Faz tempo, recebi por email um texto falando sobre a velhice de nossos pais. Segundo entendi, somos intolerantes com nossos pais na velhice, e essa intolerância tem origem no medo que sentimos de também deixarmos de ser lúcidos e joviais.
Quando o envelhecimento faz nossos pais mudarem os hábitos e assumirem atitudes que outrora eles próprios nunca imaginaram que poderiam assumir no avançar da idade, a gente literalmente desmorona. Afinal, ninguém, nem eles que tiveram experiência com seus próprios pais, lembraram-se de nos informar com a seriedade devida, que um dia chegaria a nossa vez de lidar com eles, na velhice deles.
Quando a gente os vê assim, em franca fragilidade senil, é como se nosso próprio futuro ali estivesse, zombando da nossa cara. E o medo se instala dentro de nós, afastando nossa segurança e serenidade, tão necessárias para ajudá-los nessa caminhada. Acho que é por aí.
Agora, uma rápida pincelada sobre a convivência, do ponto de vista prático, do dia-a-dia. Não acho que sejamos tão intolerantes assim, afinal, no tipo de vida que levamos, qualquer comportamento que fuja da rapidez é absolutamente incompatível com os tempos atuais onde tudo o que se faz é na correria. E é aí que o conflito se instala, a gente correndo e os pais envelhecendo e ficando devagar. E além do mais, a velhice dos pais costuma acontecer ao mesmo tempo que entramos na meia-idade, que nossos filhos crescem, que nascem netos e somos chamados a ajudar uns e outros... Complicado não?
Mas por outro lado, isso não significa que aprovo a desídia filial. Penso que nada é mais importante que o dever ético que temos de retribuir o aconchego, o porto seguro, o referencial que os pais sempre foram para nós, desde que nascemos. Penso que agora é a hora do equilíbrio, a Cesar o que é de Cesar, e nossa eventual intolerância, embora aceitável, tem que passar logo, por favor, tem que ser só eventual...
Cobrar o passado, nem pensar! Agora a conversa é outra. Ajudar e cuidar nossos pais na velhice é nosso compromisso intransferível e inadiável, afinal somos humanos e esse é um dos tributos que pagamos pela vida. Quando chega nossa hora de agir não podemos recuar. Já fomos filhos de nossos pais, fomos pais de nossos filhos e agora somos pais de nossos pais e talvez sejamos os únicos referenciais que eles têm no estágio atual de suas existências. É difícil aceitar, mas não estamos aqui a passeio.
Marli Soares Borges