No meio do temporal |
- Marli Soares Borges -
Cada vez é mais difícil viver neste início de século. Tudo muito pesado, todo mundo armado, a grosseria grassando. Andamos na velocidade da luz. E de cara amarrada desde o amanhecer. Por onde anda o tempo para viver? Já era. Fizemos da vida uma arena: é ganhar ou perder, viver ou morrer, tal como acontecia no passado com os gladiadores. Uma luta de vida e morte.
Escravos da vida, foi nisso que nos transformamos.
E nesse compasso aprendemos com maestria, a criar e alimentar o medo, em nós e no coração dos nossos afetos. Medo de perder o emprego, de ser mal sucedido nos negócios, de cair em desgraça, de perder coisas. Perder é a morte. Atitudes equivocadas, a meu ver. Sandices, pois as perdas são componentes vitais de nosso crescimento pessoal. Temos que aprender a lidar com as perdas, isso sim.
Acontece que nessa histeria do não perder, andamos por aí sofrendo por antecipação e por bobagens. Coisa que, com um mínimo de criatividade, tiraríamos de letra. Onde se viu sofrer por bobagens, a gente tem que sofrer pelo que realmente é trágico, pelo que faz a vida sangrar.
Está sofrendo? as coisas não estão dando certo, perdeu o rumo, a vida virou madrasta? Pois então chore, descabele-se, grite, esperneie, faça o luto, mas aguente firme. Isso vai passar, nada é permanente nessa vida. Vai passar, ouviu? E por favor, não deixe pelo caminho o discernimento, a serenidade, a leveza, a autenticidade, a gentileza e o sorriso espontâneo. São vestes criativas que sempre nos protegem das intempéries da vida. Não ande nu, no meio do temporal. Você é uma pessoa decente, você não merece esse castigo.
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