terça-feira, dezembro 10, 2024

ESQUEÇA O PASSADO, mas não esqueça o (meu) presente!

 

Feliz Natal!


- Marli Soares Borges

Tem coisa melhor do que dar e receber presente? 
Tem coisa mais difícil do que escolher o que presentear?

O Natal está na porta, o final do ano também, as festas e trocas de presentes também. Sempre gostei e continuo gostando desse contexto natalino, da revelação do amigo secreto, dos beijos e abraços, dos votos de alegria e esperança. A propósito, abro aqui um parêntese: para mim, essa história de “amigo oculto” é uma bobagem. Onde já se viu amigo oculto? ninguém está escondido, ninguém está oculto. O que fazemos, na brincadeira, é apenas manter em segredo a identidade do amigo, para que esse segredo seja revelado na entrega dos presentes. É tão simples de entender… o amigo é secreto sim! até que sua identidade (mantida em segredo) seja revelada na hora certa. Abandonem essa tolice de amigo oculto, isso é coisa desses arautos do rei que não têm mais o que fazer! Fecho o parêntese.

Já ouvi dizer por aí, que é possível nos conhecermos uns aos outros também pelos presentes que trocamos. Concordo em parte, porque eu, mesmo sabendo o gosto da outra pessoa, sempre me inclino a escolher os presentes levando em consideração o meu gosto pessoal. Aí caio na real, ponho os pés no chão e trato de pensar no gosto pessoal do outro. 

Essa afirmação sobre conhecer uns aos outros pelos presentes, não é bem assim, pois há inúmeras variáveis que alteram esse tal “conhecimento”. E a mais comum tem a ver com grana, por exemplo: muitas vezes gostaríamos de presentear alguém com alguma coisa que apreciamos e "sabemos" que a pessoa irá gostar, mas esbarramos no alto valor do presente. E com dinheiro curto, o que fazer? e lá vamos nós comprar outra coisa! bem longe do que pretendíamos. E o “conhecer-o-outro-pelo-presente" acaba caindo por terra.

Esse assunto é muito complicado, parei por aqui.

No final das contas, o que vale mesmo é o gosto de quem recebe o presente e não o nosso. Esqueça essa falácia de que o mais importante é o gesto de presentear. Não é! Experimente presentear alguém com uma camisa branca se o que a pessoa queria era uma camiseta preta. O seu presente já era. Bom mesmo se conseguíssemos dar o presente certo para a pessoa certa! Mas isso é um ideal e estamos lidando com situações reais. 

Às vezes é possível “estudar” um pouco a pessoa antes de comprar o presente, mas nada garante que assim você irá acertar e a pessoa vai ficar feliz. Mas nas festas, geralmente as pessoas estão mais boazinhas e mais educadinhas e, se não gostam, pelo menos fingem gostar dos presentes que recebem, (a não ser que seja um presente muito sem noção, mas daí o caso é outro, rs). 

E o que fazer com aquelas pessoas chatas que nada gostam e nada serve? Ah, bom, gente assim, dá vontade de jogar pela janela. E, quer saber, jogo mesmo. Danem-se. Vão ganhar um mini álbum (usado) de fotografias.

Para mim, já vou avisando que ficarei feliz se ganhar umas barras de chocolate meio amargo e uns pacotinhos de papel de origami (japonês ou coreano) de 15 cm. 

