Erasmo de Rotterdam (Desidério, para os íntimos) escreveu há quase 500 anos um ensaio denominado "Elogio da Loucura". Acho que essa obra ainda hoje é superimportante para quem pretende abraçar a ousadia, lançar novos olhares sobre o mundo e fugir do saber ingênuo e "normal".
O "Elogio da Loucura" não se dirige a alguém em especial, ele focaliza a louca humanidade. Configura a loucura como energia criativa das ações humanas e sinaliza a necessidade de libertação dos indivíduos de uma possível “opressão da razão” sobre os instintos mais naturais. Claro, por favor, entendam, é a Loucura numa visão romântica e jovial, que ajuda as pessoas a suportarem a vida! É uma alavancada saudável às atitudes! Ele nos mostra de uma forma leve, divertida e espontânea que onde a loucura se instala, encontra-se também o amor, a alegria de viver, a felicidade, e os melhores delírios e emoções de nossas vidas! :)) E ainda explica, hehe: diz que isso se dá porque todos esses sentimentos são sinônimos da loucura! E costura as palavras de modo a deixar claro que aqueles que não reconhecem a necessidade da Loucura, ou seja, a maioria de nós, estaremos fadados a levar apenas uma "vidinha". Mas o mais interessante de tudo é que à medida que a gente vai lendo, nosso raciocínio vai aguçando e aí, simplesmente não tem como discordar, pois a capacidade argumentativa e literária do autor, é notável. E assim, com leveza ele vai tocando nas feridas de sua época... e da nossa também, sim senhor!!! (ou você pensava que fossem outras?). E tem mais um detalhe, aprecio muito a ousadia, o modo fascinante como ele bate de frente com a tradição religiosa da época. E, só para constar, o livro é escrito na primeira pessoa, ou seja, quem fala é a Loucura!!!
Chega. Já falei demais, pelamor!
Eis um pequeno trecho do "Elogio da Loucura"(Encomium Moriae), ensaio de autoria de Erasmo de Rotterdam (1466 — 1536).
"(...) Mas parece que, sem refletir no que sou, vou ultrapassando há bastante tempo todos os limites. Por conseguinte, se tagarelei demais e com demasiada ousadia, lembrai-vos de que sou mulher e sou a Loucura. Ao mesmo tempo, porém, não vos esqueçais deste antigo provérbio dos gregos: Muitas vezes, também o homem louco fala judiciosamente. E não ser que pretendais que, nesse provérbio, não estejam incluídas as mulheres, pois eu disse homem e não mulher. Esperais um epílogo do que vos disse até agora? Estou lendo isso em vossas fisionomias. Mas, sois verdadeiramente tolos se imaginais que eu tenha podido reter de memória toda essa mistura de palavras que vos impingi. Em lugar de um epílogo quero oferecer-vos duas sentenças. A primeira, antiquíssima, é esta: Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo. E a segunda, nova, é a seguinte: Odeio o ouvinte de memória fiel demais. E, por isso, sedes sãos, aplaudi, vivei, bebei, oh celebérrimos iniciados nos mistérios da Loucura."Ah, esse livro é livre, você pode baixar.