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sábado, abril 01, 2023

O PACOTE COMPLETO

 

DO PACOTE COMPLETO
O pacote completo

            - Marli Soares Borges


De uns tempos para cá, eu tenho andado muito saudosa. Me bate uma saudade daqueles tempos, daquela certeza perfeita e nítida que conduzia meus passos de menina. Saudade dos adultos que me amparavam, minha gente, meus referenciais de vida. 

Saudade dos castelos de areia que eu construía no quintal quando a chuva passava. Ah! os meus castelos de areia... fecho os olhos e aqui estão eles, tão reais que quase consigo tocá-los. Saudade dos meus sonhos coloridos, das minhas crenças infantis. Eu acreditava com todas as forças que, na minha família, ninguém nunca iria envelhecer... e muito menos morrer(!). Seríamos eternos e intactos, -- como nas fotografias. Eu cresceria e todos os meus afetos permaneceriam para sempre comigo, exatamente assim como eu os estava vendo, joviais, saudáveis e fortes, heróis e heroínas da minha vida, meus alicerces, meu porto (sempre) seguro.

Mas deu tudo errado. Saiu tudo ao contrário. 

Não deu certo o sonho do "para sempre" : meus avós maternos (que me criaram desde que nasci), ficaram bem velhinhos e foram os primeiros a fazerem, cada um, a travessia solitária do rio. Tempos depois foi a vez dos meus pais completarem seu limite existencial. Meus poucos tios mais chegados, também já partiram. Não sobrou ninguém daqueles tempos ditosos. E eu, que sempre fui amante da vida, estou aqui agora, perplexa diante da velhice. Impossível conter a passagem do tempo sobre o corpo, os riscos e as perdas, da saúde, principalmente, e me parece que a doença adora se mancomunar com a velhice para, juntas, enfiarem a gente numa enrascada: enquanto a velhice "anda" e se mete nas minhas coisas, a doença se encarrega de fazer o meu tempo encurtar.  

E sinto saudade de tudo o que já vivi e, acredite(!), até do que ainda estou vivendo: de tudo o que gosto e do que não gosto, de tudo o que me cerca, do pacote completo, de todos os meus amores: marido, filhos, netos e o meu gatinho gordinho, meu "Donguinho", querido e mimoso do meu coração! Sei que o adoecimento do meu corpo já foi inscrito no horizonte da temporalidade e está, aos poucos, me remetendo às fronteiras da vida. Mas, se por um lado, os prognósticos podem me causar inquietude, por outro, podem ressignificar minha existência. Hora de repensar a vida, ver prioridades, rever atitudes, dar importância ao que realmente tem, olhar e ver o que realmente importa. Acredito que o redimensionamento de perspectivas além de ajudar-me nas vicissitudes é capaz de expandir as manifestações do espírito criativo que habita em mim.

E eis que me bate outro tipo de saudade: saudade do futuro. Do futuro? Como assim? Tá bom, saudade não seria bem o termo, sei lá, mas às vezes penso nos dias futuros com uma certa mágoa... talvez uma pontinha de inveja de uma história que ainda não foi e nem sei como será. Inveja dos dias que não poderei ver nem sequer em sonhos; situações que jamais conhecerei, aventuras que jamais experimentarei, bebês que jamais abraçarei. 

Nossa! que desatino. Tomara que passe logo essa nuvem de opacidade, sei que vai passar. Pronto! Passou. Passou. Voltei. Eu sempre volto quando a nuvem passa 🙌 – até que venha a próxima. Não me olhe assim, eu sou normal, rs, de vez em quando, eu também surto. 😳

sexta-feira, outubro 29, 2021

ESTOU EM PAZ COM A MINHA GUERRA


... em paz com a minha guerra


- Marli Soares Borges


Não lembro se li ou se ouvi dizer que, numa certa idade, nós mulheres nos tornamos invisíveis, inexistentes, pois vivemos num universo que cultua a juventude eterna. Eu, como sempre, transportei isso pra minha vida, pois, afinal é o que conheço melhor. Enfim, andei pensando...

É bem possível que eu tenha me tornado invisível para o mundo e que minha atuação no teatro da vida tenha diminuído. Mas por outro lado, aos setenta e dois, nunca me senti tão protagonista e nunca desfrutei cada momento da minha existência como agora. Nunca tive tanta consciência de que existo, como agora. Descobri que sou sensível e forte ao mesmo tempo, descobri em mim misérias e grandezas.

Percebi que sou apenas um ser humano e que posso me dar ao luxo da imperfeição. Posso ter um montão de defeitos e assim mesmo gostar de mim. Posso ter fraquezas, enganar-me e até mesmo não corresponder ao que os outros esperam de mim, bem-me-quer, mal-me-quer. E daí? não sou uma princesa de contos de fada. 

Ao espelho. 

Ops! Glup! rsrssss. O espelho reflete minha imagem agora. Abro meu melhor sorriso. Um sincero sorriso, pois não me procuro mais na juventude. Há algum tempo encontrei a jovem que fui. O encontro foi breve, uma pequena homenagem e um abraço apertado. 

Na sequência, afastei-a de mim. 

Ela agora só me atrapalha, não temos nada em comum, seus sonhos e fantasias não me interessam. Prefiro andar na vida sem ter que correr atrás de tantos sonhos, é a mágica da vida que me seduz. Ando sempre apaixonada por uma coisa e outra, hoje isso, amanhã aquilo, e assumo meus conflitos e contradições. 

Viajo agora em tempo real. Sentimentos e sensações imediatas: alegria, tristeza, medo, disposição, mágoa, entusiasmo, sei lá. Mas cultivo mesmo, de joelhos, com todo fervor, os sorrisos fáceis e as alegrias singelas. Me acho mais bonita assim, alegre. E quem não gosta de bonitezas? Estou em paz com a minha guerra. 

* * * * * * * * * *

terça-feira, junho 22, 2021

O BARCO DA VIDA

Esta é minha participação na BC da Norma Emiliano, do Blog "Pensando em Família".
A proposta é escrever um conto com a imagem dada.



Positiva e alegre. Em sua casa, tudo funcionava perfeitamente, afinal, ela, insubstituível, empurrava o barco da vida com todas as suas forças e sempre arranjava as coisas de cada um. Com rapidez e perfeição, como era do seu feitio. Ela não era pessoa de fugir de suas responsabilidades de mãe, esposa e administradora da casa.

