando e registrei aqui algumas impressões. Confesso que para mim, que sou de outro tempo, algumas coisas a gente mentia mesmo e pronto. Ninguém ficava com crises de consciência, nem inquietudes, sabíamos muito bem o motivo daquelas mentiras.
Acontece que os tempos mudaram, e nesses "tempos bicudos", como diria Quintana, para o lado que a gente se vira, encontra um manual teorizando sobre a criação de filhos. Lógico, tudo nos trinques, escrito por profissionais, --geralmente sem filhos--. Nada a ver, eu sei, mas em todo o caso, é um dado que julgo oportuno referir. Ah, ia me esquecendo..., e tem ainda as leis, com suas hermenêuticas.
E o que sobra para os pais, nessa avalanche de teorias e normatizações? Sobra, que eles vêm há bastante tempo sentindo-se inseguros e desautorizados em suas atitudes pedagógicas, --sentimento que, aliás, considero absolutamente normal--, levando-se em consideração que, profissional e legalmente, aquilo que hoje é certo, amanhã pode não ser. Nesse compasso, concluo que os pais perderam o norte e deixaram a peteca cair. E os valores caíram juntos, abraçadinhos. Yes! E e o que temos agora? Uma pizza gigante com váaarios sabores: falta de respeito, violência, grosserias gratuitas, adolescência quase eterna, egoísmo, superficialidade, traição. Tudo de pernas para o ar! Uma juventude enfraquecida, com o pensamento truncado, facilmente manipulável. Em futuro próximo uma nação ideal, para propósitos nem sempre ideais, a gente sabe. Óbvio, pais inseguros, sem autoridade, formando cidadãos, queria o quê.
Easy.
Nem tudo está perdido. Tô postando essa reportagem aí embaixo, (um trecho) pra você dar uma olhadinha. Claro gente, é uma reportagem ultrasuperficial, mas é um começo. Pelo que tenho lido atualmente, parece que os profissionais estão revendo suas posições. Anote aí, agora os pais já podem mentir um pouquinho para os filhos! Rsrs. (Ops, não ria, madame, o caso é sério!)
Bom, agora deixo você na companhia dos profissionais. Mas já vou avisando que não concordo com tudo o que está dito. Concordo apenas em parte.
Eis as perguntas que os anjinhos fazem e as respostas que os pais podem dar:
Pai, alguma vez tomaste drogas?
“Se a minha filha me perguntasse se já fumei um charro, eu dizia que não.” A psicóloga Annie Romantini não tem dúvidas: este é um dos poucos casos em que os pais podem mentir com todos os dentes sem se sentirem mal por causa disso. É importante manter o respeito, para mais tarde poderem dizer: “Isto é errado, não podes fazê-lo.”
Porque é que agora nunca vais trabalhar?
As crianças têm uma grande capacidade intuitiva e percebem quando os pais não estão bem. Mas preocupá-las com coisas que não são para a sua idade pode assustá-las e tirar-lhes a tranquilidade. No caso de uma situação temporária, os pais devem esconder a verdade e dar a ideia de que está tudo bem.
Se tu e o pai são amigos, porque nunca saem juntos?
A resposta é simples: “Eu e o teu pai adoramos-te, queremos o melhor para ti.” Os pais devem fazer os filhos entender que podem não ser os melhores amigos, mas que se respeitam e que o conceito de amizade dos adultos é diferente do das crianças, reforça Mário Cordeiro.
Ouvi a mãe dizer que não temos dinheiro para pagar a casa. É verdade?
“A omissão é positiva”, afirma a pedopsiquiatra Isadora Pereira. Os problemas financeiros são do mundo dos adultos e os filhos não devem nem precisam de saber de todos os problemas dos pais. “Temos dinheiro para te dar tudo aquilo de que precisas"é uma resposta possível.
Na escola tiravas muitas negativas?
Poucos pais foram alunos perfeitos, mas quase todos gostariam que os filhos o fossem. A solução não é mentir, mas adoçar a verdade ou contornar a pergunta: “Não importa se tirei ou não negativas. Isso não te dá o direito de as tirar também.” Outra hipótese: “Que diferença é que isso faz?”, sugere Annie Romantini.
O tio está no hospital. Vai morrer?
Pode explicar que o tio está doente, sem entrar em pormenores sobre o problema de saúde e contornando a questão da morte: “Todos esperamos que se cure”, por exemplo. “Há que sublinhar que as crianças apenas pretendem resposta para aquilo que perguntam e não mais que isso”, explica o pediatra Mário Cordeiro.
Quantas bebedeiras já apanhaste?
“O meu filho começou a fazer este tipo de perguntas quando passou a ver telenovelas”, conta Adelaide Calvo, mãe do João, de 14 anos. A psicóloga Annie Romantini explica que aqui a mentira é benéfica. Mais uma vez, é importante dar o exemplo. O faz o que eu digo e não o que eu faço raramente resulta.
És tu a fada dos dentes?
Manter algumas “mentirinhas” que todos sabem o que são, mas que correspondem a fantasias infantis, como a Fada dos Dentes e o Pai Natal, é positivo. “Todas as crianças têm o direito de ter fantasias, e isso é bonito e é importante”, afirma Annie Romantini. Até quando? Até descobrirem a verdade por elas próprias.
Fumar é bom?
Apesar dos muitos problemas que pode trazer, por alguma razão tantos fumadores insistem em fazê-lo: sabe bem. O melhor para um pai fumador é reforçar os pontos negativos e evitar que o filho tenha curiosidade de experimentar. Mário Cordeiro aconselha-os a explicar que as pessoas não são perfeitas, mas que talvez um dia, com a ajuda do filho, consigam deixar o vício.
Até mais.
Beijos.