Dia do Idoso |
- Marli Soares Borges (c) 2014 -
Tenho lido muito sobre o envelhecimento e a quantidade de velhos que andam dando bandeira por aí nesse nosso Brasilzão. E concordo com a Cartilha do Sesc, quando diz que "o Brasil está envelhecendo". Imagine você que em 2025, seremos o sexto país mais velho do mundo, o que significa que, um em cada quatro brasileiros terá mais de 60 anos! Tudo indica que em poucos anos teremos mais pessoas velhas do que crianças no planeta. Já viu.
Claro que o aumento da longevidade é uma conquista social, mas por outro lado, o envelhecimento populacional é visto com preocupação pelos especialistas, porque acarreta milhões de mudanças nas demandas atendidas pelas políticas públicas e apresenta novos desafios ao Estado, a sociedade e a família. E isso é um problema gigante. Raciocine comigo: se os velhos perderem a autonomia em razão das doenças da velhice, o que será da sociedade? O que será das famílias, filhos, netos, etc, se, de uma hora para outra, seus velhos virarem dependentes?
Segundo a Gerontologia, (ciência que estuda a velhice e o processo de envelhecimento), a autonomia dos velhos está diretamente ligada à boa saúde e ao envolvimento ativo ao longo da vida. Pois é. Mas como manter um envelhecimento ativo? Aí é que são elas: isso tudo custa dinheiro. Grana, muita grana. Quer ver? Precisamos de saúde, porque sem saúde não há qualidade de vida. Temos de ter oportunidade para participar da sociedade, estudar, passear, ir ao cinema, viajar, etc. e sem saúde, nada feito, impossível a tal de participação ativa na sociedade.
Disso resulta que precisamos de um sistema eficaz de proteção que nos dê segurança para contrapor as perdas que sofremos ao longo do envelhecimento. E tem mais: precisamos treinamento contínuo para adquirir novos conhecimentos e habilidades, caso contrário, aos 60 poucos anos qualquer pessoa estará obsoleta! E o dinheiro pra sustentar tudo isso? Cadê o dinheiro? Os velhos precisam de dinheiro sim! E é aqui que entram as políticas públicas voltadas a esse segmento populacional, -- aquelas previstas lá no Estatuto do Idoso. É urgente que saiam do papel e funcionem, pois o resultado benéfico se refletirá na sociedade como um todo. Tenho certeza.
Então gente, festejemos o nosso dia, mas lutemos para que essas políticas sejam de fato implementadas, e que a qualidade de vida -- com autonomia -- atinja toda a população. Até porque, os ricos, esses não precisam, eles têm uma boa aposentadoria, um bom plano de saúde. E a sociedade está dando a eles uma oportunidade de envelhecer como nunca houve antes: quando adoecem, existem urgentes respostas tecnológicas para seus males. E tem outra: eles só ficam doentes no finzinho da vida; têm um período rápido de declínio e morrem. Beleza, viveram numa boa, ativos e não ficaram incapazes.
Mas a maioria de nós, tem de amargar ali, no sacrifício, e depende do que o Estado oferece – e ele oferece muito pouco. Na real estamos envelhecendo em situação de pobreza. Aí você pergunta, mas como, não vivemos num país rico? Sim, rico em recursos naturais, mas pobre, paupérrimo do ponto de vista social! Somos pobres em recursos humanos pensantes, em gente honesta nos altos comandos governamentais, nossos políticos sabem mesmo é ser bons no papo. Sabem muito bem inventar leis que beneficiem os velhos, mas rapidinho já inventam um modo legal de não cumpri-las. O vírus e o anti-vírus, todos criados ao mesmo tempo, de caso pensado para que a tal da lei de Gérson entre discretamente em ação. Ou você pensa que essa lei caiu em desuso?
A corrupção é tanta, que o governo rouba uma parte, até mesmo da quantia miserável que os velhos recebem a título de aposentadoria; infelizmente o governo conseguiu aviltar a única coisa boa da qual os aposentados poderiam se orgulhar: a recompensa de se aposentarem, pelo tanto que pacientemente descontaram de seus ganhos durante toda sua vida laboral. Mas pensar nesses descontos, agora na velhice, é motivo de arrependimento e dor. A contrapartida não funcionou adequadamente. Fomos traídos.
Bom, gente, não quero cansar vocês com meus grilos, então vou parar por aqui, mas não posso sair sem dizer uma coisa que considero de vital importância nesse processo. É o seguinte: para mim, esses desafios do agora não dizem respeito apenas às políticas públicas e ao cumprimento do Estatuto do Idoso. Eles começam no modo de agir das pessoas, no exemplo de vida que estão deixando às novas gerações, na gentileza, atenção, respeito e carinho que dispensam aos velhos, na rua, no ônibus, nas filas, etc.
Extirpar um preconceito e dar exemplo de vida é um desafio e tanto! Eu sei. De minha parte, vai uma dica aos jovens: -- Gente, fiquem antenados, quem não morre cedo, velho haverá de ficar! C'est la vie! Pensem nisso e façam a sua parte. Tratem muito bem os velhos.
Enfim.
No nosso dia, parabéns a nós, idosos, (prefiro a palavra "velhos", que acho mais sincera), parabéns a nós que estamos aqui, com saúde, vivinhos da silva, nos divertindo na internet!
💙 💚 💛 💜
Em tempo: 1º de outubro, Dia Internacional do Idoso e também o Dia Nacional do Idoso, (instituido pela Lei 11.433/2006). Para a legislação brasileira, idosa é a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Parabéns pelo nosso dia!