O tempo correu seu tempo. Alegrias genuínas ela não teve mais, mas estava tão ocupada em tocar a vida, que nem sentiu falta. E envelhecia sem perceber. E ninguém dizia nada, tudo era muito natural. Com o correr do tempo ela foi perdendo as forças e sentindo-se triste e só. Perdeu a vontade de tudo, até de olhar-se no espelho para pentear seus cabelos. Quando a cabeça ficou toda branca, disseram-lhe que parasse com o trabalho e fosse descansar. Que iriam substituí-la. E, de fato, no seu lugar, tiveram que colocar várias pessoas, a peso de ouro, para manejar as lidas. Mas o pessoal não se importou e tudo continuou funcionando muito bem. A vida seguiu para todos. As coisas simplesmente se arranjaram. 

Ninguém mais quer saber de mim, ela pensou. Ninguém mais precisa de mim. Que faço agora? Que fiz eu nesse tempo todo? Porque não cuidei de mim? talvez, se tivesse me cuidado, eu não estivesse tão acabada assim. E percebeu com tristeza, que seus olhos não viam na vida a mesma graça daqueles tempos distantes em que levava a vida mais leve e não se achava insubstituível a ponto de gastar suas forças como se fosse a única trabalhadora do mundo. Foi então que lembrou-se de sua infância e das palavras de Dona Clarice, sua querida avó: "a gente tem o direito de deixar o barco correr... as coisas se arranjam, não é preciso empurrar com tanta força”. 

Marli Soares Borges

segunda-feira, maio 03, 2021

OUTONO DA EXISTÊNCIA


Na velhice há coisas boas e ruins
Outono da existência

Desde que me conheço por gente ouço falar no outono da vida. Saí a procura de respostas e não encontrei. Resolvi... bem, tive que viver. Agora eis-me aqui aos 72 anos, no outono da minha existência. Só para esclarecer, outono aqui é sinônimo de velhice. Por favor, não torça o nariz, a nossa Carta utiliza o termo velhice, que é um estado natural da vida. Idoso é um eufemismo que a sociedade usa para dourar a pílula e encobrir o preconceito. Na minha modesta opinião, a velhice é uma fase da vida como tantas outras que venho passando. Há coisas boas e ruins.

Se a gente muda? Meu Deus, muito! Falando por mim, é claro, mudei interna e externamente. No momento, ando me desentendendo (ainda!) com os efeitos da menopausa, com as lentes dos meus óculos, com os meus cabelos rareando, com a fadiga decorrente do meu fígado complicado, e outras mazelas que nem vale a pena comentar. 

Mas, felizmente, nada disso me impede de rir, de emocionar-me e de continuar sendo útil aos meus semelhantes, pois tenho para mim que o que entristece e mata os velhos não é a velhice em si, mas a sensação de inutilidade social que traz consigo o desgosto pela vida. O outono da minha existência não está me impedindo de fazer o que gosto, e, por sinal, meus gostos também mudaram (abandonei os paradigmas da juventude. A jovem que fui era ótima, mas, no aqui e agora, aquele desabrochar constante, só estava me atrapalhando). Dei um basta em definitivo naquelas coisas que sempre me colocavam para baixo no passado, naqueles tempos nem tão dourados assim! Hoje, mais do que nunca, escolho estar de bem com a vida. 

Se você me questionar sobre o mérito da questão, sobre o que acho da velhice em si, respondo que NÃO É FÁCIL! A começar pelas armadilhas do espelho: tem dias que vou em direção a ele acreditando que tenho trinta, olho-me e vejo setenta. Avemaria, sei que tem outra ali dentro! e esse espelho que não me mostra? grrr. 

Brincadeiras à parte, reconheço que na velhice as perdas físicas são muitas e bem significativas. E a gente tem mesmo que aprender a lidar com elas. Temos que aprender a compensá-las para evitar frustrações e amarguras. Temos que apreciar a paisagem e tratar de colher os frutos. Tomar consciência da preciosidade do tempo e do poder que temos de fazer coisas legais enquanto a cortina ainda está aberta e o palco iluminado. 

Mas, atenção, nossa saúde física e mental precisa estar bem cuidada, principalmente se estivermos sofrendo de alguma doença crônica. E não podemos, sob hipótese nenhuma, descuidar da mente e EMBURRECER.

E nada de hostilizar os mais jovens e amargar a convivência de uns e outros. Mais interessante seria exercitar a arte da convivência num clima de respeito mútuo entre velhos e jovens e jovens e velhos. É hora de entender e aceitar que na convivência saudável há sempre uma renovação, pois os conhecimentos sempre se renovam. É certo que os jovens aprendem conosco, mas nós também temos muito a aprender com eles. Aprender e ensinar. Essas trocas são fundamentais no processo de envelhecimento. 

Bom, vou parar por aqui, não quero cansar a beleza de vocês.

Resumo da ópera: o outono é tempo de muitas mudanças, é tempo dos frutos. O cenário é outro, as folhas caem, as árvores perdem suas roupagens floridas e o chão ganha um lindo tapete multicor. Mas a gente tem de varrer o chão todos os dias para que o tapete se renove e mostre toda a sua beleza. Assim também, o outono da existência requer trabalho para resplandecer. São duas faces da mesma moeda. 


- Marli Soares Borges -

domingo, abril 11, 2021

VELHICE

a vida é agora


A velhice é o último período de nossas vidas. Não há tempo a perder, a vida é agora. Esqueça essas besteiras de terceira idade, melhor idade e outras gambiarras que inventaram para escamotear o preconceito abissal que sufoca as pessoas velhas. Trate de viver, de suportar suas amarguras e gozar seus momentos de alegria. Não vá atrás desses aconselhadores que brotam como pragas em todos os cantos e estão sempre ditando regras em tudo. Geralmente quem se mete a escrever e “entender” de velhice está muito longe de chegar lá, e conta apenas com o achismo e o ego gigante. Siga seu próprio caminho, cada um sabe de si e você está em ótima companhia: você, a velhice e o sopro divino da vida. 

- Marli Soares Borges -


quarta-feira, outubro 28, 2020

CONSTATAÇÃO




O que resta para nós, mais velhos, é torcer pelo melhor; não temos mais energia para todas as lutas.

Depois de uma certa idade viramos pragmáticos: calculamos o tempo que nos resta, nossa saúde e família, e passamos no máximo a reclamar.

Tudo é mais dolorido e nossa recuperação é mais lenta.


Marli.

terça-feira, outubro 02, 2018

SENHOR, ENVELHECI...







Senhor, envelheci. Dá-me Tua mão e me ajuda nessa trajetória. Me salva de ser um peso na vida do meu marido, dos meus filhos e dos meus netos... antes, apaga a luz e me tira da cena. A simples ideia de vê-los preocuparem-se com minhas doenças, me aterroriza. Por piedade, não me tira a autonomia, não me transforma num vegetal. A vida é tão bonita, tem tanta coisa boa a apreciar e não quero que meus afetos, por minha causa, acabem perdendo oportunidades preciosas de aproveitarem suas vidas se alegrarem. Quero-os livres desse tipo de preocupação. Me salva Senhor, me carrega em teus braços. Amém.

