sexta-feira, outubro 29, 2021

ESTOU EM PAZ COM A MINHA GUERRA


... em paz com a minha guerra


- Marli Soares Borges


Não lembro se li ou se ouvi dizer que, numa certa idade, nós mulheres nos tornamos invisíveis, inexistentes, pois vivemos num universo que cultua a juventude eterna. Eu, como sempre, transportei isso pra minha vida, pois, afinal é o que conheço melhor. Enfim, andei pensando...

É bem possível que eu tenha me tornado invisível para o mundo e que minha atuação no teatro da vida tenha diminuído. Mas por outro lado, aos setenta e dois, nunca me senti tão protagonista e nunca desfrutei cada momento da minha existência como agora. Nunca tive tanta consciência de que existo, como agora. Descobri que sou sensível e forte ao mesmo tempo, descobri em mim misérias e grandezas.

Percebi que sou apenas um ser humano e que posso me dar ao luxo da imperfeição. Posso ter um montão de defeitos e assim mesmo gostar de mim. Posso ter fraquezas, enganar-me e até mesmo não corresponder ao que os outros esperam de mim, bem-me-quer, mal-me-quer. E daí? não sou uma princesa de contos de fada. 

Ao espelho. 

Ops! Glup! rsrssss. O espelho reflete minha imagem agora. Abro meu melhor sorriso. Um sincero sorriso, pois não me procuro mais na juventude. Há algum tempo encontrei a jovem que fui. O encontro foi breve, uma pequena homenagem e um abraço apertado. 

Na sequência, afastei-a de mim. 

Ela agora só me atrapalha, não temos nada em comum, seus sonhos e fantasias não me interessam. Prefiro andar na vida sem ter que correr atrás de tantos sonhos, é a mágica da vida que me seduz. Ando sempre apaixonada por uma coisa e outra, hoje isso, amanhã aquilo, e assumo meus conflitos e contradições. 

Viajo agora em tempo real. Sentimentos e sensações imediatas: alegria, tristeza, medo, disposição, mágoa, entusiasmo, sei lá. Mas cultivo mesmo, de joelhos, com todo fervor, os sorrisos fáceis e as alegrias singelas. Me acho mais bonita assim, alegre. E quem não gosta de bonitezas? Estou em paz com a minha guerra. 

* * * * * * * * * *

24 comentários:

  1. O melhor que temos a fazer é não nos procurar mais na juventude, Marli.
    No alto dos meus setenta anos quero sombra e água fresca...rs.
    Excelente a sua crônica
    Abençoado fim de semana.
    Beijinhos para e você e ronrons da Juja para Dongo.
    Verena.

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    1. É isso mesmo, Verena. Temos que aproveitar o aqui e agora. O resto é o resto.
      Obrigada por comentar.
      O Dongo agradece e retribui os ronrons e manda lambeijos para a Juja.
      Bjs

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  2. Marli,sempre muito boas tuas crônicas e pra que vamos nos infernizar a nós mesmas: Já chega tudo de fora pra atrapalhar. Estar em paz conosco mesma, nos aceitar, vale tuuuuuuuuuuudo! bjs, lindo feriadão,chica

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    1. Ah, minha amiga, você sempre me elogiando. Obrigada.
      É isso aí, Chica! Vamos viver o melhor que pudermos, que a vida é agora!
      Obrigada por comentar.
      Bjs

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  3. Também estou " em paz com a minha guerra ", Marli e, como fui sempre " invisivel ao mundo " e o meu protagonismo foi só no seio familiar e dos meus Grandes Amigos que me orgulho de ter, sinto uma imensa felicidade por ter conseguido, até aqui, manter-me nessa posição, muito digna, apesar de " mundialmente desconhecida". Também já me encontrei com a minha outra Emilia, aliás, quase todos os dias a vejo, mas, apesar de lhe sorrir e agradecer os bons momentos que passámos juntas, a deixo ir , sem reclamar da pouca atenção que me dá agora. Não lhe digo que já nao3 faz falta nenhuma, pois isso é desconsideração demasiada, mas, na verdade, agora, " poucas coisas temos e comum " e prefiro procurar outras companhias que tenham o mesmo tipo de conversa, que partilhem as alegrias e tristezas do dia a dia, os conflitos e mimos por parte de filhos e netos as desumanidades cometidadas pelo ser humano e a " sujeira que vai no mundo dos poderosos que nos governam. A outra Emilia tinha pouca consciência do mundo em que vivia e, se, por acaso eu começasse a falar destes temas, com certeza, " fugiria a sete pés " concordo contigo, Marli, deixemos a outra que fomos bem quietinha no canto dela e vivamos a nossa realidade, alegres e contentes, aceitando o que temos e o que somos, de preferência, sempre com um sorriso no rosto. O espelho, esse, mal o olho e isso, eu e a outra Emilia temos em comum, de pouco mais serve do que para decorar o banheiro; dou-lhe pouca confiança!!!
    Adorei este teu texto, Amiga! Um assunto pertinente tratado com um bom humor que me encanta. Beijinhos e que tenhas sempre motivos para sorrir. Um bom fim de semana, com saúde, sempre
    Emilia 🌻 👏

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    1. Obrigada pelo comentário, Emília.
      Fico feliz que você tenha gostado do texto. Sempre rezo para que Deus me ajude e sempre me conserve assim, bem humorada. Isso faz parte de minha natureza, não é mérito meu.