Boas compras e vê se me acerta! hahahaha

segunda-feira, novembro 18, 2024

MEMÓRIA PRIMOROSA


Memória Primorosa

- Marli Soares Borges

Nossa! Faz um tempão que eu não aparecia por aqui... mais de ano! Também, aconteceram tantas coisas: viajei, voltei, viajei de novo, voltei de novo, fui pro hospital, voltei, fui de novo, fiz exames, procedimentos, uma doideira só. No meio dessa muvuca, resolvi operar a catarata, que eu já andava cegueta. Quando pensei que estava tudo nos trinques, deu complicação nos meus olhos(!) e devido a minhas comorbidades, o tratamento foi super demorado. Mas mesmo assim fui passear, viajei bastante, voltei, viajei, voltei e, no final das contas acabei ficando só no celular, (face e insta) que, naquele momento era mais fácil para mim. Levei mais de seis meses para recuperar a acuidade visual, mas graças a Deus agora estou enxergando bem. Peraí que tem mais: a não bastar tudo isso, em plena enchente, um frio dos infernos, chuva que não acabava mais, na manhã do feriado (dia do trabalho), fui levantar do sofá e... pisei mal e... quebrei o pé! Ah, Tenha paciência, ninguém merece! E lá estava eu, de pernas para o ar, sem poder caminhar! (Ops, até rimou. A gente passa cada uma!) Ah, quer saber? Faz de conta que isso aí que eu falei é coisa da minha cabeça. Faz de conta que é pura invencionice. Mas quer saber mais ainda? apesar dessa desgraceira toda, a Menina dos meus olhos continua a mesma, toda faceira. Ela tem certeza que o tempo não passou, e vai anunciando sorridente: o tempo está bem aqui ó, está nos detalhes do passado, basta ver o cheiro, o gosto, o calor, o ritmo dos momentos e das situações vividas! Tá bom, Menina, mas por que não vejo onde coloquei o colírio que usei há pouco? Qual o nome do filme que assisti ontem? Porque o copo especial do Nilton beber cerveja escondeu-se de nós?

Ah, deixa pra lá, bom mesmo é rever meus amigos e matar a saudade.

E que Freud não me venha com essa de “instinto assassino de matar saudade”. Ué.

sexta-feira, setembro 15, 2023

CICLONE NO RIO GRANDE DO SUL


Ciclone causa inundações no Rio Grande do Sul
Ciclone no Rio Grande do Sul

Cidades inteiras desapareceram
Ciclone no Rio Grande do Sul

Incontáveis prejuízos
Ciclone no Rio Grande do Sul


Mais de 29 mil animais morreram
Ciclone no Rio Grande do Sul

Mais de 29 mil animais morreram
Ciclone no Rio Grande do Sul

Mais de 29 mil animais morreram
Ciclone no Rio Grande do Sul

Mais de 29 mil animais morreram
Ciclone no Rio Grande do Sul

                - Marli Soares Borges


Sem palavras para dizer da situação desesperadora que as vítimas (pessoas e animais) estão sofrendo em consequência das inundações provocadas pelo ciclone avassalador que passou no Rio Grande do Sul, na semana passada.

O ciclone levou tudo por diante e deixou um rastro de destruição nas cidades gaúchas. Até agora há mais de quarenta mortos e outros tantos desaparecidos; quase mil feridos e milhares de desabrigados. Mais de 29 mil animais morreram, e os prejuízos já passam de 1 bilhão de reais. Que horror! Cidades inteiras desapareceram tragadas pelas águas. As vítimas à deriva, na mais absoluta impotência. Mais de 100 cidades foram atingidas. Uma tristeza. 

São muitas as tragédias, muitas vidas devastadas. Gente que perdeu tudo o que havia conseguido com o trabalho de uma vida inteira. Gente que perdeu gente. Gente que perdeu a saúde e a esperança. Gente que tem motivos de sobra para chorar.

Eles choram, eu choro, nós choramos. Somos todos solidários na dor. 

Tempos estranhos esses em que estamos vivendo. Hoje em dia -me parece-, tem acontecido muito mais desastres ambientais, (ditos "naturais") do que no passado e as dimensões são cada vez maiores e mais abrangentes. As tragédias são planetárias, ou seja, estão acontecendo no mundo todo, em vários lugares, e todas quase ao mesmo tempo: enchentes, secas, deslizamentos, lama, queimadas espontâneas, incêndios, chuva ácida, calor insuportável, erupções vulcânicas, derretimento das neves eternas. E por aí vai. Sem falar nas novas doenças que estão surgindo e, como se não bastasse, há também as doenças erradicadas que estão voltando à atividade. E a poluição agigantando-se, em crescimento exponencial. Imagine o que poderá acontecer em futuro próximo. Os cientistas já vem avisando há bastante tempo que a continuar esse desatino ambiental manejado pelo homem, o futuro do planeta será assustador. Que me desculpem os entendidos, mas, assustador já está sendo o presente! 