Marli Soares Borges

🎶🎈FELIZ DIA DO IDOSO!🎈🎶

quinta-feira, outubro 01, 2015

DIA DO IDOSO, MINHA ORAÇÃO



MINHA ORAÇÃO
 
Senhor, envelheci. Dá-me Tua mão e me ajuda nessa trajetória. Me salva de ser um peso na vida de meus filhos e netos. A simples ideia de vê-los preocuparem-se com minhas doenças, me aterroriza. Por piedade, não me tira a autonomia, não me transforma num vegetal. A vida é tão linda, tem tantas belezas para apreciar e quero que meus filhos e netos não percam oportunidades preciosas de se alegrarem, livres desse tipo de preocupação. Me salva Senhor, me carrega em teus braços, só Tu. Amém. 


Em tempo: em vez de "idoso" prefiro "velhos", uma palavra que acho mais sincera.


Marli Soares Borges, (c) 2013

quarta-feira, outubro 01, 2014

1º DE OUTUBRO - DIA DO IDOSO (SOU DESSA TURMA)



O Brasil está envelhecendo
 Em 2025 seremos o sexto país mais velho do mundo.

Tenho lido muito sobre o envelhecimento e a quantidade de velhos que andam dando bandeira por aí nesse nosso Brasilzão. E concordo com a Cartilha do Sesc, quando diz que "o Brasil está envelhecendo". Imagine você que em 2025, seremos o sexto país mais velho do mundo, o que significa que, um em cada quatro brasileiros terá mais de 60 anos! Tudo indica que em poucos anos teremos mais pessoas velhas do que crianças no planeta. Já viu.

Claro que o aumento da longevidade é uma conquista social, mas por outro lado, o envelhecimento populacional é visto com preocupação pelos especialistas, porque acarreta milhões de mudanças nas demandas atendidas pelas políticas públicas, e apresenta novos desafios ao Estado, a sociedade e a família. E isso é um problema gigante. Raciocine comigo: se os velhos perderem a autonomia em razão das doenças da velhice, o que será da sociedade? O que será das familias, filhos, netos, etc, se, de uma hora para outra, seus velhos virarem dependentes?

Segundo a Gerontologia, (ciência que estuda a velhice e o processo de envelhecimento), a autonomia dos velhos está diretamente ligada à boa saúde e ao envolvimento ativo ao longo da vida. Pois é. Mas como manter um envelhecimento ativo? Aí é que são elas: isso tudo custa dinheiro. Grana, muita grana. Quer ver? Precisamos de saúde, porque sem saúde não há qualidade de vida. Temos de ter oportunidade para participar da sociedade, estudar, ir ao cinema, etc. e sem saúde, nada feito, impossível a tal de participação ativa na sociedade. Disso resulta que precisamos de um sistema eficaz de proteção que nos dê segurança para contrapor as perdas que sofremos ao longo do envelhecimento. É mole? E tem mais: precisamos treinamento contínuo para adquirir novos conhecimentos e habilidades, caso contrário, aos 60 anos qualquer pessoa estará obsoleta!

E o dinheiro pra sustentar tudo isso? Cadê o dinheiro? Os velhos precisam de dinheiro sim! E é aqui que entram as políticas públicas voltadas a esse segmento populacional, -- aquelas previstas lá no Estatuto do Idoso. É urgente que saiam do papel e funcionem, pois o resultado benéfico se refletirá na sociedade como um todo. Tenho certeza.

Então gente, festejemos o nosso dia, mas lutemos para que essas políticas sejam de fato implementadas, e que a qualidade de vida -- com autonomia -- atinja toda a população. Até porque, os ricos, esses não precisam, eles têm uma boa aposentadoria, um bom plano de saúde. E a sociedade está dando a eles uma oportunidade de envelhecer como nunca houve antes: quando adoecem, existem urgentes respostas tecnológicas para seus males. E tem outra: eles só ficam doentes no finzinho da vida; têm um período rápido de declínio e morrem. Beleza, viveram numa boa, ativos e não ficaram incapazes. Mas a maioria de nós, tem de amargar ali, no sacrifício, e depende do que o Estado oferece – e ele oferece muito pouco. 

Na real estamos envelhecendo em situação de pobreza. Aí você pergunta, mas como, não vivemos num país rico? Sim, rico em recursos naturais, mas pobre, paupérrimo do ponto de vista social! Somos pobres em recursos humanos pensantes, em gente honesta nos altos comandos governamentais, nossos políticos sabem mesmo é ser bons no papo. Sabem muito bem inventar leis que beneficiem os velhos, mas rapidinho já inventam um modo legal de não cumpri-las. O vírus e o anti-vírus, todos criados ao mesmo tempo, de caso pensado para que a tal da lei de Gérson entre discretamente em ação. Ou você pensa que essa lei caiu em desuso? A corrupção é tanta, que o governo rouba uma parte, até mesmo da quantia miserável que os velhos recebem a título de aposentadoria; infelizmente o governo conseguiu aviltar a única coisa boa da qual os aposentados poderiam se orgulhar: a recompensa de se aposentarem, pelo tanto que pacientemente descontaram de seus ganhos durante toda sua vida laboral. Mas pensar nesses descontos, agora na velhice, é motivo de arrependimento e dor. A contrapartida não funcionou adequadamente, fomos traídos.

Bom, gente, não quero cansar vocês com meus grilos, então vou parar por aqui, mas não posso sair sem dizer uma coisa que considero de vital importância nesse processo. É o seguinte: para mim, esses desafios do agora não dizem respeito apenas às políticas públicas e ao cumprimento do Estatuto do Idoso. Eles começam no modo de agir das pessoas, no exemplo de vida que estão deixando às novas gerações, na gentileza, atenção, respeito e carinho que dispensam aos velhos, na rua, no ônibus, nas filas, etc. 

Extirpar um preconceito e dar exemplo de vida é um desafio e tanto! Eu sei. De minha parte, vai uma dica aos jovens: -- Galera, fiquem antenados, quem não morre cedo, velho haverá de ficar! C'est la vie! Pensem nisso e façam a sua parte. Tratem muito bem os velhos.

Enfim. No nosso dia, parabéns a nós, idosos, (prefiro a palavra "velhos", que acho mais sincera), parabéns a nós que estamos aqui, com saúde, vivinhos da silva, nos divertindo na internet!

Em tempo: 1º de outubro, Dia Internacional do Idoso e também o Dia Nacional do Idoso, (instituido pela Lei 11.433/2006). Para a legislação brasileira, idosa é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. 

