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quinta-feira, outubro 14, 2021

ALIMENTO MAIS DESPERDÍCIO É IGUAL A INDIGÊNCIA

Alimento+desperdício=indigência
16 DE OUTUBRO
DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO

- Marli Soares Borges


Sobre questões alimentares, tenho visto muita coisa nesse mundo. Mas hoje não vou falar da fome, nem da vida dolorida e indigna de quem não tem o que comer. Quero falar de outra coisa que também  considero muito, muito triste: o desperdício alimentar. Fico indignada quando vejo desperdício de comida, descaso com o alimento. 

Tem pais sem a menor noção, que simplesmente não ensinam seus filhos a se alimentarem. Esses pais fazem parte de um segmento de gente, relativamente jovem e bem de vida. Gente "phyna" que não liga para "ninharias". Acham lindo empurrar comida na goela dos pirralhos e enchem o prato como se a criança fosse um gigante e a comida fosse fugir. E as pobres crianças, escondidas atrás de uma imensa torre alimentar, acabam ficando perdidas e não comem nada. Mas remexem e estragam a comida. Me dá tanto nojo dessas atitudes, que meu estômago chega a embrulhar. As crianças mal educadas desperdiçam comida graças a esses indivíduos preguiçosos, ignorantes e burros que se auto-intitulam "Os pais".  

Não consigo entender essa dinâmica, acho isso uma brutal estupidez, um tipo de coisa que me estressa e me ofende. Falta educação, falta visão, falta elegância, falta compaixão. Esses pais e mães são um triste exemplo do que não se deve fazer e ser. 

Qual é o problema em diminuir a quantidade de comida no prato das crianças e ensiná-las que é melhor repetir do que estragar? Qual é o problema em ensinar os filhos? Dá trabalho? Claro. A educação dói, quem não sabe? mas é necessária sob todos os pontos de vista. Nossa alimentação é sagrada, nosso corpo é sagrado, nós somos criaturas de Deus. Todos. TODOS. Por que estragar a comida que pode alimentar o outro? Me dá uma tristeza ver tanto desperdício e saber que tantos estão com a barriga doendo de fome. 

Fico pensando no que será dessas crianças "phynas" que estão se criando isentas de traquejo social e ambiental. Pobres adultos pobres. É isso que serão: pobres. Trabalharão somente pela comida, pois o futuro do mundo nas questões alimentares não é nada promissor, e com todo esse desperdício, a fome não tardará a chegar para todos. Para todos, eu disse. Os especialistas estão alertando. E o preço da comida, quando tiver, será estratosférico. Já é. Mas esses pais ineptos tem um cérebro de azeitona e não conseguem aquilatar o tamanho do prejuízo que estão causando aos filhos, a si próprios e ao mundo.

Santo Deus, antes que seja tarde, é preciso enfiar na cabeça desses adultos - pais e mães - que desperdício é sinônimo de burrice; desperdício atrai pobreza e limitação; desperdício é prenúncio de indigência material. O alimento precisa ser visto e tratado sob outra ótica: a ótica da suficiência. O suficiente para alimentar-se sem estragar, que esse sim, é o mais claro sinal de inteligência. 

A educação das crianças não pode prescindir da noção cósmica. Não precisa ir longe, logo ali, tem gente que não tem o que comer. Tem gente que tinha tudo e empobreceu e agora não tem mais nada. Querendo ou não, estamos todos conectados e nossas conexões são reais e precisas. 

Podemos fazer alguma coisa? Sim, cuidar do mais importante para nossa sobrevivência: nossos alimentos. Ensinar as crianças, desde pequenas, a não desperdiçarem comida. 

Pais! deixem de preguiça e ensinem seus filhos! O alimento que temos hoje e desperdiçamos, poderá faltar na nossa mesa amanhã. 

Por favor pais, pensem nisso. 

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Em tempo: 
  • Penso que os restaurantes deveriam cobrar pelo desperdício. Deixou comida no prato? Pague o preço. Adulto aprende muito bem quando mexem no seu bolso. 
  • O tema desse ano de 2021 tem uma proposta que vem totalmente ao encontro de tudo o que escrevi: “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida” fonte: Senado
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terça-feira, fevereiro 08, 2011

COMER VERSUS COZINHAR


- Marli Soares Borges -

Comer é uma das melhores coisas do mundo. Cozinhar também. Comer e cozinhar. Eu acho. Mas se você pensa que comer é só encher a barriga e matar a fome, está muito enganada, comer é muito mais do que isso. Comer sacia o corpo e alegra o coração, e não é sem razão que comer tem várias conotações, rsrs. 