Volto a ligar a TV e lá estão as imagens do inferno, não consigo acreditar, meu Deus, não é possível. Pobre gente, pobre povo, pobre planeta.

Não me entra na cabeça que os jornais sigam apontando a tragédia como apenas um "desastre natural de grandes proporções". Um desastre natural apenas? Discordo. É uma das maiores tragédias climáticas de que se tem notícias aqui no Estado e penso que essa desgraceira toda não têm nada a ver com um desastre natural. É, antes de tudo, uma consequência das ações humanas, das milhares de agressões praticadas contra a natureza desde muito tempo. Será que estou pensando assim porque não sou expert no assunto? É possível, mas acontece que durante boa parte de minha existência, presenciei inúmeros desastres naturais e lembro muito bem, desde a mais tenra infância, das ventanias, temporais e enchentes que nos atrapalhavam a vida. Ano após ano os desastres naturais aconteciam aqui e ali, mas nunca tive notícias de um acontecimento tão funesto assim no solo riograndense. Nunca vi nada igual! Nada se compara a força de extermínio, a fúria, ao volume de sofrimento e dor causado por esse ciclone! Se isso não foi um "recado" da natureza, não sei dizer mais nada.

Como sempre acontece nas grandes calamidades, as pessoas logo se unem e se mobilizam a fim de prestarem socorro emergencial. É comovente a rede de solidariedade e amor ao próximo que impulsiona as ações humanitárias. Essas pessoas, voluntariamente, se dispõem a praticar o Amor em seu significado mais concreto, e de fato, com sua ajuda, amenizam as necessidades imediatas e inadiáveis das vítimas do ciclone: a fome, o frio e a sede. Um alento no meio de tanta dor. Deus abençoe as almas generosas que prestam essa incomensurável ajuda.

Mas, pensando bem, quem realmente ajuda? Pelo que se observa, a maior parcela de ajuda vem dos que trabalham duro para, com seus impostos, sustentarem a pátria amada. Os grandes líderes, os maiores responsáveis pelo desequilíbrio ambiental, não têm a menor consciência planetária. São egoístas, vivem em suas bolhas poluindo o mundo, explorando o próximo, viajando e aproveitando a vida. A vida é bela para eles, nada lhes falta, têm tudo o que necessitam. Veja-se, por exemplo, aqui no Brasil. Somos informados diariamente pela TV, da gastança do Presidente Lula, em viagens e hotéis de luxo, 'torrando' nosso dinheiro como se não houvesse amanhã. Truculento, insensato e obscuro, ele só pensa em aumentar impostos, dinheiro fácil para encher sua burra e a de seus asseclas. As vítimas do ciclone? Que ciclone? Que vítimas? Onde? Quem quer saber?  

A propósito, nos Estados Unidos passou um furacão e não houve mortes. Lá, os moradores foram orientados, preventivamente, a deixarem suas casas. E aqui… tantas mortes. Então eu pergunto, não havia como prever a passagem do ciclone? não havia como prevenir as pessoas, (ou pelo menos tentar)?

Não me olhe assim, minhas dúvidas são reais.

Em tempo: o presidente da república liberou o FGTS das vítimas. Nem vou falar sobre isso, porque piada tem hora e estamos todos muito abalados.

(Imagens Google)

sábado, abril 01, 2023

O PACOTE COMPLETO

 

DO PACOTE COMPLETO
O pacote completo

            - Marli Soares Borges


De uns tempos para cá, eu tenho andado muito saudosa. Me bate uma saudade daqueles tempos, daquela certeza perfeita e nítida que conduzia meus passos de menina. Saudade dos adultos que me amparavam, minha gente, meus referenciais de vida. 

Saudade dos castelos de areia que eu construía no quintal quando a chuva passava. Ah! os meus castelos de areia... fecho os olhos e aqui estão eles, tão reais que quase consigo tocá-los. Saudade dos meus sonhos coloridos, das minhas crenças infantis. Eu acreditava com todas as forças que, na minha família, ninguém nunca iria envelhecer... e muito menos morrer(!). Seríamos eternos e intactos, -- como nas fotografias. Eu cresceria e todos os meus afetos permaneceriam para sempre comigo, exatamente assim como eu os estava vendo, joviais, saudáveis e fortes, heróis e heroínas da minha vida, meus alicerces, meu porto (sempre) seguro.

