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Escolhendo atitudes |
- Marli Soares Borges -
aqui estou: vivendo, pensando e escrevendo; de repente você me lê e tudo muda para melhor.
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Escolhendo atitudes |
- Marli Soares Borges -
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A poção mágica da felicidade |
- Marli Soares Borges -
Quando adolescente li na escola um livro intitulado "Poemas para Rezar" de autoria de Michel Quoist. Na época não me empolguei, eu estava noutra. Mas veja como são as coisas, pois não é que agora dei de lembrar do tal livro? Lembro da cara do livro, de como ele chegou até mim e do pouco caso que fiz quando minha professora nos convocou para a leitura. Do conteúdo não lembro nada, apenas do título de um poema: “Senhor, Liberta-me de Mim”. Encasquetei com o livro. Parei tudo e fui procurar na internet. E lá está ele. E lá está o poema: uma oração onde o autor, sentindo-se prisioneiro de si mesmo, pede a Deus que o ajude a sair de si, que o liberte da prisão de amar apenas a si próprio. O poema tem outras implicações, nada a ver com o que me fez escrever esse texto. Fixei-me apenas no título e agora sei o porquê: é que sempre desejei voltar-me generosamente para os outros, mas na época não entendia direito com “funcionava” o mandamento do Mestre: “ama teu próximo como a ti mesmo”.
Continuo não entendendo muita coisa, mas aprendi que amar verdadeiramente o próximo não é fácil, é preciso sair de si, libertar-se, ir além do próprio umbigo e abandonar definitivamente a armadilha do egoísmo, que faz aflorar em nós os piores sentimentos e desprezar valores, ideais e princípios verdadeiros. O egoísmo é uma doença instalada nas entranhas da alma. O egoísmo impede a empatia. Para os egoístas, o relativismo parece ser a única atitude à altura dos tempos atuais. Eles fazem milhares de julgamentos usando como critério apenas o “achismo” do próprio eu. Nesse contexto, o certo e o errado passam a ser definidos segundo interesses próprios: o bandido vira vítima; o malandro vira herói; o vício vira virtude e a liberdade vira opressão. A espiritualidade fica relegada à categoria de "ignorância" e o amor ao próximo vira vetor para a indiferença, que é um lugar confortável onde os conceitos de amor e desamor são relativos e dependem do pensamento de cada um. Hoje em dia, entendo que amar o próximo é um sinal de evolução espiritual e material que nos faz falta desde a aurora da terra. É um apelo a cada dia mais necessário e que não se dilui com a passagem do tempo.
Acha difícil? Toque aqui, eu também acho. Às vezes fico pensando que a convivência com a diversidade seria tão boa se não fosse essa tendência infeliz de achar que somos mais merecedores que o outro, melhores que o outro, sabemos mais que o outro, somos os tais. Maldita sensação de superioridade que não nos leva a lugar nenhum. Maldito ego gigante.
“Senhor, liberta-me de mim.”
Penso que é natural em alguns momentos da vida, - sem prejudicar ninguém -, as pessoas agirem pensando apenas em si mesmas. Mas só em alguns momentos, porque, se estamos nesse planeta, certamente temos uma missão -individual- a cumprir e às vezes pode ser necessário agirmos de forma pouco altruísta a fim de fazer valer nossa individualidade e melhor cumprir nosso próprio dever. Mas como falei, só em alguns momentos, porque tudo fica melhor sem egoísmo, a começar pelo nosso discernimento: passaremos a conduzir nossas ações com total liberdade, pois os princípios e critérios serão sempre valores não perecíveis, que não podem ser objeto de negociação. O que é verdadeiro será sempre verdadeiro e o que é falso será sempre falso. E poderemos assumir as virtudes naturais da evolução: a humildade, a compaixão, a generosidade e a empatia. Amar ao próximo é oferecer a sua mão, o seu olhar e a sua atenção. Amor ao próximo é um sentimento pró-ativo, singular, original e especial. É um sentimento libertador que traz à tona a melhor parte de nós.
Quem diria que o título de um poema que vi num livro há mais de cinquenta anos, -- e nem liguei --, seria hoje minha inspiração para escrever esse texto?
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O pacote completo |
- Marli Soares Borges
De uns tempos para cá, eu tenho andado muito saudosa. Me bate uma saudade daqueles tempos, daquela certeza perfeita e nítida que conduzia meus passos de menina. Saudade dos adultos que me amparavam, minha gente, meus referenciais de vida.