Mas cozinhar... vou confessar pra você: saber cozinhar era tudo o que eu queria, saber fazer comida mesmo. Para mim comida é alquimia, é feitiçaria, pura mandinga, é canjerê. E cozinhar é um ato individual e ousado de amar, pois na panela a gente coloca vida ou morte, tempero ou veneno, ternura ou ódio. Tenho inveja daquele pessoal que vive pela cozinha fazendo comidinhas, certamente eles têm cruza com magos, duendes, feiticeiros, bruxas e fadas... sei lá. Você já se deu conta que depois de comer ninguém permanece mais a mesma pessoa? É sim. Acontece uma mágica. A gente muda, pensa diferente, sonha colorido. Tá bom, às vezes não, o tiro sai pela culatra e a gente acaba ficando down... tudo vai depender do contexto, mas uma coisa é certa, quem come fica enfeitiçado na mesma hora. 

Por isso, acho que comer é uma glória, mas saber cozinhar é uma benção!






Quando vi pela primeira vez o filme "A Festa de Babette", simplesmente me achei. 

A história acontece no final do século XIX, num vilarejo na Dinamarca e o filme confirma que a alimentação não pertence apenas ao registro da necessidade humana. E vai fundo nessa reflexão. A começar pela personagem principal, Babette: uma artista que conhece os segredos de produzir alegria pela comida e que sabe tudo sobre a tal mágica a que me referi. E tenho quase certeza de que aqueles moradores rudes da aldeia, também desconfiavam disso, se não, por qual motivo eles estariam com tanto medo de comer o banquete que Babette lhes preparara? 

Era tão estreita a visão daquelas pessoas, -- acostumadas desde sempre a sacrificar paixões e desejos em nome da fé e da obrigação --, que todos tinham 'certeza' que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. Daí o medo gigantesco e o propósito que fizeram de comer de bico calado, sem qualquer manifestação, -- sem sentir o gosto --, afinal eles estariam expostos aos prazeres terrenos da gula. Eles acreditavam que Babette, com aquele jantar, colocaria suas almas a perder e que eles não iriam para o céu. 

Sim, era isso que pensavam, enterrados naquele fim-de-mundo e atormentados por proibições religiosas, limites de pensamento e hipocrisia. Mas, se por um lado eles erraram, (e erraram mesmo), por outro estavam absolutamente certos. Era feitiçaria sim. E da boa, de outro tipo. Não do tipo que eles imaginavam. Dá só uma olhadinha no tamanho do feitiço: começando pela mesa, convidativa, requintada. Toalha, louça, talheres, cristais, tudo perfeito, nos mínimos detalhes. Você sabe, a gente come também com os olhos. Agora o menu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, e vinhos maravilhosos, deusdocéu! Tudo a ver com Adão e Eva, a maçã e o fruto proibido. 

A câmera vai focando o rosto de um a um dos comensais e a gente pode observar o prazer abrandando os sentimentos... transformando pensamentos. O paladar amenizando as aflições da vida e o riso embelezando os rostos enrugados e endurecidos. E as máscaras caindo... -- óbvio, o pecado da gula arrasta outros, tais como o orgulho e a inveja --. 

Mais tarde na rua, saindo do banquete, eles fizeram um grande círculo e todos de mãos dadas cantaram feito crianças... encantados. Felizes. Eram outras pessoas. Olhando para a noite e para a lua pareceu-lhes que a manhã seguinte seria diferente dos outros dias e das outras noites. Foi quase como se o tempo adquirisse outra intensidade.

Em tempo: comilanças à parte, o filme "A Festa de Babete" é na essência, uma alegoria que espelha a gravidade da contradição histórica vivida pelo ser humano. O "jantar francês" de Babette é o espaço onde ela reconstrói seu próprio passado e ressuscita para a vida. Preparando o jantar ela narra sua história e recupera seus referenciais e, jantando, os convidados constroem a narrativa da história de vida de cada um. 

E assim, recuperando-se o passado, outro futuro se desenha.


💙💙💙