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sábado, abril 01, 2023

O PACOTE COMPLETO

 

DO PACOTE COMPLETO
O pacote completo

            - Marli Soares Borges


De uns tempos para cá, eu tenho andado muito saudosa. Me bate uma saudade daqueles tempos, daquela certeza perfeita e nítida que conduzia meus passos de menina. Saudade dos adultos que me amparavam, minha gente, meus referenciais de vida. 

Saudade dos castelos de areia que eu construía no quintal quando a chuva passava. Ah! os meus castelos de areia... fecho os olhos e aqui estão eles, tão reais que quase consigo tocá-los. Saudade dos meus sonhos coloridos, das minhas crenças infantis. Eu acreditava com todas as forças que, na minha família, ninguém nunca iria envelhecer... e muito menos morrer(!). Seríamos eternos e intactos, -- como nas fotografias. Eu cresceria e todos os meus afetos permaneceriam para sempre comigo, exatamente assim como eu os estava vendo, joviais, saudáveis e fortes, heróis e heroínas da minha vida, meus alicerces, meu porto (sempre) seguro.

Mas deu tudo errado. Saiu tudo ao contrário. 

Não deu certo o sonho do "para sempre" : meus avós maternos (que me criaram desde que nasci), ficaram bem velhinhos e foram os primeiros a fazerem, cada um, a travessia solitária do rio. Tempos depois foi a vez dos meus pais completarem seu limite existencial. Meus poucos tios mais chegados, também já partiram. Não sobrou ninguém daqueles tempos ditosos. E eu, que sempre fui amante da vida, estou aqui agora, perplexa diante da velhice. Impossível conter a passagem do tempo sobre o corpo, os riscos e as perdas, da saúde, principalmente, e me parece que a doença adora se mancomunar com a velhice para, juntas, enfiarem a gente numa enrascada: enquanto a velhice "anda" e mete a colher nas minhas coisas, a doença se encarrega de fazer o meu tempo encurtar.  

E sinto saudade de tudo o que já vivi e, acredite(!), até do que ainda estou vivendo: de tudo o que gosto e do que não gosto, de tudo o que me cerca, do pacote completo, de todos os meus amores: marido, filhos, netos e o meu gatinho gordinho, meu "Donguinho", querido e mimoso do meu coração! Sei que o adoecimento do meu corpo já foi inscrito no horizonte da temporalidade e está, aos poucos, me remetendo às fronteiras da vida. Mas, se por um lado, os prognósticos podem me causar inquietude, por outro, podem ressignificar minha existência. Hora de repensar a vida, ver prioridades, rever atitudes, dar importância ao que realmente tem, olhar e ver o que realmente importa. Acredito que o redimensionamento de perspectivas além de ajudar-me nas vicissitudes é capaz de expandir as manifestações do espírito criativo que habita em mim.

E eis que me bate outro tipo de saudade: saudade do futuro. Do futuro? Como assim? Tá bom, saudade não seria bem o termo, sei lá, mas às vezes penso nos dias futuros com uma certa mágoa... talvez uma pontinha de inveja de uma história que ainda não foi e nem sei como será. Inveja dos dias que não poderei ver nem sequer em sonhos; situações que jamais conhecerei, aventuras que jamais experimentarei, bebês que jamais abraçarei. 

Nossa! que desatino. Tomara que passe logo essa nuvem de opacidade, sei que vai passar. Pronto! Passou. Passou. Voltei. Eu sempre volto quando a nuvem passa 🙌 – até que venha a próxima. Não me olhe assim, eu sou normal, rs, de vez em quando, eu também surto. 😳

quarta-feira, novembro 10, 2021

COMENTARISTA CONTUMAZ DE IMBECILIDADE

Os comentários dizem muito  sobre seus autores
Nada contra ler e dizer apenas que gostou

- Marli Soares Borges


Comecei a blogar em 2009. De 2016 em diante, fui parando porque as interações sumiram e o que restou foi apenas um amontoado de superficialidades e buscas por seguidores. Perdi o interesse.

Aí veio a pandemia e o "fique em casa". Resolvi então retomar o blogue, pensei que o tempo transcorrido tivesse trazido evoluções nessa área, mas enganei-me, tudo continua na mesma. No meu caso específico, não tenho do que me queixar. Estou de boas, meus comentaristas sempre leem os posts e demonstram isso muito bem, são gente finíssima, o que muito me alegra. Também sigo nessa vibe, lendo com atenção e comentando. Respeito e valorizo o trabalho de cada um. Gosto de ler e gosto de comentar com pertinência. 

Acontece que sou observadora, à Lá Holmes, rsrsss, e adoro ir nos blogues amigos e ler os posts e os comentários, um a um. Leio todos. Para mim, os comentários dizem muito sobre seus autores. E o que vejo? gente espaçosa e oportunista que está interessada apenas em deixar linkado seu perfil para angariar visitas. Esses tipos nem leem o post e vão dizendo e repetindo - em todos os blogues que visitam -, as mesmas imbecilidades: "gostei muito do que li", "bela poesia", "boa semana", "passando para dar um beijinho de saudades", "muito profundo o assunto", "tem post novo no meu blog, te espero lá" etc. Conversinhas abstratas, requentadas, descaradas, sem a menor noção. 