- Marli Soares Borges -

segunda-feira, maio 05, 2014

QUILOMETRAGEM


dúvidas
"A dúvida é o princípio da sabedoria"
Sei não, Aristóteles, não me sinto sábia, apesar das dúvidas... rsrsrsrs

A propósito dessa linda imagem outonal, não sei porque, acabei associando com uma coisa que me encucava no passado. É que o pensamento social da época, conferia poder aos mais velhos baseado num conhecimento "incontestável", que denominavam "Sabedoria Dos Mais Velhos". Era mais ou menos assim, a pessoa envelhecia e virava sábio! E nós, crianças, a bem de salvar a nossa pele, andávamos de bico calado, afinal a gente não sabia nada mesmo! Mas o tempo não pára, e agora aqui estou no escaninho dos mais velhos. E o problema é que andei, andei, e não encontrei a tal Sabedoria, aliás, nesse quesito minha bolinha anda meio murcha... as dúvidas me assolam cada vez mais e pelo visto a idade não me presenteou com as Grandes Respostas. Tenho apenas uma certeza: idade não é elemento substancial nem caracterizador de sabedoria e muito menos passaporte para o saber. Pensando bem, o que nos dá alguns quilômetros de vantagem nessa corrida é a experiência, que nos ensina a ocultar as coisas que ignoramos e fazer de conta que sabemos. E por conta dessa quilometragem, até nos arriscamos a lascar alguns conselhos por aí.

Olha só o que encontrei nas minhas andanças na web. Fiz algumas adaptações, claro, rsrsrs: tão velho, mas tão velho que parece que quando Deus disse: Faça-se a luz, ele puxou a fiação.

"A experiência é aquilo que lhe permite reconhecer um erro quando você o comete de novo". Ah, mas esse Earl Wilson também é de lascar!

- Marli Soares Borges -

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

TORTURA CHINESA


Eu estava muda. Ela falava alto e gesticulava... e quase gritava. Não estava gostando de nada, nem de ninguém, a começar pela recepção e administração, incluindo garçons e jardins. Ninguém e nada prestava. O cardápio era uma droga, os guardanapos eram descartáveis, de papel, onde já se viu? E enquanto anunciava que era muito viajada seguia atropelando as palavras. Como é mesmo o seu nome? Marli, eu disse. Ah, sim, o meu é Amália, prazer. Olha, Marli, digo isso porque conheço o mundo inteiro, já me hospedei em diversos resorts e esse aqui é só mais um. Sabes, Marli, sou ativista social na rede. Você sabe o que é isso? E enfatizou: a-ti-vis-ta-so-ci-al. Você não me conhece, eu faço estragos na internet! E esse resort vai sentir o meu poder, vou terminar com ele. Não se trata de dinheiro, que isso não é problema para mim, sempre ganhei e ganho muito bem, e blablablá. Bom, aí então, ela só faltou me dizer que tinha um jatinho, ali na frente, esperando suas ordens para decolar.

E não parava. Mas como, nesse resort não tem um transporte interno até a praia, só para os idosos? E não tem alimentação especial para obesos? (Aí eu, discretamente, dei uma visualizada no shape: ela era grande, em altura e em largura. Avantajadíssima). E você notou que não tem alimentação especial para crianças e que as babás só trabalham até as seis? E o spa que não funciona 24 horas, um horror. E os jardins, pra quê tanta coisa? Salão de jogos, que bobagem. Meu neto, pobrezinho, ele veio comigo, junto com minha filha e meu genro, e ele só tem dois anos e ele não está tendo o que fazer! E a sauna, o que é aquilo? E a hidromassagem? É tudo muito desnecessário, afinal as pessoas estão em férias. E repetiu, aumentando os decibéis: des-nes-ces-sá-ri-o! Olha Marli, juro por Deus, eu não sabia. É a primeira vez que venho para esses lados e estou achando tudo muito caro! Olha, com esses preços, nunca mais! Se eu soubesse que esse resort era tão caro eu não teria vindo! E nem adianta você me dizer que está adorando e que você está se divertindo e que você adora praia, que não vou acreditar. (Detalhe: eu não disse uma palavra, não consegui sequer abrir a boca). Muito chato a gente topar com figuras assim, descompassadas. Avemaria!

Incrível como são as coisas, sem mais nem menos, ela me abordou: bom dia, vai a praia hoje? (eu estava batendo fotos). Pronto caí na rede! E o preço? Esse sim, posso afirmar que foi caro demais. Ninguém merece ouvir tantos desatinos numa manhã de férias. No final das contas, eu já estava era querendo matar meu marido, que não aparecia para me salvar. "Não quis atrapalhar a conversa" ele me disse mais tarde, se matando de rir. Engraçadinho! Mas, enfim, relatei o fato.

Tem gente que não se toca mesmo e não importa a idade, a propósito, a tal senhora tem 63, dois menos que eu. Nossa, morro e não vejo tudo. E não é que no dia seguinte, avisto a mesma figura, alugando a orelha, ou melhor, torturando um dos jardineiros? Coitado. 

Em tempo: o fato é real, aconteceu na semana passada, durante nossas férias em Fortaleza, mas o nome da senhora é fictício.

- Marli Soares Borges -

sexta-feira, julho 19, 2013

ORAÇÃO PARA SER UMA VELHINHA LEGAL

Senhor, tu sabes que estou envelhecendo a cada dia...

Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.

Livra-me, também, do desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros. Ensina-me a pensar nos outros e ajudá-los, sem me impor, mesmo considerando a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante. Tu sabes, Senhor, que desejo ter uma boa relação com meus filhos e que só conseguirei isso, se não me intrometer na vida deles.

Livra-me Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa. E não permita que eu fale mal de alguém.

Ensina-me a silenciar sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando, e com isso a vontade de descrevê-las vai crescendo, a cada ano que passa. Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias, seria pedir muito. Mas ensina-me Senhor, a ouvi-las com paciência.

Ensina-me a maravilhosa sabedoria de aceitar que posso estar errada em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que sempre acertam são maçantes e desagradáveis. E sobretudo, Senhor, nesta prece te imploro: mantenha-me o mais amável possível.

Livra-me de ser santa. É difícil conviver com santos. Mas uma velha rabugenta, Senhor, é obra-prima do diabo!

Amém!

Nota: Sem autoria. Recebi por email e dei uma repaginada para arrumar o português e facilitar a leitura.

quarta-feira, novembro 07, 2012

ELA NÃO DEIXOU BENS

Olá!!