Mas deu tudo errado. Saiu tudo ao contrário. 

Não deu certo o sonho do "para sempre" : meus avós maternos (que me criaram desde que nasci), ficaram bem velhinhos e foram os primeiros a fazerem, cada um, a travessia solitária do rio. Tempos depois foi a vez dos meus pais completarem seu limite existencial. Meus poucos tios mais chegados, também já partiram. Não sobrou ninguém daqueles tempos ditosos. E eu, que sempre fui amante da vida, estou aqui agora, perplexa diante da velhice. Impossível conter a passagem do tempo sobre o corpo, os riscos e as perdas, da saúde, principalmente, e me parece que a doença adora se mancomunar com a velhice para, juntas, enfiarem a gente numa enrascada: enquanto a velhice "anda" e se mete nas minhas coisas, a doença se encarrega de fazer o meu tempo encurtar.  

E sinto saudade de tudo o que já vivi e, acredite(!), até do que ainda estou vivendo: de tudo o que gosto e do que não gosto, de tudo o que me cerca, do pacote completo, de todos os meus amores: marido, filhos, netos e o meu gatinho gordinho, meu "Donguinho", querido e mimoso do meu coração! Sei que o adoecimento do meu corpo já foi inscrito no horizonte da temporalidade e está, aos poucos, me remetendo às fronteiras da vida. Mas, se por um lado, os prognósticos podem me causar inquietude, por outro, podem ressignificar minha existência. Hora de repensar a vida, ver prioridades, rever atitudes, dar importância ao que realmente tem, olhar e ver o que realmente importa. Acredito que o redimensionamento de perspectivas além de ajudar-me nas vicissitudes é capaz de expandir as manifestações do espírito criativo que habita em mim.

E eis que me bate outro tipo de saudade: saudade do futuro. Do futuro? Como assim? Tá bom, saudade não seria bem o termo, sei lá, mas às vezes penso nos dias futuros com uma certa mágoa... talvez uma pontinha de inveja de uma história que ainda não foi e nem sei como será. Inveja dos dias que não poderei ver nem sequer em sonhos; situações que jamais conhecerei, aventuras que jamais experimentarei, bebês que jamais abraçarei. 

Nossa! que desatino. Tomara que passe logo essa nuvem de opacidade, sei que vai passar. Pronto! Passou. Passou. Voltei. Eu sempre volto quando a nuvem passa 🙌 – até que venha a próxima. Não me olhe assim, eu sou normal, rs, de vez em quando, eu também surto. 😳

terça-feira, outubro 11, 2022

ABRAÇANDO AS CRIANÇAS


Dia da criança
Brincadeira de Criança - Arte Naif


- Marli Soares Borges


Muito se falou e se falará sobre a falta de limites da pirralhada, o pode-tudo, o nível de solidão e a baixa autoestima que as atitudes displicentes dos pais plantam no coração das crianças. Mas hoje não quero falar nisso. Amanhã será o Dia da Criança e não quero falar das mazelas que roubam descaradamente a infância de nossas crianças. 


Hoje eu quero abraçar.


Quero abraçar todas as crianças e dizer-lhes que sejam confiantes, que a vida no aqui e agora, nesse mundo onde a gente vive, não é tão ruim como os adultos andam dizendo. Não levem à sério essa amargura dos adultos, isso passa, amanhã eles estarão sorrindo novamente. 

Também quero dizer-lhes que sonhem, brinquem, aproveitem essa idade do bem-bom. Mas por favor, não deixem de estudar pois o tempo passa e sem estudo vocês não chegarão a lugar nenhum. Sem estudo não tem sonho que resista. Sem estudo vocês não aprenderão a pensar. E cairão como patinhos na conversa mole de qualquer um. E serão adultos burros, obtusos e ultrapassados. E amargos.