Por favor não me entenda mal. Nada contra ler um texto e dizer apenas que gosta, que o texto é lindo, maravilhoso, profundo, etc, às vezes é só isso mesmo que a gente tem pra dizer. Estou me referindo ao que chamo de "comentarista contumaz de imbecilidades", aquela pessoa que sempre diz a mesma coisa em todos os blogues e em todos os textos e, geralmente, no mesmo minuto (até isso observei, rsrsss). Entra no blogue, digita uma meia dúzia de palavras e sai rapidamente. Faz um comentário genérico e lá vai "pintar" outro blogue com a mesma cor! E a gente "vê" que não leu uma linha sequer.

Acho isso uma falta de respeito, uma indelicadeza com quem escreveu o post, uma grosseria atroz. Será que pensam que o dono do blog não percebe que seu post não foi lido? Às vezes me dá até vontade de fazer o mesmo nas postagens desses oportunistas, mas simplesmente não consigo: meus valores não me permitem desrespeitar o trabalho das pessoas. Jamais comentaria um texto ou uma poesia sem ler. Jamais. 


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domingo, outubro 24, 2021

NINGUÉM MERECE PEDRA NO SAPATO



Ninguém merece pedra no sapato


- Marli Soares Borges


Temos que parar de vez com essa mania de botar água fria no entusiasmo dos outros. Temos que parar de achar graça dos sonhos das pessoas, temos que parar de menosprezar-lhes os ideais.

É muito fácil tirar o entusiasmo e a disposição dos outros. Disso o mundo está cheio, de gente brochante, que puxa para baixo, que põe pedra no sapato dos outros. Quero ver, é você encorajar, fazer as pessoas se sentirem vivas, mantê-las em pé! Isso eu quero ver! 

Qual é o problema em dizer umas palavras legais para as pessoas, encorajá-las quando estão numa maré baixa? 

Se você não sabe, o dever de encorajamento é um dos mais elevados deveres de humanidade que temos uns com os outros. Uma palavra de apreço, de ânimo e reconhecimento fortalece o coração das pessoas, e muitas vezes é apenas desse amparo que necessitamos para não desistir e continuar tocando a vida para frente. "As vezes, uma ou duas palavras amáveis são suficientes para ajudar alguém a desabrochar como uma flor." 

Ou você acha que encorajar o próximo é mera convenção social só pra sair bem na foto? Se você pensa assim, que peninha de você. Você não é ninguém: sua inteligência foi pro brejo e seu coração está deteriorado. 

Aprenda a encorajar! Faça um esforço, em vez de chá brochante, ofereça um café, uma cerveja, um vinho, uma água, sei lá! Você consegue, tenho certeza. E você vai se sentir muuuito bem!

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sábado, outubro 02, 2021

O AMOR QUE NINGUÉM VÊ


O amor que ninguém vê
A solidariedade orgânica 
é um 
remédio do qual ninguém pode prescindir.


Não direi do amor romântico, do enlevo, do elã. Isso é com os poetas. Minha palavra tem outro enfoque: o amor-nosso-de-cada-dia, esse amor acanhado que temos uns pelos outros, o amor que ninguém vê. É impressionante os malabarismos que a gente tem que fazer pra viver essa aventura circunstancial de amar. E esse confinamento, essa pandemia piora tudo.

Nossa vida continua de pernas para o ar. As doidices também: manias de todas as cores, exageros alimentares, tvs ligadas dia e noite, celulares alucinados, gente que toma duzentos banhos por dia, mães de filhos pequenos imaginando quantos dias faltam pra ficarem loucas, toques de todos os quilates, faxinas intermináveis, gente resmungando aqui e ali. Filhos adolescentes tendo que aturar as manias dos pais. Pais tendo que suportar filhos mal humorados, metendo o bedelho em tudo, e deixando pratinhos pela casa inteira. E a mídia de goela aberta, vomitando desgraceiras. E tec-tec-tec, dá-lhe celular! E croc-croc-croc, dá-lhe comilança! até quando? Não sei. 

Calma. Tudo na vida tem os dois lados: se num dia a gente está querendo se afogar numa bacia de álcool gel, no outro podemos estar de boas, achando o confinamento uma solução razoável. O lado bom é que, com a pandemia, melhoramos as lentes e apuramos nosso olhar. E passamos a valorizar a essência das coisas: o cafezinho que o marido fez, os brinquedos que as crianças guardaram no lugar, as roupas que o marido lembrou de dobrar e guardar enquanto você se esmerava nas panelas; o filho adolescente que tirou o lixo e arrumou o quarto, a filha que deu uma geralzona na casa. E por aí vai. O cotidiano da vida tem muitas demandas, mas é fundamentalmente um dar e receber, forever and ever.  

