quinta-feira, dezembro 03, 2015

INCONSISTENTE




Um discurso limitado a ataques ingênuos ao Cunha. A velha tática que todo mundo já conhece. -- Mas ad hominem não é defesa, Senhora! -- Nem no pronunciamento em que responde ao início do processo de impeachment, ela abandonou as abobrinhas. O que ela disse do Cunha já é de conhecimento público e num governo sério, tais fatos já o teriam afastado do Legislativo, o que faz com que essa 'defesa' só deponha contra ela. E alegar que nunca deu motivos para o impeachment é mais outra de suas mentiras deslavadas sobre o gigantesco esquema de desvio de verbas e chantagem eleitoral, que culminou nas pedaladas fiscais, que são precisamente os fundamentos do pedido de impeachment. Enfim, esse foi um discurso histórico e deve ter contado com o auxílio do Advogado Geral da União, afinal, ela é incompetente, mas não é louca de tratar um assunto pessoal dessa envergadura, com o desdém e inconsequência com que costuma tratar de assuntos menores como os assuntos do povo ou a tragédia de Mariana, por exemplo. Nesses, qualquer improviso serve. Mas foi mal, Senhora! O discurso não valeu, nem mesmo escrito. (notaram que ela leu? há muito eu não via ela lendo um discurso). O que vi mesmo foi uma mulher enfurecida, cheia de ódio, tentando desesperadamente aparentar uma calma e segurança que não tem. Croc, croc, croc, mais pipoca, que o filme é longo.

Marli Soares Borges

domingo, novembro 29, 2015

REDESCOBERTA DO TEMPO


em busca do tempo perdido



A verdadeira alavanca da redescoberta do tempo é a memória involuntária. Aquela memória que "brota" em nós, muitas vezes acionada apenas por um perfume, uma cor, um sabor, uma voz, uma música. O escritor francês Marcel Proust, com apenas um gole de chá e uma mordidinha na "madeleine", (um bolinho em forma de concha) reteve na memória, inesperadamente, material suficiente para escrever sua obra prima, "Em Busca do Tempo Perdido", um dos romances mais lidos da literatura moderna e um dos principais clássicos da história da literatura.

O sabor fez com que ele revivesse detalhes de sua infância que jaziam escondidos na memória. Tudo foi reencontrado e vivenciado na fase adulta. Aquele singelo lanche foi a passagem para uma nova perspectiva sobre sua vida e seu trabalho.

Bom, agora vou tomar um café. Pode ser que minha memória involuntária resolva se manifestar, rsrsrs.

Marli Soares Borges

domingo, novembro 22, 2015

RÁPIDA NO GATILHO



rapidez, gatilho



Cardiologista fumante, nutricionista obeso, músico que ouve funk... o ser humano é um mar de ambiguidades. Sempre fico com uma pulga atrás da orelha quando vejo um escritor(a) que nunca publicou um livro de destaque, ditando regras sobre o que se deve ou não deve escrever, dando dicas de como ser um escritor de verdade. Nem conquistou o mercado e quer dar a receita do sucesso? É a mesma coisa que macumbeiro(a) que vive na maior miséria e promete prosperidade ao cliente. E o vidente que não "vê" quem está do outro lado da linha no telefone? Ué, e ele não é vidente, rsrsrs? E os padres aconselhando casais. Faz-me rir. Claro que dependendo dos campos de "expertise" nem sempre o especialista necessita vivenciar o tema do seu estudo, veja-se o câncer, a aids, o suicídio, etc. Mas tem gente que força a barra mesmo. Nunca fizeram nada de relevante em determinada área e já querem ditar regras. Mas tudo bem, se você for competente como essa telefonista aqui: a pessoa assiste na TV a propaganda de um remédio para emagrecer. Liga e pede informações sobre o produto. Lá pelas tantas surge a dúvida: se esse remédio é tão milagroso assim, porque o apresentador não toma para ficar magro e elegante? E a telefonista responde: ele não precisa: ele é gordo de nascença e, ao contrário dos clientes, não é neurótico com o peso dele... kkk

