Naquele tempo - minha adolescência - era moda as pessoas decorarem o interior de suas casas com plantas ornamentais, principalmente samambaias, plantadas em vasos suspensos, -- aliás, ouvi dizer que a moda está voltando. E vovó tinha várias, e cuidava de todas com amor. Mas havia uma que se destacava, parecia uma renda e era a mais linda de todas. De um verde brilhante era uma planta adulta, forte e saudável. Até que um dia, se não me engano, num sábado, bateram palmas lá fora e vovó correu para atender. Era a vizinha do lado que viera conversar um assunto importante, sei lá... Só sei que assim que ela deu com os olhos na samambaia, desdobrou-se em elogios: coisa mais linda, como você consegue? Deus, ela é toda rendada! Olha, estou maravilhada, esta sim ficaria bonita na minha sala, você me dá uma muda? Claro, disse vovó, assim que 'brotar', farei a muda para você. E a vizinha falava no tal assunto importante e voltava a elogiar a planta. E vovó, que no início estava feliz com os elogios, passou a sentir-se meio desconfortável, com um não-sei-quê de aflição que não conseguia entender, e por isso foi tratando de 'despedir' a visita. Ufa, graças a Deus ela foi embora, suspirou vovó aliviada. Na sequência, entramos na sala e... bom, aí, tomamos o maior susto. A folhagem antes viçosa, jazia agora murcha, A-CA-BA-DA, nem sombra do que fora há poucos instantes! Não conseguimos recuperá-la de jeito nenhum. Estava mortinha da silva e seu destino foi o lixo. E vovó ficou inconsolável.
Verdade, gente.
Olho gordo, disse vovó, inveja da braba, isso sim! Jogou urucubaca em mim e matou minha folhagem! A inveja é uma tristeza, minha filha! Fuja das pessoas invejosas. Valha-me Nossa Senhora!
Guardei aquele episódio na memória e durante muito tempo acreditei em olho gordo. Hoje em dia, não mais. Aprendi que a inveja cumpre sua sina é no coração dos invejosos. Puxa vida, que tipo de gente é essa, que não consegue suportar o sucesso e a felicidade dos outros? Para quê, carregar no olhar esse roubo de energia vital? Dúvidas, sempre dúvidas. Contudo, a idade avançada clareou em mim algumas coisas e penso que embora a inveja mate -- como vovó passou a me catequizar pela vida afora --, ela (a inveja) não tem tanto poder assim. Temos mais é que enfrentá-la com armas de longo alcance: alegria, senso de humor e firmeza. Não vejo a menor necessidade de esconder as coisas novas, o sucesso, e muito menos os dons pessoais que desenvolvemos ao longo da vida. E nada de falsa modéstia também. O ingrediente básico é um só: o bom senso. É assumir -- com firmeza e merecimento -- as riquezas que nos pertencem, mas por outro lado, não pegar carona na ingenuidade e sair por aí alardeando sua vida, seus projetos e esperanças. E por favor, sem ostentações, ok? Assim você acaba atiçando a inveja dos outros!
Xô urubuzada! A urucubaca não me pertence!
Talvez vovó pudesse ter saído ilesa daquele olho gordo, se tivesse conseguido cortar o padrão vibratório da invejosa, usando e abusando do senso de humor, da alegria e da presença de espírito, virtudes que sempre foram tão marcantes em sua personalidade. Mas ela se deixou tocar pelo medo e ficou sem ação.
Guardei aquele episódio na memória e durante muito tempo acreditei em olho gordo. Hoje em dia, não mais. Aprendi que a inveja cumpre sua sina é no coração dos invejosos. Puxa vida, que tipo de gente é essa, que não consegue suportar o sucesso e a felicidade dos outros? Para quê, carregar no olhar esse roubo de energia vital? Dúvidas, sempre dúvidas. Contudo, a idade avançada clareou em mim algumas coisas e penso que embora a inveja mate -- como vovó passou a me catequizar pela vida afora --, ela (a inveja) não tem tanto poder assim. Temos mais é que enfrentá-la com armas de longo alcance: alegria, senso de humor e firmeza. Não vejo a menor necessidade de esconder as coisas novas, o sucesso, e muito menos os dons pessoais que desenvolvemos ao longo da vida. E nada de falsa modéstia também. O ingrediente básico é um só: o bom senso. É assumir -- com firmeza e merecimento -- as riquezas que nos pertencem, mas por outro lado, não pegar carona na ingenuidade e sair por aí alardeando sua vida, seus projetos e esperanças. E por favor, sem ostentações, ok? Assim você acaba atiçando a inveja dos outros!
Xô urubuzada! A urucubaca não me pertence!
Talvez vovó pudesse ter saído ilesa daquele olho gordo, se tivesse conseguido cortar o padrão vibratório da invejosa, usando e abusando do senso de humor, da alegria e da presença de espírito, virtudes que sempre foram tão marcantes em sua personalidade. Mas ela se deixou tocar pelo medo e ficou sem ação.
-Marli Soares Borges -
* Nada contra os urubus (as aves não têm culpa de nada, rsrsrs)
* Nada contra os urubus (as aves não têm culpa de nada, rsrsrs)