Estudem e se esforcem para trabalhar naquilo que gostam. Isso facilita muito a vida, vocês nem imaginam! Assim, ganhando seu próprio dinheiro vocês terão maiores chances de alcançarem aquilo que andam sonhando. E o melhor de tudo é que, bem cedinho, serão donos(as) de seus próprios narizes! Já imaginaram que bacana, ninguém se metendo e mandando isso e aquilo?

E vocês serão úteis a vocês próprios e à sociedade, pois se ninguém lhes disse, eu vou dizer-lhes: vocês têm que pensar uns nos outros, sim! pois vocês não são ilhas. Vocês não são ilhas! Vocês são um continente! Um grande continente, ouviram? E tratem de ser um continente que sorri! A vida é boa e vocês estão aí, vivinhos da silva, com uma longa estrada pela frente. Aproveitem que o tempo passa voando. 

Feliz Dia da Criança! Um abraço bem apertado e um beijo em cada uma.

sexta-feira, fevereiro 11, 2022

Fractais da Natureza




Conjecturas
Fractais da natureza



Marli Soares Borges 

Nesses tempos aziagos em que as aparências pretendem dar sentido à vida, poetizar as pequenas coisas pode ser o remédio que alivia a dor da caminhada. A conclusão que chego é que só a poesia nos salvará. Pois bem, então vou pegar minha tábua de salvação e tentar...


CONJECTURAS


Não sou.
Estou em estado
universal,
planetário,
fractal
e
orgânico.
Viajo em conexões transitórias
na engrenagem cósmica
da vida. 


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terça-feira, fevereiro 01, 2022

PREGUIÇA PRA QUE TE QUERO


Preguiça pra que te quero
Juvenal Antunes - O poeta de bronze do Acre

Preguiça pra que te quero
Homenagem ao poeta Juvenal Antunes


Marli Soares Borges -


Literalmente, hoje estou com preguiça nível hard. Slow, zero por hora. Estou com a mãe das preguiças! Mas não pensem que estou triste. Que nada, afinal, a "preguiça amamenta muita virtude", não é mesmo? rsrssssss. A propósito, você conhece o autor da frase? Tá vendo esse respeitável senhor aí, todo engravatado? pois é ele: Juvenal Antunes, o poeta de bronze do Acre. Ele foi homenageado com uma estátua de bronze.

Na foto ele aparece todo paramentado de terno e gravata. Mas isso é só pra enganar a torcida, afinal de contas, ele era um Promotor de Justiça e precisava ser e parecer. Pura verdade. 

Nascido no Ceará, ele foi para o Acre ser Promotor, mas o negócio dele era mesmo a boemia. Nos apontamentos que encontrei a seu respeito, consta que ele vivia metido num robe, feliz da vida, na porta do hotel Madrid, onde morava, em Rio Branco. Que era um boêmio inveterado, sempre bebendo cerveja, fazendo versos e proclamando seu amor à Laura, uma mulher casada. E dizem as más línguas, que ele não abandonava o hotel nem pra receber o ordenado. O ordenado é que vinha até ele por exercícios findos! Já pensou?!

Aqui está, pra vocês se deliciarem, o poema que deu a ele a fama definitiva.


ELOGIO DA PREGUIÇA


Bendita sejas tu, Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!

Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.

Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.

Lá esta, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.

Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.

Ó sábios , daí à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!

Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em na paz, preparar a luta, a guerra!

Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!

Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.

Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas...

Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro! ...

Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz,

Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!

Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?

Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?

Queres riquezas, glórias e poder? ...
Para que, se amanhã tens de morrer?

Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro,

Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?

Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!

Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!

Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,

E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor...

Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.

Que me não faças mais essa injustiça! ...
Se ontem não fui te ver - foi por preguiça.

Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir... sonhar ...



* Juvenal Antunes nasceu no Ceará-Mirim em 1883 e morreu em 1941, em Manaus. Foi personagem da Mini-série Global "Amazônia", de Gloria Peres.

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sábado, janeiro 08, 2022

CRONÓPIOS E FAMAS


Será que vou pegar a mania de classificar todas as pessoas que conheço?
Histórias de Cronópios e Famas

Marli Soares Borges


Eu tinha cinquenta e poucos anos quando li esse livro pela primeira vez, (alguns anos depois, li de novo) e comecei a tentar descobrir se sou mais Cronópio ou mais Fama. Ainda lembro de alguém, um dia, ter me falado pra eu relaxar um pouco, ser um pouco mais cronópio, rs. O fato é que passei um bom tempo da minha vida me questionando se as decisões e atitudes que eu tomava eram coisa dos cronópios destrambelhados ou dos famas organizados e chatos, sem imaginação.  