Vou repassar pra você um poema que recebi hoje. Acho que vale a pena. Foi encontrado nos pertences de uma velhinha, num hospital de doenças da velhice. Foi o único bem que ela deixou. Pra variar está sem autoria, o que acho uma sacanagem. Porque não colocaram logo o nome da velhinha, se sabiam que foi ela quem escreveu? Pois é, mas pelo que li no email, o dito poema foi publicado na edição de Natal da "União para a Saúde Mental", (sei lá o que é isso), na Irlanda do Norte. Não me pergunte nada, não saberei responder. Estou vendendo o peixe pelo preço que comprei. Mas bem que eu gostaria de ver a tal publicação, só pra conferir os créditos! Tsc, tsc.

Mas quero registrar aqui, as minhas impressões. 

Achei o poema delicado, simples e extremamente sensível. De uma riqueza emocional que quase não se vê, hoje em dia, nas poesias. Os sentimentos estão muito bem desenhados, e em certas passagens até me senti abduzida pra dentro do texto, -- o que obviamente denuncia que sou uma dinossaura --. Muito detalhe, muita sutileza, muita vida vivida. Um lindo poema. 

A VELHA RABUGENTA

Que vêem amigas?
Que vêem?
Que pensam quando me olham?

Uma velha rabugenta não muito inteligente de hábitos incertos,
Com seus olhos sonhadores fixos ao longe?

A velha que cospe comida
Que não responde ao tentar ser convencida...
"De, fazer um pequeno esforço?"

A velha, que vocês acreditam que não se dá conta
Das coisas que vocês fazem
E que continuamente perde a sua escova ou sapato?

A velha, que contra sua vontade,
Mas humildemente lhes permite fazer o que queiram,
Que me banhem e me alimentem,
Só para o dia passar mais depressa...

É isso que vocês acham?
É isso que vocês vêem?
Se assim for, abram os olhos, amigas,
Porque isso que vocês vêem não sou eu!

Vou lhes dizer quem sou,
Quando estou sentada aqui,
Tão tranquila, como me ordenaram...

Sou uma menina de dez anos,
Que tem pai e mãe,
Irmãos e irmãs que se amam.

Sou uma jovenzinha de dezesseis anos.
Com asas nos pés, e que sonha encontrar seu amado.

Sou uma noiva aos vinte
Que o coração salta nas lembranças,
Quando fiz a promessa que me uniu até o fim de meus dias
Com o AMOR de minha vida.

Sou ainda uma moça com vinte e cinco anos,
Que tem filhos,
Que precisam que eu os guie...
Tenho um lugar seguro e feliz!

Sou a mulher com trinta anos
Onde os filhos crescem rápido
E estamos unidos com laços que deveriam durar para sempre...

Quando tenho quarenta anos
Meus filhos já cresceram e não estão em casa...
Mas ao meu lado está meu marido
Que me acalenta quando estou triste.

Aos cinquenta, mais uma vez comigo deixaram os bebês, meus netos,
E de novo tenho a alegria das crianças,
Meus entes queridos junto a mim.

Aos sessenta anos, sobre mim nuvens escuras aparecem,
Meu marido está morto;
Quando olho meu futuro me arrepio toda de terror.

Os meus filhos se foram,
E agora tem os seus próprios filhos...
Então penso em tudo o que aconteceu e no amor que conheci.

Agora sou uma velha.
Que cruel é a natureza...
A velhice é uma piada
Que transforma um ser humano em um alienado.

O corpo murcha.
Os atrativos e a força desaparecem.
Ali, onde uma vez teve um coração
Agora há uma pedra.

No entanto nestas ruínas, a menina de dezesseis anos ainda está viva.
E o meu coração cansado,
Ainda está repleto de sentimentos vivos e conhecidos.

Recordo os dias felizes e tristes
Em meus pensamentos volto a amar e a viver o meu passado.
Penso em todos esses anos que se foram,
Ao mesmo tempo poucos,
Mas que passaram muito rápido,
E aceito o inevitável...
Que nada pode durar para sempre...

Por isso, abram seus olhos e vejam
Diante de vocês não está uma velha mal-humorada,
Diante de vocês estou apenas “EU”...

Uma menina, mulher e senhora.
Viva...! E com todos os sentimentos de uma vida...

Beijos a todos.


terça-feira, março 22, 2011

NOVAMENTE O OUTONO...


Com a chegada do outono (que adoro!), tenho lido várias postagens nos blogs que acompanho. Cada uma melhor que a outra. Então lembrei que ano passado também andei escrevendo a respeito. Fui lá no post e li novamente. Sinceridade? Acho que vale a pena trazer agora para conhecimento dos leitores mais recentes do blog.

Então pra facilitar transcrevi para cá. 

O OUTONO DA VIDA
por Marli Soares Borges 

Desde que me conheço por gente ouço falar no outono da vida. Saí a procura de respostas e não encontrei. Resolvi... bem, tive que viver. Agora eis-me aqui, no outono de minha existência. Calma, é que andei fazendo umas pesquisas e segundo apurei 60 anos é idade outonal. Pois que seja. Aqui estou. Só para esclarecer, outono aqui é sinônimo de velhice.

No outono você sabe, o cenário é outro, as folhas caem, as árvores perdem suas roupagens coloridas e o chão vira um lindo tapete florido. A temperatura é mais amena e o céu é de um azul intenso, lindo de doer! É tempo dos frutos. Mas a gente tem de varrer o chão todo o dia para que a beleza resplandeça e o tapete de flores se renove. O outono da existência também é assim. O cenário é outro e reclama trabalho para que a beleza resplandeça.

Se a gente muda? Meu Deus, muito!! Falando por mim, claro, mudei interna e externamente. (Mas a mudança interna é bem mais lenta, e isso é bom, embora a gente às vezes tenha que pagar alguns micos, rs). Tô aqui me desentendendo com a menopausa, com as gordurinhas, com as lentes de meus óculos, com os ossos doloridos e outras mazelas que tais, mas nada que me impeça de rir, de emocionar-me, de fazer o que gosto, (o gosto da gente também muda, graças a Deus) e de continuar sendo útil aos meus semelhantes, pois tenho para mim que o que entristece e mata os velhos de desgosto não é a velhice, mas a sensação de inutilidade social.

Mas se você me questionar sobre o mérito da questão, sobre o que acho da velhice em si, respondo que considero-a como uma fase da vida, simplesmente, como tantas outras que venho passando. Há coisas boas e ruins e, do ponto de vista físico, a gente tem mesmo que aprender a lidar com as perdas, que são muitas e bem significativas, temos que aprender a compensá-las para evitar as frustrações. Temos que tratar de colher os frutos e saboreá-los com muito gosto. Mas isso é um processo, um aprendizado que a gente vai tirando de letra. O que não podemos é emburrecer, hostilizar os mais jovens e amargar a convivência. E por falar em convivência, temos que exercitar essa arte, num clima de respeito mútuo entre velhos e jovens e jovens e velhos. Na convivência saudável há sempre uma renovação. E isso é fundamental no processo de envelhecimento.