Saudade dos castelos de areia que eu construía no quintal quando a chuva passava. Ah! os meus castelos de areia... fecho os olhos e aqui estão eles, tão reais que quase consigo tocá-los. Saudade dos meus sonhos coloridos, das minhas crenças infantis. Eu acreditava com todas as forças que, na minha família, ninguém nunca iria envelhecer... e muito menos morrer(!). Seríamos eternos e intactos, -- como nas fotografias. Eu cresceria e todos os meus afetos permaneceriam para sempre comigo, exatamente assim como eu os estava vendo, joviais, saudáveis e fortes, heróis e heroínas da minha vida, meus alicerces, meu porto (sempre) seguro.
Mas deu tudo errado. Saiu tudo ao contrário.Não deu certo o sonho do "para sempre" : meus avós maternos (que me criaram desde que nasci), ficaram bem velhinhos e foram os primeiros a fazerem, cada um, a travessia solitária do rio. Tempos depois foi a vez dos meus pais completarem seu limite existencial. Meus poucos tios mais chegados, também já partiram. Não sobrou ninguém daqueles tempos ditosos. E eu, que sempre fui amante da vida, estou aqui agora, perplexa diante da velhice. Impossível conter a passagem do tempo sobre o corpo, os riscos e as perdas, da saúde, principalmente, e me parece que a doença adora se mancomunar com a velhice para, juntas, enfiarem a gente numa enrascada: enquanto a velhice "anda" e se mete nas minhas coisas, a doença se encarrega de fazer o meu tempo encurtar.
E sinto saudade de tudo o que já vivi e, acredite(!), até do que ainda estou vivendo: de tudo o que gosto e do que não gosto, de tudo o que me cerca, do pacote completo, de todos os meus amores: marido, filhos, netos e o meu gatinho gordinho, meu "Donguinho", querido e mimoso do meu coração! Sei que o adoecimento do meu corpo já foi inscrito no horizonte da temporalidade e está, aos poucos, me remetendo às fronteiras da vida. Mas, se por um lado, os prognósticos podem me causar inquietude, por outro, podem ressignificar minha existência. Hora de repensar a vida, ver prioridades, rever atitudes, dar importância ao que realmente tem, olhar e ver o que realmente importa. Acredito que o redimensionamento de perspectivas além de ajudar-me nas vicissitudes é capaz de expandir as manifestações do espírito criativo que habita em mim.
E eis que me bate outro tipo de saudade: saudade do futuro. Do futuro? Como assim? Tá bom, saudade não seria bem o termo, sei lá, mas às vezes penso nos dias futuros com uma certa mágoa... talvez uma pontinha de inveja de uma história que ainda não foi e nem sei como será. Inveja dos dias que não poderei ver nem sequer em sonhos; situações que jamais conhecerei, aventuras que jamais experimentarei, bebês que jamais abraçarei.
Nossa! que desatino. Tomara que passe logo essa nuvem de opacidade, sei que vai passar. Pronto! Passou. Passou. Voltei. Eu sempre volto quando a nuvem passa 🙌 – até que venha a próxima. Não me olhe assim, eu sou normal, rs, de vez em quando, eu também surto. 😳
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Nada contra ler e dizer apenas que gostou |
- Marli Soares Borges
Comecei a blogar em 2009. De 2016 em diante, fui parando porque as interações sumiram e o que restou foi apenas um amontoado de superficialidades e buscas por seguidores. Perdi o interesse.
Aí veio a pandemia e o "fique em casa". Resolvi então retomar o blogue, pensei que o tempo transcorrido tivesse trazido evoluções nessa área, mas enganei-me, tudo continua na mesma. No meu caso específico, não tenho do que me queixar. Estou de boas, meus comentaristas sempre leem os posts e demonstram isso muito bem, são gente finíssima, o que muito me alegra. Também sigo nessa vibe, lendo com atenção e comentando. Respeito e valorizo o trabalho de cada um. Gosto de ler e gosto de comentar com pertinência.
Acontece que sou observadora, à Lá Holmes, rsrsss, e adoro ir nos blogues amigos e ler os posts e os comentários, um a um. Leio todos. Para mim, os comentários dizem muito sobre seus autores. E o que vejo? gente espaçosa e oportunista que está interessada apenas em deixar linkado seu perfil para angariar visitas. Esses tipos nem leem o post e vão dizendo e repetindo - em todos os blogues que visitam -, as mesmas imbecilidades: "gostei muito do que li", "bela poesia", "boa semana", "passando para dar um beijinho de saudades", "muito profundo o assunto", "tem post novo no meu blog, te espero lá" etc. Conversinhas abstratas, requentadas, descaradas, sem a menor noção.