Não é difícil ver nas ações diárias o gesto expressivo do amor. O que dificulta é a superficialidade que durante muitos anos fez a nossa cabeça. E a mania de grandeza: só valem as grandes coisas (geralmente eventuais). As pequenas coisas (diárias) a gente reclama, mas não liga quando alguém faz. Errado! Os detalhes diários é que fazem a festa, e, mesmo que as tarefas estejam sendo executadas à contragosto, na marra, não importa, esse trabalho tem que ser valorizado, senão as pessoas começam a murchar. Não existe um “comportamento padrão” para confinamentos. Para quê uns ficarem patrulhando os outros?

Sozinha diante do teclado e pensando nisso tudo, vejo como é importante praticar, aceitar e entender esse amor vital e palpável. Sem preconceitos, sem críticas, sem ranços familiares, sem julgamentos. Esse tempo adverso requer compreensão. Não está fácil para ninguém. 

Aceite de bom grado esse eu-te-amo soletrado em cada tarefa executada. Porque o amor, além de ser um sentimento interior é uma atitude exterior e a solidariedade orgânica é um remédio do qual ninguém pode prescindir. A parcela de colaboração diária de cada um, em casa, é vital para todos e ninguém deve se omitir.

Engraçado como essas coisas passavam batido antes da pandemia. 

-Marli Soares Borges-

quinta-feira, setembro 09, 2021

OLHOS DE PRIMEIRA VEZ



Olhos de primeira vez


Adoro a emoção que vem quando mudo meu centro de interesse e transito em outros universos. Revivo, quero fazer isso e aquilo, quero mais e mais, quero mexer com a vida, mexer a panela dos doces e lambuzar meu coração. 

Jogo a velhice pro ar, paro imediatamente de bater os pinos e a criança que habita em mim se move de um lado para outro com olhos de primeira vez. 

Muitas vezes me parece que esse sentimento é imaturo, que eu deveria manter um padrão de interesse por mais tempo, um padrão compatível com minha maturidade, sou setentona, tão madura... mas na verdade, eu sigo querendo o que sempre quis: que os encantamentos continuem comigo, tomando conta da minha cabeça, dos meus sentidos, de todo o meu ser! Quero aguçar meus sentidos, afinar minhas percepções e ampliar minha leitura de mundo. 

Essa dinâmica me move e fascina. 

No passado eu nutria uma certa inveja dos pintores e fotógrafos, porque me parecia que o trabalho deles era puro encantamento, na medida em que nada se repetia, pois o cenário sempre se renovava, amparado na incidência da luz que modifica e confere lindos estilos aos ambientes. 

Mas eu estava errada, comprovei mais tarde. 

O encantamento não tem nada a ver com a superfície, ele é uma mágica interior que pode acontecer milhões de vezes na vida de cada um de nós. Para mim, vive acontecendo, estou sempre transitando em universos diferenciados. Acontece assim: ontem eu estava encantada em fazer uma coisa; fiz, fiz, fiz e... hoje não quero mais! quero aprender outra, dar novo rumo ao que venho fazendo com meu tempo. E me encanto com outra coisa e assim por diante. Confinada dentro de casa, não tenho tantas novidades, mas não me importo que meus universos sejam cíclicos. Meu espírito vibra pois está movido pelo interesse verdadeiro. E esse impulso interior coloca meus sentidos afinados com a energia vital e aciona em mim o processo criativo. 

Ainda bem. 

Não fossem esses encantamentos
não sei o que seria de mim
confinada e furibunda
nessa pandemia sem fim


 -Marli Soares Borges-



quinta-feira, agosto 19, 2021

CARA DE PAISAGEM



Cara de paisagem


Hoje o tempo resolveu esquentar um pouco. O inverno deu licença para o calorzinho se aproximar. Até o sol apareceu. Aí, feliz da vida, fui pra janela dar uma espiada nos "movimentos". E o que vi? Bandos de pássaros voando, cachorros correndo e latindo de lá para cá, os patos nadando, os cavalos trotando e o Dongo aqui, ao meu lado, na doce vida de gatinho miau. Indiferentes à pandemia, cada um deles cumpre seu destino na vida. Decididamente, pandemia não é com eles. 

Ok, essa cruz é nossa.

Alguns amigos me perguntaram como estou. Obrigada pela atenção, estou bem, quase totalmente recuperada da cirurgia. Creio que a postura que venho adotando há alguns anos, tem me ajudado no fortalecimento da minha saúde, como um todo, e agora, mais ainda. 

Há algum tempo fiz um propósito de me cuidar melhor, na verdade, o propósito foi de observar os cuidados anti-stress, aqueles que servem de suporte ao fortalecimento do corpo. Esses cuidados incluem: jamais abrir vídeos ou propagandas político-partidárias no facebook; não responder a nenhuma provocação e recentemente, dar um tempo nas notícias da tv, a fim de não ouvir os arautos da desgraça anunciando o fim da humanidade.