Aí leio textos que falam na "melhor idade", na "terceira idade" e outras baboseiras mais. E fico pensando, avemaria pra quê esses eufemismos? Pra encobrir o quê? Ora, tá na cara, pra encobrir o preconceito. Claro, velhice agora virou palavrão!!! Encarar a velhice? Nada. Vamos encobri-la, vamos enganar, infantilizar. (Gente, que maldade!). Pois acreditem, tem até um comercial que diz que tal coisa, nem lembro o quê, é para "idosos com espírito jovem". Licença, aonde vamos? Coitados desses idosos e seus espíritos jovens! Tadinho deles... Imagine se meu espírito jovem deseja participar de um rally, que meu corpo não aguenta... sofrimento atroz né, é no que dá o tal espírito jovem aprisionado num corpo velho!!! Não concordo com isso. Tudo tem seu tempo: infância, juventude e velhice, ado, ado, ado, cada um no seu quadrado, rsrs. E na santa paz. Equilíbrio e bom senso. É mais ou menos por aí.

Não sou a favor de lutar contra o envelhecimento a qualquer preço. Penso que as cores do outono são essas que a natureza pintou, e não está em nós modificá-las, quando muito, podemos avivá-las, pois são muito belas, é só olhar bem, numa boa, sem enganações. Por isso que, no meu outono, sigo fazendo o que posso, trabalho bastante, luto pelo direito dos meus clientes, ajudo meus filhos, dou uma olhadinha nos netos, sem neuras, dentro do possível, que também não sou de ferro. Tenho outros interesses, quero fazer mais coisas: quero ler, escrever, passear e me divertir junto a quem amo. E às vezes sozinha, comigo mesma. Gosto da minha companhia.

Complicado mesmo são as armadilhas que o espelho nos apronta: tem dias que vou em direção a ele acreditando que tenho trinta, olho-me e vejo sessenta, que droga, sei que tem outra ali dentro! E esse espelho que não me mostra? grrr.

Que fazer? O fato é que sempre gostei do outono e continuo gostando, agora dos dois, da natureza e da existência. São duas faces da mesma moeda. No bem e no mal. Mas, cá entre nós, melhor idade mesmo é 25 / 30 anos!!! Eita idadezinha boa!!!! O resto é bobagem. Valha-me Deus!  

E aí, gostou?
Ah, agora lembrei de uma coisinha mais, observe que todo aquele que se refere à velhice como a "melhor idade" ainda não chegou lá e para a maioria falta muito tempo, rs. Entendeu?

- Marli Soares Borges -

segunda-feira, novembro 29, 2010

UM POUCO DA VIDA

Sorry, ando out line, atrapalhada, sem tempo, muito trabalho. Dei um ligeirão e fiz um post light. Impossível deixar você sem um babadinho! Rsrs.

Ao post.

Não lembro se li ou se ouvi dizer que, numa certa idade, nós mulheres nos fazemos invisíveis, inexistentes, pois vivemos num universo que cultua a juventude eterna. Eu, como sempre, transportei isso tudo pra minha vida, pois, afinal é o que conheço melhor. Enfim, andei pensando...

É bem possível que eu tenha me tornado invisível para o mundo, que minha atuação no teatro da vida tenha diminuído. Mas por outro lado, nunca me senti tão protagonista e nunca desfrutei cada momento da minha existência como agora. Nunca tive tanta consciência de que existo, como agora. Descobri que sou sensível e forte ao mesmo tempo, descobri em mim misérias e grandezas.

Estou de alma lavada, percebi que sou um ser humano, apenas. Quer saber? Posso me dar ao luxo da imperfeição!! Posso ter fraquezas, enganar-me e até mesmo não corresponder ao que os outros esperam de mim. E daí? Decididamente não sou uma princesa de contos de fada! Mas sabe qual foi a maior descoberta? É que posso ter um montão de defeitos e assim mesmo gostar de mim. \o/

Ao espelho. Ops! Rsrs.

O espelho reflete minha imagem agora. Sorrio. Já não me procuro mais na juventude, no passado. Vou apenas caminhando. Saúdo à jovem que fui, mas deixo-a de lado, ela agora me atrapalha. Seus sonhos e fantasias já não me interessam. É tão bom curtir a vida sem ter que correr atrás de tantos sonhos!! Viajo em muitas sensações. Uma delas é a alegria. Alegro-me do caminho que percorri, assumo meus conflitos e contradições. Hoje é o meu dia, me permito acreditar. Amanhã? Bom, rsrs, amanhã só saberei amanhã. Rsrs. Acho mais divertido viver assim.

Beijos e bom início de semana.
Imagem: aqui

segunda-feira, setembro 27, 2010

HOMENAGEM AOS IDOSOS

Olá!!


Em 1982 foi realizada em Viena, na Áustria uma Assembleia Mundial sobre o envelhecimento, cuja finalidade era qualificar a vida dos velhos através da saúde e da integração social.

Em 1999 o Brasil escolheu o dia 27 de setembro para homenagear os idosos. Acontece que dia 27 de setembro é dia de São Vicente de Paulo, o pai da caridade. Sacou o preconceito? Decerto acharam que esse contingente já estava com o prazo de validade vencido e então nada melhor que uma boa média: Vai uma caridadezinha aí mermão? Mamma mia, rsrs!!! Caridade. Você concorda? Eu não. (Deixa pra lá, rsrs).

Eu, sinceramente preferiria ser homenageada no dia em que o mundo inteiro se antenou para o Direito da população envelhecida, o dia 1º de outubro, "Dia Internacional do Idoso". Acho mais apropriado, até porque a Lei 10.741/2003, Estatuto do Idoso, também foi criada no dia 1º de outubro.

Não, não pense que não sei que o distanciamento entre a lei e a realidade da velhice no Brasil ainda é enorme. Sei disso, mas o fato de existir uma norma estatutária assecuratória de direitos, por si só, demonstra que há uma preocupação real e verdadeira com a velhice. E acho muito bom, aliás, pra quem não sabe, o Brasil é um país de velhos. A OMS que o diga. Então, nesta data, à guisa de homenagem, deixo o meu recado para todos os velhos do Brasil, (e eu me incluo):

Não podemos esmorecer, o debate precisa continuar. As reivindicações devem acontecer em todos os espaços possíveis. Somente a mobilização permanente da sociedade poderá trazer um novo olhar sobre o processo de envelhecer de todos nós brasileiros. Não se contentem com infantilizações, grupinhos de melhor idade, blusinhas amarelinhas, (inhas e mais inhas) e outras baboseiras mais. Tudo bem desbotadinho, rsrs. Exijam seus direitos, uma aposentadoria decente que lhes permita viver com dignidade. O resto é paliativo.