      Você faz muito bem procurando companhias que têm o mesmo interesse, a gente precisa de interações. A gente precisa se sentir no mundo. Perfeito. Deixe a jovem Emília, quietinha, sonhando sonhos coloridos e viva sua própria realidade! E vamos que vamos.
      bjs

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  4. Boa tardinha de muita paz, querida amiga Marli!
    É a primeira leitura que faço hoje e, por coincidência (será?), estou em paz comigo, pois a recebi de forma extraordinária em sonho... Ela as vezes precisa de uma injeção de ânimo e hoje a recebo.
    Amo ter a idade que tenho. Gosto de estar onde estou com minhas virtudes e sombras que todos temos.
    Quando à casca, muito mais vale o conteúdo. A ele devemos cultivar valores não findos e eternos.
    Já basta tanta guerra ao nosso redor.
    Que dentro de nós, nossa essência seja pacificadora!
    Gostei muito da sua crônica. Parabéns!
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos ternos de paz e bem

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    1. Que bom que você gostou da crônica Rosélia e que bom que você também está em paz consigo mesma e ama a idade que tem. Isso é uma dádiva espiritual e nos ajuda a seguir vivendo e cumprindo nossa missão evolutiva na terra.
      Muito obrigada por comentar.
      Bjs

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  5. Olá Marli!!
    Parabéns pela beleza de crônica que mais uma vez, você se dá a conhecer. E que linda a sua postura diante da vida, da idade, e do espelho. Somos protagonistas da nossas próprias histórias, e a escrevemos nas páginas em branco dos dias, quando acordamos pelas manhãs. Experiências e vivências, que nos tornam mais de bem conosco mesmas, quando aceitamos o ritmo e o compasso do tempo por onde estagiamos nossa existência.
    Gostei demais de te ler, Marli. Parabéns pela lucidez encantadora.
    Beijo carinhoso.

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    1. Boa noite, Maria Lucia.
      É preciso que aceitemos a passagem do tempo; e isso é um aprendizado e tanto! Sob todos os pontos de vista, tanto os materiais como os espirituais. Nossa caminhada evolutiva não pode parar. E você disse bem: "estagiamos" nossa existência.
      Obrigada por comentar.
      Bjs

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  6. Amei o seu texto. Um grito de existência. De amor próprio. De autoestima. A viver como se cada dia fosse o último! Parabéns 💙🙏🌹
    *
    Não é fantasia nem invenção
    *
    Beijos e um excelente fim de semana.

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    1. É, Cidália, a vida é agora.
      Que bom que você gostou do texto e obrigada por comentar.
      Bjs

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  7. Querida Marli, viver, ainda acho que estar ainda vivendo aos 72 anos, eu também os tenho, amo viver, sentir a vida sem pensar em idade ou coisa parecida.
    Ainda penso que a saúde mental e física é a mais importante, e não tens imperfeições minha amiga, tens experiências de vida, amei seu belo texto!
    Abraços bem apertados!

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    1. Boa noite, Ivone, nós as setentonas, sabemos que a vida é agora. "Sentir a vida" é a cereja do bolo. O resto é papo furado. Obrigada pelo comentário, muito bom você por aqui.
      Bjs

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  8. <O espelho da auto estima e da felicidade, Marli.
    Não é a idade também um posto? Foi com ela que veio a sabedoria de escrever um testemunho tão belo!
    Adorei. Mesmo!
    Um beijinho

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  9. Que coisa mais linda Marli.
    A isto eu chamo de Envelhecer-se, que difere de ficar velho.
    Admiro e aplaudo este pensar, este olhar para dentro.
    Um bom lindo domingo de feliz semana.
    Beijo amiga.