Desta feita, aprendi a fazer cara de paisagem quando algum amigo virtual pretende me convocar para um confronto. Não entro em controvérsias. Não polemizo. Não gasto energia em temas que não me interessam. Simplesmente não ligo. Afasto-me e vou procurar minha turma, melhor dizendo: dou o fora!

E, para completar, fecho meu tratamento com chave de ouro: muito origami, muita música, bons filmes, oração e reflexão.


-Marli Soares Borges- 


terça-feira, agosto 10, 2021

O TEMPO É O SENHOR DA RAZÃO


O tempo é o senhor da razão



-Marli Soares Borges (c) 2014



"O tempo é o senhor da razão". Essa é uma frase muito antiga e ninguém sabe a autoria. Sabe-se apenas que foi Marcel Proust quem se encarregou de torná-la conhecida no mundo inteiro e até hoje, a dita frase tem sido refrigério na vida de muitas pessoas. Quer ver? 

Às vezes a gente sem querer se mete numas discussões tolas com amigos -- e até mesmo com familiares --, umas bobagens que não acrescentam nada na vida de ninguém. E numa dessas, quem de nós não foi acusado injustamente de alguma coisa que não fez? e num toque de mágica passou de inocente a réu? e foi julgado e condenado pelo tribunal improvisado que se formou na ocasião? 

Acho que isso acontece com todo mundo. E no calor da discussão ninguém quer saber de nada, todos querem ter razão - em tudo -, ter a última palavra. E você entra nessa e se expõe ao ridículo, e lá vem boicote, doideira e às vezes até inimizades. E você sente na pele a dor da injustiça.

Logo você que vive ajudando e perdoando... que faz doces, que oferece cafezinho, que ouve os choramingos, que faz churrascos, que constrói sempre bons momentos e diz que os ruins ficaram no passado, e ensina que toda mágoa é moeda podre. Logo você que não quer saber de complicações, que odeia brigas e que faz tudo pela paz... será mesmo que nada disso importa? 

Sinto dizer, mas agora não, o circo pegou fogo. E nessas horas os interesses pessoais falam mais alto que a própria razão. E nem tente medidas heroicas para solucionar o problema. Não irão funcionar. Foi mal.

Mas o Anjo do Senhor, sempre a postos, bate no seu ombro com ternura e lhe diz ao pé do ouvido: sossegue, vai passar, vai passar, "o tempo é o senhor da razão". Vá descansar, amanhã será outro dia e tudo mudará. 

Aí, você suspira, recolhe as baterias e sai abatido.

E no outro dia, realmente o assunto é outro. O olhar é outro. O juízo é outro. Acontece que o tempo, definitivamente, costuma revelar a verdade e colocar cada coisa no seu devido lugar. Ninguém sabe direito como isso acontece, mas a tal frase faz todo sentido nos acontecimentos que mexem com a gente em inúmeras ocasiões. E, conforme vamos amadurecendo, vamos entendendo essas filigranas da vida, e nós mesmos vamos nos dando um tempo e nos ajudando a (re)inaugurar novos gestos e a tecer novos momentos... e a nos manter longe, bem longe dos conflitos e discussões acaloradas. 


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segunda-feira, agosto 02, 2021

CUSTO-BENEFÍCIO


Custo-benefício
Origami "Sunflower"
Dobrei com papel Kami de 15 cm


Se você batalhou e aguentou até agora é porque tinha motivos. Por que está pensando em desistir? Acabaram-se os motivos? 

Nada contra a desistência que muitas vezes é sinal de inteligência, afinal, de que adianta insistir no impossível? Sim, tem coisas que são impossíveis de conseguir... você até consegue... no fim da vida. E a vida é muito curta. 

A meu ver, você está diante de uma questão de custo-benefício, (duas palavrinhas poderosas que mexem com as nossas vidas). Avalie os dois lados da questão, decida-se e toque sua vida para frente. Não ligue para o que os outros dizem, cada um sabe de si. 

Digo isso para que você não pise em falso. 

Que me perdoem os poetas, mas lidar com a realidade inclui outras ferramentas.

- Marli Soares Borges -

quarta-feira, julho 28, 2021

O BLOQUEIO DO "NÃO"



Hoje vou falar um pouquinho sobre o "não", essa palavra tão pequena, mas que traz consigo conflitos e responsabilidades. A primeira vista parece tão fácil dizer não, não posso, não quero, etc. Mas é muito difícil e complicado, principalmente porque a gente é do bem, adoramos ajudar os outros e adoramos agradar. Mas o xis da questão é outro: quando evitamos dizer “não” a um pedido que a gente já sabe que não vai conseguir atender, causamos problemas não só a nós, mas também aos outros que depositaram sua confiança em nós. E isso vai se refletir tanto em nossa vida pessoal, como na profissional.