Please, não torça o nariz, a nossa Carta Magna utiliza o termo velhice, que é um estado natural da vida. Idoso é um eufemismo, a gente costuma usar para dourar a pílula.

E agora, emocionem-se com a poesia mais linda do mundo, com a qual inaugurei o meu blog, ano passado. Chama-se INSTANTES, de Jorge Luiz Borges.

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico, correria mais riscos, viajaria mais.
Contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida: claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Eu era um desses que nunca ia à parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente e um pára-quedas: se eu voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Pouco tempo depois de escrever essa poesia, o autor nos deixou para sempre. Mas se a vida não é assim como ele desenhou, então não sei o que é. Pois muitas vezes a gente se apega a um monte de bobagens, esquece o mais importante e deixa a vida passar. Acorde, viva a vida enquanto é tempo, não se compare com ninguém. Alegre-se, pois como disse Chaplin, a alegria é a única coisa que realmente nos ajuda a viver!


Beijos a todos.

P.S. - Sobre o envelhecimento já falei aqui.

quarta-feira, junho 02, 2010

O DECLÍNIO COGNITIVO

Olá, pessoal!

Beleza, zilhões de comentários, avalanches de carinho!  Obrigada gente, ainda bem que tenho vocês, que são tão legais. Muitos beijos e abraços. Fiquem com Deus.

Andei dando uma olhadinha nos meus guardados e olhaí o que achei! Um "Teste Para Avaliar o Declínio Cognitivo de Todos Nós" (In Longevidade do Cérebro: um programa médico revolucionário que aprimora a mente e a memória. - Dharma Singh Khalsa e Cameron Stauth, RJ. 2005, p 26.) 

Bom, "todos nós", alguém até pode achar uma expressão exagerada, mas na falta de outra melhor vale essa mesmo. Pretendo com esse post chamar a atenção para o cuidado que devemos ter com a memória, afinal é ela a única responsável pela nitidez dos retratos de nossa vida.  

Ouvi não sei onde, que uma pessoa sem memória é como um relógio que se derrete, colocação que acho perfeita, ainda mais quando a gente observa essa imagem forte, que sinceramente, não conheço nenhuma outra que transmita com tanta presteza a devastação que assola o ser humano, quando a memória se vai. Chama-se "A Persistência da Memória", (Persistance de la mémoire, 1931) de autoria do pintor catalão Salvador Dalí.




Através dos relógios moles e dependurados, ele mostra o tempo e a memória: o tempo é mutável e relativo e na memória, o passado e o presente se fundem. Dizem os entendidos, que esse quadro nasceu de um sonho que o pintor teve com um camembert escorrendo. Gente, olhem só a genialidade dele: pintou o tempo, que come e também se come.

Esse assunto é muito sério e nós também, não é? Mas, vamos dar uma relaxada que ninguém é de ferro, depois a gente engrena de novo, ok?  Se você não quiser ler, pode pular essa parte, não me importo.
Três senhoras muito velhinhas se reúnem para o chá da tarde. 
– Puxa, acho que estou ficando esclerosada – comenta uma delas.
– Ontem eu me peguei com a vassoura na mão e não me lembrava se já havia ou não varrido a casa. 
– Isso não é nada – diz a outra. – Outro dia eu me vi de pé, ao lado da cama, de camisola, e não sabia se tinha acabado de acordar ou se estava me preparando para dormir. 
– Cruzes! – fez a terceira. 
– Deus me livre de ficar assim! Isola! – e deu três batidinhas na mesa: “toc-toc-toc.” 
Olhou para as outras e emendou: 
– Esperem um pouco que eu já volto! Tem gente batendo na porta!

Voltando...

Carreguem as baterias e... vamos ao teste!

1.   De vez em quando esqueço qual é o dia da semana 
2.   Às vezes, quando estou procurando alguma coisa, esqueço o que estou procurando. 
3.   Meus amigos e minha família acham que estou mais esquecido(a) agora do que costumava ser. 
4.   Às vezes, esqueço o nome de meus amigos. 
5.   É difícil somar números de dois dígitos sem escrevê-los. 
6.   Frequentemente não atendo aos compromissos por esquecê-los. 
7.   Raramente sinto-me animado(a). 
8.   Agora, os pequenos problemas me aborrecem mais do que antes. 
9.   É difícil me concentrar por mais de uma hora. 
10. Sempre esqueço as chaves, e quando as acho, nunca me lembro de as ter colocado ali. 
11. Estou ficando repetitivo(a). 
12. Ás vezes, me perco, mesmo quando estou dirigindo em algum lugar onde já estive. 
13. Com frequência esqueço o argumento que eu estava tentando expor. 
14. Para me sentir mentalmente atento(a), dependo da cafeína. 
15. Agora levo mais tempo pra aprender do que antes. 


RESULTADO: Acima de 9: você pode estar com debilitação da memória associada à idade. Acima de 12: você está com sérias dificuldades. Deve estar nos primeiros estágios do Mal de Alzheimer, e precisará de um teste mais completo e assistência de um médico.

CUIDADO!
Vamos evitar que os arqui-inimigos (o AL e o ZHEIMER) se encontrem na nossa "casa". Se eles se encontrarem a gente dança. Desconfiou da memória? Corre pro médico! 

A memória é a mente. Por isso, os desmemoriados são denominados sem mente. A alma vivifica o corpo; o ânimo exerce a vontade; Quando o conhecimento existe, é mente; Quando recorda, é memória; quando julga o reto, é razão; Quando espira, é espírito; quando sente, é sentido.” Isidoro de Sevilha (c. 560-636), Etimologias, XI, 1, 13.
“E tomou um pão, deu graças, partiu e distribuiu-o a eles, dizendo:‘Isto é o meu corpo que é dado a vós. Fazei isto em minha memória.’” (Lucas, 22, 19).
Até breve!
Marli

sexta-feira, abril 30, 2010

BLOGAGEM COLETIVA - OUTONO

Olá turma!
"Árvore da Vida" de Gustav Klimt

O OUTONO DA VIDA

Desde que me conheço por gente ouço falar no outono da vida. Saí a procura de respostas e não encontrei. Resolvi... bem, tive que viver. Agora eis-me aqui, no outono de minha existência. Calma, é que andei fazendo umas pesquisas e segundo apurei 60 anos é idade outonal. Pois que seja. Aqui estou. Só para esclarecer, outono aqui é sinônimo de velhice.