E por que estou falando nisso agora? Porque ando com vontade de ler novamente Júlio Cortázar e sempre que penso nele, eu penso nesse livro, e se alguém me perguntasse que livro eu gostaria de ter escrito, responderia sem pestanejar: "Histórias de cronópios e de famas". Que livro sensacional, leitura leve e divertida, recheada de reflexão e (muito) humor nonsense.  

Faz um tempão que li e não lembro mais dos detalhes, (e também não quero pesquisar na internet; quero mais é exercitar minha memória antiguinha, rs). Lembro que eram histórias curtas e que uma delas dava título ao livro. 

A impressão que ficou em mim é que esse livro é muito doido. Na época, ele simplesmente virou meu mundo de cabeça para baixo. Imagina alguém te ensinar coisas banais como subir e descer escadas e até mesmo como chorar. Pois é, isso você encontra no livro. É nítido o desafio às nossas noções de normalidade. Sem falar no amontoado de situações engraçadas onde o absurdo nos ajuda a perceber que a normalidade não passa de uma construção social. Quer ver? pense na conduta que usualmente temos nos velórios. Não precisa falar, todos sabemos como é. Agora imagine uma família cuja principal ocupação consiste em invadir velórios de desconhecidos e conquistar todos os papéis de destaque reservados para os familiares e íntimos do falecido. Tudo muuuito normal, rs. 

E por aí vai.

E tem mais, muito mais; tem uma coleção de absurdos narrados com tanta naturalidade, que parecem coisas absolutamente reais e normais. Cortázar faz uma crítica escancarada e dura ao mundo em que vivemos, à burocracia, ao absurdo de nossas vidas diárias... tem até uma historieta (não sei o nome) onde ele narra um apocalipse causado por escritores que não param de escrever(!) e soterram o mundo com papel! Pode? Lol. (anos, noventa, gastava-se muuuuito papel...).  

E finalmente o conto que dá título e fecha o livro com honra e circunstância: "Histórias de cronópios e famas".  

Cronópios e Famas, junto com as Esperanças formam os três tipos de seres sociais. Em última análise, somos todos nós. Cronópios são os loucos, os sonhadores, sinceros, alegres, desatentos e inocentes que se divertem na simplicidade. Os Famas são burocráticos, racionais, calmos, organizados e metódicos, centralizadores da ordem. E as Esperanças apenas esperam, esperam e esperam o mundo girar trazendo respostas, que nem sempre virão. No geral, são apáticas e inertes, apenas deixam-se levar pelas ocasiões e pelas pessoas. 

Na época, achei - e continuo achando -, que "Histórias de cronópios e de famas" era um livro surrealista, mas que não poderia ser classificado como realismo mágico, pois o realismo mágico estava - e está -  muito bem representado por Garcia Márquez, em que pese a escrita de Cortázar mostrar-se bem mais agressiva na transgressão da realidade. Mas isso não vem ao caso, é apenas minha opinião pessoal e eu não sou especialista no assunto. 

Resumo da ópera: (o que penso agora, sobre o que li outrora, rs) as pequenas narrativas que compõem o livro, são ao mesmo tempo engraçadas e tocantes. Lembro que minha percepção da realidade ia se alterando à medida que eu avançava na leitura, ou seja, eu pensava uma coisa e era outra. Tudo muito bizarro, rs. Enfim, como eu já disse, adorei o livro, tanto que estou afim de ler novamente; mas, pensando bem... e não é que comecei a encasquetar com uma bobagem? será que vou gostar do livro agora? Será que vale a pena ler de novo? tanto tempo passou, tanta coisa mudou, eu própria mudei tanto. Será que nesse amanhecer de 2022, aos 72 anos, vou ler o livro e pegar de novo a mania de classificar todas as pessoas que conheço? Sei lá, é ler de novo para ver.


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