Por favor não me entenda mal. Nada contra ler um texto e dizer apenas que gosta, que o texto é lindo, maravilhoso, profundo, etc, às vezes é só isso mesmo que a gente tem pra dizer. Estou me referindo ao que chamo de "comentarista contumaz de imbecilidades", aquela pessoa que sempre diz a mesma coisa em todos os blogues e em todos os textos e, geralmente, no mesmo minuto (até isso observei, rsrsss). Entra no blogue, digita uma meia dúzia de palavras e sai rapidamente. Faz um comentário genérico e lá vai "pintar" outro blogue com a mesma cor! E a gente "vê" que não leu uma linha sequer.
Acho isso uma falta de respeito, uma indelicadeza com quem escreveu o post, uma grosseria atroz. Será que pensam que o dono do blog não percebe que seu post não foi lido? Às vezes me dá até vontade de fazer o mesmo nas postagens desses oportunistas, mas simplesmente não consigo: meus valores não me permitem desrespeitar o trabalho das pessoas. Jamais comentaria um texto ou uma poesia sem ler. Jamais.
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A solidariedade orgânica é um remédio do qual ninguém pode prescindir. |
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Origami "Sunflower" Dobrei com papel Kami de 15 cm |
Era uma vez uma garota que tinha um macaquinho de estimação, lindo, bem cuidado, saudável e cheiroso! Todos admiravam aquele bichinho e não demorou para que começassem a pedir ajuda, que ela cuidasse também dos macaquinhos deles. Ela aceitou o encargo, mesmo sabendo que eram muitos e que talvez não conseguisse cuidar bem de todos. Mas cuidou, cuidou e cuidou. Acontece que não deu conta e cuidou mal dos bichinhos e os resultados foram péssimos. Até o seu próprio macaquinho, antes tão bem cuidado e saudável, acabou adoecendo.
Não conheço ninguém imune ao medo, mas conheço muita gente corajosa que enfrenta o medo.
O medo e a coragem são riquezas existenciais, aprendizagens dinâmicas e significativas que incluem a aceitação de nossos limites e nossa história de vida. Já fraquejei inúmeras vezes, mas também já enfrentei o medo com valentia e coragem. Muitos medos e muitas coragens.
Mas, tem dias que minha coragem pega um cochilo e um medo gigante se instala em mim, o pior de todos, o que não tem remédio. E isso acontece exatamente no momento em que, num descuido, dou asas a pensamentos perturbadores. Aí, a primeira coisa que me vem à cabeça é um pensamento, que, no dizer de Camus, traduz "o desespero maior que todos temos": a certeza de que esse planetinha azul é só uma estação experimental, um lugar onde estou ancorada apenas para cumprir algumas tarefas e depois -compulsoriamente- terei que seguir viagem rumo ao desconhecido.
(O quê? viajar rumo ao desconhecido? Peraí).
Sempre gostei -e continuo gostando- de viajar e conhecer lugares novos, mas nunca viajo sem antes ler sobre o lugar de destino e conferir algumas dicas de viagem. A bem da verdade, "rumos desconhecidos" não me atraem, quero mais é viajar pra lugares bacanas e dar uns gritos de alegria, como o carinha aí dessa imagem que postei.
Analisando friamente, parece bizarra essa viagem rumo ao desconhecido, surreal até. Mas, nada disso! Aqui, tudo é absolutamente real, público e notório. Tão real que, quase sempre, ignoro as entrelinhas e passo batido, pois se começar a pensar, o medo se instala e um arrepio gelado me percorre a espinha. Surtada, começo a pensar num monte de coisas que, hoje em dia, inevitavelmente, culminam nessa situação de angústia mundial que estamos vivendo: ah, meu Deus, quando acabará essa aflição que tomou conta do mundo?
Reconheço que para mim o excesso de realidade é bastante perturbador. Preciso de um oásis para atravessar o deserto. Ainda bem que tenho o meu: minhas artes manuais, -abençoadas artes!- que me fazem adejar aqui e ali e voar com as estrelas! Distraída, nem vejo a coragem chegar, não a vejo, mas sinto-lhe o vigor, que espanta o medo e me fortalece por inteiro. Quer saber o segredo? anote aí: tudo isso é divino. Essas artes, essa coragem e essa disposição que me movem, tudo vem de Deus. É socorro divino, amparo maior, que sempre agradeço, de joelhos!
Parabéns aos viajantes - se é que existem alguns - que conseguem transitar nesse planetinha, sem qualquer temor.
Marli Soares Borges
Desconfio de gente que vive dizendo que sua vida é um livro aberto e que tem orgulho disso. Como se a exibição das vísceras atestasse a honestidade e a integridade de alguém. Prefiro os seres cujos segredos e desejos são revelados nos pequenos gestos, nas ações banais e cotidianas. Nossa condição humana necessita um mínimo de privacidade na vida, até mesmo, para não adoecer mentalmente.
Marli Soares Borges