Pense na violência que praticamos contra nós mesmos ao dizer “sim” quando deveríamos dizer “não”. Colocamos um peso a mais em nossas costas, uma sobrecarga muitas vezes desnecessária. Será que temos mesmo que carregar os macaquinhos dos outros? Sem falar que com essa atitude "boazinha", poderemos estar enganando o outro. A propósito, você conhece a história dos macaquinhos? É assim: 
Era uma vez uma garota que tinha um macaquinho de estimação, lindo, bem cuidado, saudável e cheiroso! Todos admiravam aquele bichinho e não demorou para que começassem a pedir ajuda, que ela cuidasse também dos macaquinhos deles. Ela aceitou o encargo, mesmo sabendo que eram muitos e que talvez não conseguisse cuidar bem de todos. Mas cuidou, cuidou e cuidou. Acontece que não deu conta e cuidou mal dos bichinhos e os resultados foram péssimos. Até o seu próprio macaquinho, antes tão bem cuidado e saudável, acabou adoecendo.
Resultado: Ela perdeu a credibilidade perante as pessoas que haviam depositado confiança em seu trabalho. Se tivesse conseguido dizer "não", teria evitado esses dissabores e cada uma daquelas pessoas teria procurado outra forma de resolver seus problemas.

Contei essa história para mostrar a você até onde pode ir a sobrecarga causada pelo bloqueio do “não”. Dizer “sim” indevidamente causa estresse e sobrecarrega você, que, com toda a certeza, atrasará ou deixará de cumprir aquilo a que se propôs. É um duplo prejuízo e resulta, para ambas as partes, em frustração e rejeição, além de fazer com que você deixe de ser levado(a) a sério.

Tenha coragem de dar um basta. Comece por aquela turma que está sempre pedindo para que você faça alguma coisa que é atribuição deles. Se o pedido vai bagunçar sua vida, nem pense duas vezes: diga logo um "não". Se silenciar, a chance de se arrepender será muito grande. Pense que o "não" pode até ser uma forma de ajudar a pessoa a encontrar seu caminho, de ajudá-la a crescer. 

Mas lembre-se, diga um "não" gentil e educado. Isso fará com que você não se sinta mal e evitará que a pessoa se indisponha com a sua negação. É importante deixar claro que você não é simplesmente “do contra”. Convém evitar confusões dessa natureza.

Enfim, o "não" é uma palavra muito importante que deve ser dita no momento certo. Se todos soubessem dizer "não" nas horas certas, tudo seria diferente, em casa, no trabalho e no País.

-Marli Soares Borges-


quarta-feira, julho 21, 2021

DAS DECISÕES E LOUCURAS



Ainda que muitos, - amigos e ou afetos -, tentem demover-lhe de algum projeto que sua alma deseja e quer, não se incomode. Essas pessoas não fazem por mal, pelo contrário, querem o seu bem. Elas falam e questionam sua escolha, porque estão viciadas em seguranças e certezas. Mas, pensando bem, é a própria finitude da vida que nos mostra que certeza e segurança não passam de utopias. 

Tem decisões que a gente precisa tomar na hora, com o conhecimento que se tem naquele momento, ou perde o bonde. Tal é o fio da navalha em que vivemos. 

E você pode estar numa situação dessas, frente à possibilidade que surgiu de tirar do papel um projeto que você idealizou. Se houver tempo, calcule os riscos e decida-se. Se não houver tempo, decida-se, assim mesmo. Não deixe o bonde passar simplesmente sem nada decidir. Enquanto estamos vivos sempre é possível começar algum projeto, recomeçar outro e porque não, retomar e continuar outros tantos. 

O tempero da vida são nossos projetos, ações e atitudes que coroam os desejos da nossa alma. Nessa vida difícil e incerta, algumas loucuras são aceitáveis. Algumas, eu disse, (mas isso é outro assunto).

-Marli Soares Borges-

terça-feira, julho 06, 2021

MEDO E CORAGEM

 

"Um Grito de Alegria"
 - Releitura de "O Grito" de Edvard Munch -
Site Makepic Quadros Decorativos


Não conheço ninguém imune ao medo, mas conheço muita gente corajosa que enfrenta o medo. 

O medo e a coragem são riquezas existenciais, aprendizagens dinâmicas e significativas que incluem a aceitação de nossos limites e nossa história de vida. Já fraquejei inúmeras vezes, mas também já enfrentei o medo com valentia e coragem. Muitos medos e muitas coragens.

Mas, tem dias que minha coragem pega um cochilo e um medo gigante se instala em mim, o pior de todos, o que não tem remédio. E isso acontece exatamente no momento em que, num descuido, dou asas a pensamentos perturbadores. Aí, a primeira coisa que me vem à cabeça é um pensamento, que, no dizer de Camus, traduz "o desespero maior que todos temos": a certeza de que esse planetinha azul é só uma estação experimental, um lugar onde estou ancorada apenas para cumprir algumas tarefas e depois -compulsoriamente- terei que seguir viagem rumo ao desconhecido. 

(O quê? viajar rumo ao desconhecido? Peraí). 