No outono você sabe, o cenário é outro, as folhas caem, as árvores perdem suas roupagens coloridas e o chão vira um lindo tapete florido. A temperatura é mais amena e o céu é de um azul intenso, lindo de doer! É tempo dos frutos. Mas a gente tem de varrer o chão todo o dia para que a beleza resplandeça e o tapete de flores se renove. O outono da existência também é assim. O cenário é outro e reclama trabalho para que a beleza resplandeça.

Se a gente muda? Meu Deus, muito!! Falando por mim, claro, mudei interna e externamente. (Mas a mudança interna é bem mais lenta, e isso é bom, embora a gente às vezes tenha que pagar alguns micos, rs). Tô aqui me desentendendo com a menopausa, com as gordurinhas, com as lentes de meus óculos, com os ossos doloridos e outras mazelas que tais, mas nada que me impeça de rir, de emocionar-me, de fazer o que gosto, (o gosto da gente também muda, graças a Deus) e de continuar sendo útil aos meus semelhantes, pois tenho para mim que o que entristece e mata os velhos de desgosto não é a velhice, mas a sensação de inutilidade social.

Mas se você me questionar sobre o mérito da questão, sobre o que acho da velhice em si, respondo que considero-a como uma fase da vida, simplesmente, como tantas outras que venho passando. Há coisas boas e ruins e, do ponto de vista físico, a gente tem mesmo que aprender a lidar com as perdas, que são muitas e bem significativas, temos que aprender a compensá-las para evitar as frustrações. Temos que tratar de colher os frutos e saboreá-los com muito gosto. Mas isso é um processo, um aprendizado que a gente vai tirando de letra. O que não podemos é emburrecer, hostilizar os mais jovens e amargar a convivência. E por falar em convivência, temos que exercitar essa arte, num clima de respeito mútuo entre velhos e jovens e jovens e velhos. Na convivência saudável há sempre uma renovação. E isso é fundamental no processo de envelhecimento.

Aí leio textos que falam na "melhor idade", na "terceira idade" e outras baboseiras mais. E fico pensando, avemaria pra quê esses eufemismos? Pra encobrir o quê? Ora, tá na cara, pra encobrir o preconceito. Claro, velhice agora virou palavrão! Encarar a velhice? Nada. Vamos encobri-la, vamos enganar, infantilizar. (Gente, que maldade!). Pois acreditem, tem até um comercial que diz que tal coisa, nem lembro o quê, é para "idosos com espírito jovem". Licença, aonde vamos? Coitados desses idosos e seus espíritos jovens! Tadinho deles... Imagine se meu espírito jovem deseja participar de um rally, que meu corpo não aguenta... sofrimento atroz né, é no que dá o tal espírito jovem aprisionado num corpo velho! Não concordo com isso. Tudo tem seu tempo: infância, juventude e velhice, ado, ado, ado, cada um no seu quadrado, rs. E na santa paz. Equilíbrio e bom senso. É mais ou menos por aí.

Não sou a favor de lutar contra o envelhecimento a qualquer preço. Penso que as cores do outono são essas que a natureza pintou, e não está em nós modificá-las, quando muito, podemos avivá-las, pois são muito belas, é só olhar bem, numa boa, sem enganações. Por isso que, no meu outono, sigo fazendo o que posso, trabalho bastante, luto pelo direito dos meus clientes, ajudo meus filhos, dou uma olhadinha nos netos, sem neuras, dentro do possível, que também não sou de ferro. Tenho outros interesses, quero fazer mais coisas: quero ler, escrever, passear e me divertir junto a quem amo. E às vezes sozinha, comigo mesma. Gosto da minha companhia.

Complicado mesmo são as armadilhas que o espelho nos apronta: tem dias que vou em direção a ele acreditando que tenho trinta, olho-me e vejo sessenta, que droga, sei que tem outra ali dentro! E esse espelho que não me mostra? grrr.

Que fazer? O fato é que sempre gostei do outono e continuo gostando, agora dos dois, da natureza e da existência. São duas faces da mesma moeda. No bem e no mal. Mas, cá entre nós, melhor idade mesmo é 25 / 30 anos! Eita idadezinha boa! O resto é bobagem. Valha-me Deus! 

- Marli Soares Borges -


domingo, janeiro 24, 2010

A VELHICE DE NOSSOS PAIS

Faz tempo, recebi por email um texto falando sobre a velhice de nossos pais. Segundo entendi, somos intolerantes com nossos pais na velhice, e essa intolerância tem origem no medo que sentimos de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. 

Quando o envelhecimento faz nossos pais mudarem os hábitos e assumirem atitudes que outrora eles próprios nunca imaginaram que poderiam assumir no avançar da idade, a gente literalmente desmorona. Afinal, ninguém, nem eles que tiveram experiência com seus próprios pais, lembraram-se de nos informar com a seriedade devida, que um dia chegaria a nossa vez de lidar com eles, na velhice deles. 

Quando a gente os vê assim, em franca fragilidade senil, é como se nosso próprio futuro ali estivesse, zombando da nossa cara. E o medo se instala dentro de nós, afastando nossa segurança e serenidade, tão necessárias para ajudá-los nessa caminhada. Acho que é por aí. 

Agora, uma  rápida pincelada sobre a convivência, do ponto de vista prático, do dia-a-dia. Não acho que sejamos tão intolerantes assim, afinal, no tipo de vida que levamos, qualquer comportamento que fuja da rapidez é absolutamente incompatível com os tempos atuais onde tudo o que se faz é na correria. E é aí que o conflito se instala, a gente correndo e os pais envelhecendo e ficando devagar. E além do mais, a velhice dos pais costuma acontecer ao mesmo tempo que entramos na meia-idade, que nossos filhos crescem, que nascem netos e somos chamados a ajudar uns e outros... Complicado não? 

Mas por outro lado, isso não significa que aprovo a desídia filial. Penso que nada é mais importante que o dever ético que temos de retribuir o aconchego, o porto seguro, o referencial que os pais sempre foram para nós, desde que nascemos. Penso que agora é a hora do equilíbrio, a Cesar o que é de Cesar, e nossa eventual intolerância, embora aceitável, tem que passar logo, por favor, tem que ser só eventual... 

Cobrar o passado, nem pensar! Agora a conversa é outra. Ajudar e cuidar nossos pais na velhice é nosso compromisso intransferível e inadiável, afinal somos humanos e esse é um dos tributos que pagamos pela vida. Quando chega nossa hora de agir não podemos recuar. Já fomos filhos de nossos pais, fomos pais de nossos filhos e agora somos pais de nossos pais e talvez sejamos os únicos referenciais que eles têm no estágio atual de suas existências. É difícil aceitar, mas não estamos aqui a passeio.

 
Marli Soares Borges