ResponderExcluirPorém o que vejo é um "romantizar" as pessoas que chegam às idades avançadas! Muitas chegam quase imobilizadas, doentes, sem memória, etc.... E o problema para os que devem cuidar? Não é fácil!
Eu, já com quase 77, não pretendo ficar pra semente e muito menos chegar ao ponto de minha independência perder. Quero partir junto com ela! Não quero incomodar os filhos que cada um suas vidas têm!
São poucos os velhinhos saudáveis, lúcidos e que podem ser donos dos seus narizes!
Então, não acho nada de mais na tal "melhor idade",rs... Mesmo assim, festejemos, pois estamos ainda bem!Gratidão ao Alto por isso!
beijos praianos, chica
Ai, Chica!
ExcluirEssa romantização só atrasa a nossa vida, não é?
Chega de ser invisível, vamos botar a boca no mundo!
Bjssssss
Olá, Marli, um excelente texto, só verdades, começando pela saúde, é aquilo que se sabe, amiga, a desigualdade social gera esses horrores que vemos em todos os setores, o descaso, a corrupção... mas o Estado sabe, vê, e a coisa continua essa vergonha. Vai mudar alguma coisa? Nunca, tô com 200 anos e não acredito. O que tem de mendigos velhos nas ruas... já notaste?
ResponderExcluirUm bom fim de semana, um texto de puras verdades!
Bejins.
Notei sim, Taís, e me dá uma pena...
ExcluirObrigada por comentar.
Bjssssssssss
Oi Marli! Eu também tenho me envolvido muito com esse assunto, ouvindo, lendo, assistindo, enfim te ler só agrega. Ganhamos anos, qualidade de vida mas há tantas outras coisas nisso tudo...
ResponderExcluirOuvi uma discussão interessantíssima sobre o atual tamanho das moradias nas grandes cidades - apartamentos de 25 metros quadrados, onde se o velho da família necessitar, não há lugar para ele ali, não cabe. Cabe as políticas públicas para pensar e ofertar espaços de moradia. Será que estão preocupados com isso?!
Adorei te ler. Beijos
Acho que não há preocupações a respeito, Ana Paula. Certamente contam com milagres do espírito santo. A velhice no Brasil é de amargar!
ExcluirBjssssssssss
Querida Marli
ResponderExcluirTua escrita toca no óbvio que muitas vezes fingimos não ver: estamos envelhecendo, todos nós, como indivíduos e como sociedade. Ela começa com números e previsões, mas logo nos joga para dentro da realidade: o envelhecimento não é uma ideia distante, é um acontecimento coletivo, um espelho em que todos vamos nos reconhecer.
O que mais me impressiona é o jeito como você equilibra humor e denúncia. Voce sabe brincar com a palavra quando fala de “grana” ou da “lei de Gérson” mas por trás da ironia existe um cansaço profundo com a indiferença do Estado. É como se dissesse: não basta viver mais, é preciso viver melhor. E viver melhor custa caro, custa investimento, custa respeito, custa responsabilidade pública.
A parte mais dolorosa, para mim, é quando você fala da aposentadoria. A vida inteira descontando, acreditando que lá na frente haveria recompensa, e agora a velhice vira lugar de arrependimento. A frase “fomos traídos” me doeu, porque é exatamente isso: a sensação de prometeram um descanso e entregaram abandono.
Mas o texto não para na denúncia. Você aponta para algo maior: o modo como tratamos os velhos no cotidiano. Não se trata só de políticas públicas, mas de gestos. É no ônibus, na fila, na rua, na paciência com quem caminha devagar. Ela chama isso de exemplo para as novas gerações e está certa. O modo como olhamos para os idosos diz muito do tipo de gente que somos.
E o fecho é lindo. Voce assume o termo “velhos” sem medo, como quem reivindica autenticidade. E ainda termina celebrando a vida, rindo, “vivinhos da silva” e conectados na internet. É como se nos lembrasse: mesmo em meio às falhas do Estado, existe potência, existe alegria, existe resistência.
Ler você querida é se dar conta de que envelhecer é mais do que um processo biológico. É um lugar social, político, afetivo. E que, no fim das contas, todos nós já estamos a caminho dele.
Beijão
Fernanda
Olha, Fernanda, eu já cheguei lá e, felizmente, minha situação financeira não me maltrata. Mas a regra geral é exatamente o que falei no post.
ExcluirFico feliz que você tenha gostado do texto em si, dos "meandros" da escrita, rs. Quando o assunto é pesado a gente tem que dar uma aliviada, não é? Senão o leitor não aguenta, rs.
Obrigada pelo ótimo comentário.
Bjssssssss
Bom sábado de paz, querida amiga Marli!
ResponderExcluirEstamos velhas a maioria que blogava há quase 20 anos...
Tudo ou muita coisa mudou de lá para cá. eu não era escrava de plano de saúde, por exemplo... Não tinha plano funerário nem dental.
Já era aposentada, caminhava diariamente na orla.
Faz bastante diferenca...
Vida mais saudável junto à natureza.
Os velhos se viram para manter a dignidade como podemos, pois o Estado pensa neles e em seus bolsos.
Uma excelente crônica e posicionamento.
Tenha um final de semana abençoado!
Beijinhos fraternos
A gente faz o que pode, Rosélia, merecemos envelhecer com dignidade, afinal, trabalhamos muito para isso.
ExcluirJá pensou se o Brasil fosse um país sério? Se não houvesse corrupção? Aí sim, com certeza envelhecer seria uma benção! (uma benção mesmo!)
Bjssssss