Sempre gostei -e continuo gostando- de viajar e conhecer lugares novos, mas nunca viajo sem antes ler sobre o lugar de destino e conferir algumas dicas de viagem. A bem da verdade, "rumos desconhecidos" não me atraem, quero mais é viajar pra lugares bacanas e dar uns gritos de alegria, como o carinha aí dessa imagem que postei.

Analisando friamente, parece bizarra essa viagem rumo ao desconhecido, surreal até. Mas, nada disso! Aqui, tudo é absolutamente real, público e notório. Tão real que, quase sempre, ignoro as entrelinhas e passo batido, pois se começar a pensar, o medo se instala e um arrepio gelado me percorre a espinha. Surtada, começo a pensar num monte de coisas que, hoje em dia, inevitavelmente, culminam nessa situação de angústia mundial que estamos vivendo: ah, meu Deus, quando acabará essa aflição que tomou conta do mundo? 

Reconheço que para mim o excesso de realidade é bastante perturbador. Preciso de um oásis para atravessar o deserto. Ainda bem que tenho o meu: minhas artes manuais, -abençoadas artes!- que me fazem adejar aqui e ali e voar com as estrelas! Distraída, nem vejo a coragem chegar, não a vejo, mas sinto-lhe o vigor, que espanta o medo e me fortalece por inteiro. Quer saber o segredo? anote aí: tudo isso é divino. Essas artes, essa coragem e essa disposição que me movem, tudo vem de Deus. É socorro divino, amparo maior, que sempre agradeço, de joelhos!

Parabéns aos viajantes - se é que existem alguns - que conseguem transitar nesse planetinha, sem qualquer temor.

Marli Soares Borges



quinta-feira, junho 17, 2021

PARE DE SABOTAR SEU TRABALHO

 


                
                 -Marli Soares Borges-


Temos uma mania indigesta de achar que trabalho para ser trabalho tem que ser difícil e "trabalhoso" e que a gente tem que "passar trabalho" para trabalhar. 

Se você fez um trabalho e foi fácil, ah, não pode ser trabalho... de onde tiramos esse pensamento tão absurdo? Não tenho a menor ideia, mas sei que isso já está tão arraigado em nossa mente que a reação já é automática: se executarmos facilmente uma tarefa e estivermos falando sobre isso numa roda de amigos, por exemplo, tratamos de colocar um ingrediente doloroso para valorizar nossa situação. 

Parece que trabalhar numa boa e obter um ótimo resultado não nos agrada, queremos o peso, a dor, o sofrimento, a aridez e o cansaço que nos aniquila. De alguma forma sempre acabamos equiparando o trabalho com o sacrifício. Perceba que nas mais diversas situações da vida achamos seguro apelar para a "luta" e a severidade do trabalho, pois sabemos que esse argumento ninguém vai colocar em xeque, afinal, está combinado que trabalho é trabalho e que trabalho é dureza. Bom mesmo é derreter o nosso tempo lutando na guerra fria do trabalho! (ah, gostei dessa frase, rs). É mais ou menos assim: estamos sempre em "guerra" e na guerra a gente sempre "luta".

Mas eu não me conformo com isso. É óbvio que trabalhar é dever, mas pode ser também um prazer e uma ótima fonte de gratificações. Por que não? Para facilitar, a gente deveria trabalhar naquilo que gosta ou que tem talento para fazer. Infelizmente, porém, isso nem sempre é possível e a gente acaba tendo que trabalhar em outras coisas completamente diferentes daquilo que nos apaixona. E aparecem as frustrações para complicar. Talvez daí tenha surgido essa associação do trabalho com algo desagradável e dolorido. Não sei, só pensei. Contudo, sigo acreditando que embora estejamos trabalhando em algo que não é bem o que desejávamos, ainda assim é possível trabalhar sem "passar trabalho". É possível obter boas compensações e dar uma rasteira nas frustrações. Basta que redirecionemos nosso pensar e que encaremos nossa realidade de frente, sem vitimismos: ideal é uma coisa, real é outra. E bola pra frente. Acho que já passou da hora de colocar um ponto final nessa maldita sina de sabotar nosso próprio trabalho.

Não, eu não disse que é fácil. Eu não falei em facilidade. Eu falei em possibilidade.



sábado, maio 22, 2021

CONQUISTA PESSOAL




Tão bom abandonar antigas certezas e velhos dogmas! Melhor ainda é ter coragem de admitir esse abandono diante dos afeitos ao zelo fanático pelas próprias crenças. Considero isso uma conquista pessoal e importante que fiz na vida: perdi a "necessidade" de convencer os outros a acreditarem no que acredito. Se me der na telha, posso até argumentar, mas aquela instância imperiosa de ter razão e convencer, não faz mais a minha cabeça. E isso é uma experiência de liberdade indescritível. Na sequência, perdi a necessidade de estar, eu mesma, plenamente convencida de qualquer coisa. Mais liberdade ainda.