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  10. O marketing com que somos bombardeadas, também propicia a tal guerra... com nós mesmas por qualquer coisa, e muitas vezes, seja em que idade for... é dramático se temos peso a mais, peso a menos, rugas, sardas, borbulhas, pontos negros, se não temos a roupa da moda da marca tal ou o electrodoméstico da moda... se não usamos o detergente de roupa tal, é porque somos desleixadas, o perfume que nos custa os olhos da cara, é que nos dá o aroma de sucesso e auto-confiança... que dura breves instantes... até sermos confrontadas com mais qualquer coisa que nos falte... e que se mostra absolutamente essencial, para a nossa completa felicidade.
    Mas o jogo está virando, Marli! Finalmente as modelos com mais de 50, 60, e mesmo algumas de 70 voltaram a ter trabalho... há marcas de roupa e de produtos cosméticos, já anunciados por pessoas, bem além dos 20 e 30 anos...
    Ainda que sejam essencialmente por motivos económicos, que as grandes empresas, se estão a dar conta de que as pessoas menos jovens, representam uma grande fatia da sociedade, e que muitas delas até terão um desafogo económico, que precisa ser cativado e orientado para produtos mais de acordo com cada faixa etária... mesmo que não sejam pelas razões mais certas... o que é certo, é que a cultura da eterna juventude está a ser ultrapassada...
    Envelhecer, nem sempre é fácil, mas é a melhor garantia de que continuamos por cá, resistindo ao tempo e aos caprichos da vida... só cada um saberá o quanto essa batalha diária de convivência com o espelho, lhe custa... ou já não, quando realmente se conseguiu pacificar interiormente a passagem do tempo, e tal não é impeditivo de se descobrir novas fontes de prazer, descoberta e de desafios diários com tudo o que nos preencha e estimule. Quando não há limitações físicas... não devemos ser nós a erguer barreiras psicológicas que nos impeçam de aproveitar a vida até podermos... não devemos mesmo ser o nosso pior inimigo, em circunstância alguma!
    Adorei por demais o seu texto, Marli!
    Beijinhos! Bom final de domingo e votos de uma excelente semana!
    Ana

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    1. Boa noite, Ana.
      Também acho que a cultura da eterna juventude está sendo ultrapassada, até porque as pessoas maiores de sessenta e cinco anos estão em maior número no mundo inteiro e, na verdade, são os que têm mais dinheiro para gastar. E é preciso que haja produtos para essa faixa etária. E as grandes empresas, demoraram, mas perceberam esse nicho de mercado.

      Acho ótimo que essa cultura pela juventude esteja acabando e que seja por motivos econômicos, afinal é a economia que move o mundo e nós, os velhos - e aqui eu me incluo - não podemos estar excluídos desse processo.

      Sobre o envelhecimento em si, alguém já disse que envelhecer não é fácil, que envelhecer é para os fortes. Não lembro quem falou isso, mas não importa, assino embaixo. Estou sempre dizendo aos "entendidos" de velhice - mas que ainda não chegarem lá: - quer saber quanto custa envelhecer? envelheça! e depois me conte.
      Obrigada pelo comentário. Adoro essas interações.
      Bjs

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  11. Viver cada ano com intensidade e um dia de cada vez, é bom pensar assim. Ser nós mesmos com todo amor, compreensão e garra, tb vibrar com a "aparência do tempo já percorrido"... Creio que isso é uma parte da vida plena, rsss!
    Gostei de refletir e tirar conclusões com o seu ótimo texto, Marli. Bj

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    1. Que bom, Anete!
      A vida é agora! Esse jargão é piegas, mas é muito verdadeiro. E o tempo passa ventando.
      Obrigada por comentar.
      Bjs

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  12. Perfeita a tua crônica, Marli, concordo totalmente contigo!
    Já vivo assim a um bom tempo... as ilusões de quando somos mais novas, não me cabem mais, o que não significa que eu não esteja aproveitando cada segundo da minha vida, pelo tempo que for.
    E quanto aos entendidos em envelhecimento, vão todos catar coquinho, não tem como dar opinião quem não vive a situação. Isso vale para tudo.
    Ainda que me falte anos para eu ser uma sessentona rsrsr não preciso ser visível aos outros que sequer me conhecem de verdade, preciso ser visível para mim mesma e que ao olhar no espelho ou para dentro de mim, eu me sinta feliz com quem fui me tornado e irei me tornando com o passar dos anos.
    Envelhecer é quase uma arte, que temos que aprender a colorir dia a dia, vou me reinventado sempre, adoroooo, me sinto viva, mais liberta, mais eu mesma e isso vale muito mais do que não ter rugas, não que eu as adore rsrsrs mas não voltaria no tempo, se assim fosse permitido, quero o sumo precioso de cada instante. O agora é o mais importante!
    Beijinhos
    Valéria

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  13. Olá, Valéria, adorei teu comentário, você disse que "Envelhecer é quase uma arte, que temos que aprender a colorir dia a dia,..." Pura verdade! e já vou dizendo, pode tirar o "quase" da tua frase, rsrsss, envelhecer é uma arte. Quando chegares lá, verás!
    bjs

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BOM VER VOCÊ POR AQUI!
Procurarei responder a todos e retribuir as visitas com a maior brevidade possível. Abraços. Marli