Marli Soares Borges

terça-feira, novembro 17, 2015

MINI CONTO



Era uma vez uma rede social que ligava pessoas. Com o tempo essa rede foi crescendo e virou um palco, um lugar onde todos eram, de alguma forma, incomuns: mais bonitos, mais inteligentes, mais cultos, mais generosos... enfim, mais interessantes. E as pessoas que antes estavam acostumadas a expressarem livremente seus pensamentos, começaram a sentir-se embaraçadas e constrangidas. Ninguém conseguia mais falar com naturalidade sobre sua vida. Então passaram a compartilhar com os outros apenas os seus sucessos, os seus melhores eus. E aquela rede social que antes era tão bacana, passou a ser um local de gerenciamento de imagens, onde as pessoas só se animavam a aparecer fantasiadas, com máscaras e filtros de todas as cores. E assim a conexão humana foi enfraquecendo, enfraquecendo e dissipou-se no ar. E todos viveram felizes para sempre. Mentira. A história ainda não acabou e ninguém anda muito feliz com isso. 

Marli Soares Borges

quinta-feira, novembro 12, 2015

NUNCA VI TANTA LAMA



Não há mais rio --
Nas águas turvas de lama
ouço o som da morte.


Marli Soares Borges




Imagem Google - Tragédia em MG: Barragem se rompe e enxurrada de lama destrói distrito de Mariana

sexta-feira, novembro 06, 2015

NOVOS TEMPOS



novilíngua, duplipensar



O telefone celular grava suas falas e armazena essas informações. O e-mail, bate-papo e mensagens de texto que você cria, mapeiam suas relações sociais e registram seus pensamentos. As compras no cartão mostram hábitos e gostos. Os termos de pesquisa que você digita no Google ficam gravados e podem ser usados para identificar seu computador. As bases de dados registram outros passos que você dá. Seus desejos mais secretos, as coisas que você jamais contaria a um amigo ou amante são preservadas no computador. Sem falar nas fotos que também dizem muito. E andamos assim,♫ digitando e postando e seguindo a lição, (em novilíngua e duplipensar orwelliano). 

Marli Soares Borges

domingo, novembro 01, 2015

CADA UM FICA COM A SUA


cada um fica com a sua



Está cada dia mais rara a reflexão e o debate aqui na rede. O pessoal passa batido, nada de trocar ideias, cada um fica com a sua e pronto! (Mamma mia, preciso parar com esse pensamento de que as pessoas estão indignadas e envolvidas como eu). Acabo sempre esquecendo que os níveis de comprometimento e disposição de cada um para mudar a realidade a sua volta variam bastante. E tem a preguiça mental, esse tipo de preguiça que parece ser muito mais forte do que a inércia pura e simples. Acho que as pessoas ainda não se deram conta do seu poder como indivíduo pensante e escrevente; do poder da palavra que repercute nas redes sociais. É triste notar-lhes o descrédito em suas próprias razões. Jazem esperando uma ação de um deus no qual sequer acreditam. Querem uma sombra onde não plantaram nenhuma árvore. E isso me assusta, juro. É preciso mesmo aceitar, sem contrapor, o que os outros dizem? Nem sempre. Tem ocasiões em que só as luzes da reflexão e do debate são capazes de iluminar o caminho.  - Marli Soares Borges -

quarta-feira, outubro 14, 2015

O BOMBOM, A FAXINEIRA E O CHEFE




Para evitar injustiças existe em Direito um princípio denominado "princípio da insignificância" que deriva diretamente da proporcionalidade entre o crime cometido e o dano sofrido. E o caso da faxineira que furtou o bombom do chefe, ilustra bem essa questão. Onde já se viu colocar no mesmo nível de gravidade o ato de furtar (para comer) um bombom do chefe e o ato de roubar um banco, por exemplo? Ah, mas o que se condena é a conduta ilícita, dirão alguns! Ok, ok. Como se vê, o assunto requer lucidez e razoabilidade para que a situação se resolva de maneira adequada. E por falar em razoabilidade, que tal lembrar as palavras do Mestre diante de uma circunstância extremamente complexa: "quem nunca pecou, atire a primeira pedra". (Perceba que estou me referindo a um tipo de condenação imediata que as pessoas fazem em desfavor de outras assim que tomam conhecimento dos fatos, mais ou menos, tipo "condenação prévia", na falta de outro termo que esclareça melhor). E condenar por antecipação é sempre um absurdo. Mas isso não equivale a dizer que somente os que nunca pecaram estarão qualificados para denunciarem graves delitos praticados pelos outros: denunciar é uma coisa; condenar é outra e grave delito é mais outra. (Sei, isso é outro assunto). A liberdade exige muito do ser humano, principalmente responsabilidade. 

Marli Soares Borges