-Marli Soares Borges-

terça-feira, maio 18, 2021

NÃO, A VIDA NÃO PAROU

 




Aderi cem por cento ao fique em casa. Como não preciso trabalhar de forma presencial, só saio o necessário. Meu marido também. Seguimos à risca os protocolos sanitários de prevenção à COVID e desde o início da pandemia vivemos confinados. Por sorte moramos num sítio e podemos tomar sol, caminhar ao ar livre e alegrar nossos olhos vendo a paisagem e brincando com o Dongo, nosso gatinho de estimação. 

Em casa, ando de lá para cá, arrumando e limpando isso e aquilo. Aqui o serviço é conosco, (meu marido e eu), a gente salta e pula pra dar conta de tudo. Por causa da pandemia, nossa convivência aumentou cem por cento e pude ver com nitidez o verdadeiro significado do companheirismo e do comprometimento de amor. Agradeço à Deus, de joelhos, nosso convívio pacífico, solidário e alegre. 

Somos dois septuagenários bastante ativos. Mas somos septuagenários, essa é a verdade e temos consciência de que, sozinhos, não conseguimos manter a nossa casa nos brilhos de antigamente. Tivemos que aprender a deixar alguma coisa para amanhã e a ignorar outras tantas. Além do meu trabalho profissional e de todo o serviço da casa e cozinha, eu sempre trato de arranjar tempo para o origami, haicai, tricô e crochê. E não abro mão de jogar  xadrez e ver meus filmes. Durmo sempre depois das duas da manhã. Ocupo todinho o meu tempo.

Apesar das coisas estarem dentro dos conformes, de vez em quando me bate uma sensação de que parei no tempo, que não estou fazendo nada, sei lá, um vazio. Parece que preciso fazer algo, só não sei o quê. Não me apavoro porque tenho certeza que é só impressão minha. A culpa é desses tempos sombrios que -todos- estamos tendo que enfrentar. 

O fato é que nesse ano e dois meses de isolamento, minha rotina foi completamente alterada. Só saí para cortar os cabelos (que não suportava mais!) e para tomar a vacina. Fiquei com tanto medo do vírus, que ignorei completamente a necessidade de fazer o controle da hepatopatia grave que tenho. Mas, o bom é que já estamos vacinados e agora é esperar os trinta dias da segunda dose e ir para a vacina da gripe. Depois voltarei a encarar minha vida de paciente: ressonância, endoscopia e exames laboratoriais a cada seis meses. E ver o resultado... sempre com o coração na mão. É mole? rs. 

E não é que estou me sentindo bem melhor? Gostei de elencar minhas atividades e ver quantas coisas úteis eu faço para mim e para os que me cercam. Está decidido: quando essa sensação de vazio voltar, (sempre volta, esse isolamento é cruel...) daí então vou ler esse post e entrar no prumo novamente. 

Marli Soares Borges

quinta-feira, abril 29, 2021

PRIVACIDADE

Desconfio de gente que vive dizendo que sua vida é um livro aberto e que tem orgulho disso. Como se a exibição das vísceras atestasse a honestidade e a integridade de alguém. Prefiro os seres cujos segredos e desejos são revelados nos pequenos gestos, nas ações banais e cotidianas. Nossa condição humana necessita um mínimo de privacidade na vida, até mesmo, para não adoecer mentalmente.

Marli Soares Borges

domingo, julho 03, 2016

FELICIDADE



droga da felicidade


Estou exercitando minha capacidade de discernir entre uma imbecilidade e uma coisa digna de maior atenção. Às vezes alguém me diz algo e me emociono e me dá vontade de argumentar, insistir, bater o pé. Noutras, a vontade vem, mas fico quieta, não reajo, fico só ouvindo, nem me importo. E me surpreendo comigo mesma por ter chegado a esse estágio 'superior' de controle da razão! será mesmo, ou é um problema de pino? Pode ser também porque me dei conta de que não preciso mais agradar esse ou aquele. Sei lá. E também não estou ligando mais em estar por dentro de todas as novidades, das mentiras e verdades de cada um. 

Tem coisas que nem quero saber. E isso está me fazendo um bem...

Casualmente ontem ouvi minha nora rindo e dizendo para meu filho: você sabia que os ignorantes são mais felizes? Ouvi a frase e pensei: taí! encontrei a droga da felicidade!

Marli Soares Borges

domingo, novembro 01, 2015

CADA UM FICA COM A SUA


cada um fica com a sua



Está cada dia mais rara a reflexão e o debate aqui na rede. O pessoal passa batido, nada de trocar ideias, cada um fica com a sua e pronto! (Mamma mia, preciso parar com esse pensamento de que as pessoas estão indignadas e envolvidas como eu). Acabo sempre esquecendo que os níveis de comprometimento e disposição de cada um para mudar a realidade a sua volta variam bastante. E tem a preguiça mental, esse tipo de preguiça que parece ser muito mais forte do que a inércia pura e simples. Acho que as pessoas ainda não se deram conta do seu poder como indivíduo pensante e escrevente; do poder da palavra que repercute nas redes sociais. É triste notar-lhes o descrédito em suas próprias razões. Jazem esperando uma ação de um deus no qual sequer acreditam. Querem uma sombra onde não plantaram nenhuma árvore. E isso me assusta, juro. É preciso mesmo aceitar, sem contrapor, o que os outros dizem? Nem sempre. Tem ocasiões em que só as luzes da reflexão e do debate são capazes de iluminar o caminho.  - Marli Soares Borges -

domingo, outubro 11, 2015

DEBATE E REFLEXÃO





A reflexão e o debate só são possíveis a partir das convicções -- verdades -- de cada um. Tanto na reflexão como no debate, as suspeitas e as dúvidas podem ser postas em cheque, aprimorando-se o ponto de vista, para, quem sabe, surgirem novas convicções. Quando Nietzsche afirmou que "o oposto da verdade não é a mentira, mas as convicções", acho que ele não quis dizer que o fato das pessoas apostarem no que suspeitam -- em razão de suas próprias convicções -- e duvidarem dos fatos, isso, por si só, negaria "a" verdade e impossibilitaria a reflexão e o debate. Até porque, para ele, não há uma verdade universal, mas as verdades de cada um, na medida em que sobre um mesmo objeto é possível um universo infinito de interpretações, conforme o olhar / perspectiva do intérprete. E vamos combinar que sem as verdades de cada um, o mundo perderia a graça. A meu ver, o que impede o debate e a reflexão é a atitude que algumas pessoas têm de não fazerem o menor esforço para entenderem o pensamento do outro.

Marli Soares Borges

terça-feira, abril 28, 2015

SE ACASO VOCÊ CHEGASSE...

Acredito no acaso muito mais do que no mérito e considero que o esforço e o talento, por si sós, não determinam o sucesso das pessoas. Li um artigo de um escritor franco-canadense - Malcolm Gladwell - sobre esse assunto e concordo com ele. Para mim, a meritocracia não passa de uma ideia falsa, quase uma fé "virada para baixo" com dizia Murphy. Se o esforço árduo fosse necessariamente recompensado o sucesso estaria praticamente garantido para todas as pessoas. Era só se esforçar e pronto. Mas, infelizmente, não é assim que funciona, tem gente que leva a vida inteira se esforçando e nunca chega lá. Acontece que a meritocracia é apenas uma crença e o acaso não. O acaso é real e está em todos os lugares. Observe: o acaso inaugural, que praticamente dá o 'tom' da nossa existência, começa precisamente no dia em que, direto da barriga de nossa mãe, desembarcamos nesse mundo. Desde a nossa mãe, a nossa família, o lugar do nosso nascimento, nossa escola, etc, até os atos e fatos casuais, anteriores e decisivos que nos dizem respeito, todos eles são acasos determinantes na nossa vida. Enfim, penso que o papel do acaso não é pequeno, ele é bem maior do que gostaríamos de admitir. Mas isso não significa que eu despreze o valor do esforço e da dedicação. Pelo contrário, o esforço, a dedicação, o comprometimento e as horas-bunda de estudo, contam muitíssimo na vida e, verdadeiramente, alavancam o sucesso. Apenas não concordo com a ideia de que o esforço árduo terá necessariamente sua recompensa, pois o acaso é moeda forte e não pode ser desconsiderado. Lembro de Santo Agostinho, "somos todos iguais, até o momento em que nascemos". Certamente, também ele, por acaso, andou encucando no acaso de todos nós.

Marli Soares Borges

quarta-feira, janeiro 07, 2015

NINGUÉM ENXERGA LONGE SEM AUXILIO


ninguém enxerga longe sem auxilio

Ninguém enxerga longe sem auxílio, e o conhecimento não acontece plenamente para aqueles que apenas escalam os muros tentando ver se conseguem, lá das alturas, observar mais longe. Claro que o 'escalar muros' também é importante, mas penso que para ampliar nossa consciência e aprimorar nossas percepções e interconexões com a realidade, precisamos da cultura, do estudo, do auxílio dos gênios e dos poetas, das músicas e dos filmes, dos livros e dos textos, dos telescópios e dos microscópios. Mas precisamos também dos longos papos e dos porres memoráveis. E da atenção e do equilíbrio. Prestar atenção às sinfonias dos grandes músicos, e aos pássaros que cantam lá fora; aos grandes filmes e aos peixes que nadam nos rios; aos sonetos de Shakespeare e às palavras de bem-querer que brotam dos lábios das pessoas comuns. Tudo na sua medida. O difícil caminho da sabedoria, como apontou Zaratustra (e seu criador, Nietzsche), é uma estrada de muita solidão e incompreensão, onde aquele que busca ser sábio, seguidamente tromba ao seu redor com a tolice, a estupidez e a trivialidade, sem falar na traição e na crueldade. Pois é. E haja sabedoria para lidar com tudo isso! Mas gosto dessa ideia de sabedoria e de aprendizados. 

Marli Soares Borges