G A L E R I A

sábado, março 29, 2014

ATÉ O FIM


oração

Se um dia eu deixar de me comover
diante da beleza das coisas, 
não serei mais eu,
serei ninguém.
Um arremedo de mim.
A isso eu chamo 
não viver. 
É morrer.
Escute, Você aí 
Senhor da vida e da morte: 
não vire as costas para mim! 
Não me negues a emoção 
pura e verdadeira
até o fim. 

- Marli Soares Borges - 

segunda-feira, março 24, 2014

O PEQUENO PRÍNCIPE

antoine de sait exupéry

Le Petit Prince, conhecido no Brasil como "O Pequeno Príncipe", é um romance que foi escrito e ilustrado por Antoine de Saint-Exupéry, e publicado um ano antes de sua morte, em 1944. É citado como o livro francês mais vendido do mundo, traduzido em pelo menos 160 idiomas. É mole?

Vou dizer uma coisa pra você. Faz muito tempo que li e venho lendo esse livro. Não o dispenso, pois ele é para mim a representação poética da criança que existe dentro de cada um de nós. É um livro-infantil-para-adultos. A cada leitura que faço encontro um novo significado. É impressionante, mas no decorrer da história a gente vai percebendo nossas mazelas, a inversão dos valores, os equívocos que cometemos ao avaliar as coisas e as pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos remetem, insidiosamente,  à solidão física e psíquica.

Acontece que ao assumir a postura definitiva de adultos, enfiamos a cabeça em nossas preocupações e acabamos sepultando para sempre a criança que fomos. Para Exupéry os adultos eram incapazes de entender o sentido da vida, pois haviam abandonado a criança que um dia foram. Ele achava difícil para os adultos (esses seres estranhos) compreenderem toda a sabedoria de uma criança.

Aff. Será mesmo que nos tornamos 'gente grande' e esquecemos que um dia fomos crianças?

A história é muito legal e acontece bem no meio do deserto, após o avião do autor sofrer uma pane (ah, esqueci: na Segunda Grande Guerra ele era piloto). Começa com o principezinho acordando o autor, com essas palavras: "Desenha-me um carneiro"? A partir daí, temos o relato das fantasias de uma criança, que com pureza e ingenuidade, questiona as coisas mais simples(?) da vida. O livro é recheado de personagens inusitados e plenos de simbolismos. Adoro a passagem onde a raposa ensina ao principezinho o segredo do amor: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”. 

Vamos matar a saudade e ler um trechinho?
"Levei muito tempo para compreender de onde viera. 
O principezinho, que me fazia milhares de perguntas, não parecia sequer escutar as minhas. Palavras pronunciadas ao acaso é que foram, pouco a pouco, revelando tudo. Assim, quando viu pela primeira vez meu avião (não vou desenhá-lo aqui, é muito complicado para mim), perguntou-me bruscamente:
- Que coisa é aquela ?
- Não é uma coisa. Aquilo voa. É um avião. O meu avião.
 Eu estava orgulhoso de lhe comunicar que eu voava. Então ele exclamou :
- Como ? Tu caíste do céu ?
- Sim, disse eu modestamente.
- Ah! Como é engraçado...
E o principezinho deu uma bela risada, que me irritou profundamente. Gosto que levem a sério as minhas desgraças. Em seguida acrescentou:
- Então, tu também vens do céu ! De que planeta és tu ?
Vislumbrei um clarão no mistério da sua presença, e interroguei bruscamente:
- Tu vens então de outro planeta ?
Mas ele não me respondeu. Balançava lentamente a cabeça considerando o avião :
- É verdade que, nisto aí, não podes ter vindo de longe...
Mergulhou então num pensamento que durou muito tempo. Depois, tirando do bolso o meu carneiro, ficou contemplando o seu tesouro.
Poderão imaginar que eu ficaria intrigado com aquela semiconfidência sobre « os outros planetas ». Esforcei-me, então, por saber mais um pouco :
- De onde vens, meu bem ? Onde é tua casa ? Para onde queres levar meu carneiro ?
Ficou meditando em silêncio, e respondeu depois :
- O bom é que a caixa que me deste poderá, de noite, servir de casa.
- Sem dúvida. E se tu fores bonzinho, darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia. E uma estaca.
A proposta pareceu chocá-lo :
- Amarrar ? Que idéia esquisita !
- Mas se tu não o amarras, ele vai-se embora e se perde...
E meu amigo deu uma nova risada :
- Mas onde queres que ele vá ?
- Não sei... Por aí... Andando sempre para frente.
Então o príncipezinho observou muito sério :
- Não faz mal; é tão pequeno onde moro !
E depois, talvez com um pouco de melancolia, acrescentou ainda :
- Quando a gente anda sempre para frente, não pode mesmo ir longe..."

* Os grifos são meus.
* Post publicado originalmente em 28.03.2011

- Marli Soares Borges -

domingo, março 23, 2014

VAMOS BRINCAR COM A CHICA? (2)





A minha frase é:

- Comichão: palavra que me causa coceira instantânea. -

sexta-feira, março 21, 2014

UMA IMAGEM 140 CARACTERES (3)

gramado

Chega, preciso descansar um pouco.
Estou tão feliz, hoje sim consegui tocar de verdade!
Tem gente que pensa que tocar violão é fácil. Não é.

- Marli Soares Borges -

* Participando da blogagem coletiva nos blogues: Meus Devaneios Escritos e Devaneios e desvarios

CONEXÕES QUE SUSTENTAM A VIDA

vida nós

Coitado de quem segue a vida isolado, acreditando que é a causa primeira e última de suas próprias ações. Engana-se quem assim pensa. Ao contentar-se apenas com o que sua própria razão lhe diz, você enfraquece como pessoa, porque constrói uma imagem distorcida de você mesmo, uma imagem irreal dentro do mundo real. E protagonizando esse paradoxo, não me admira que você deixe de levar em consideração as razões dos outros. Você pensa que pensa, mas na verdade, seu pensamento jaz inerte no seu mundinho, afastado da dinâmica da vida e alheio às conexões diárias de todos nós. E quem não interage no mundo, jamais conseguirá perceber as conexões que sustentam a vida. Por isso é que você ainda não percebeu que nosso barco está afundando e que temos -- todos juntos -- que impedir essa desgraça. Querendo ou não, estamos todos ligados uns aos outros, numa relação de absoluta interdependência, ou seja, dependemos uns dos outros para viver e sobreviver nesse planetinha azul. E a cada dia que passa a dependência é maior, portanto urge encarar a realidade: nosso planeta está nas últimas, chegou a hora de abrir os olhos, de pensar coletivamente e manter a vida no mundo. Será que é tão difícil entender a dimensão da conectividade que nos une? Fico boba de ver o comportamento individualista de algumas pessoas que descaradamente, insistem em agir na base do eu-comigo-e-os-outros-que-se-danem. Acredito que diante da destruição da natureza, das doenças e da miséria, somente a ação solidária de todos terá o condão de amenizar o caos social e a fome que se avizinha. É condição básica que se resgate a solidariedade, palavra que utilizo aqui, especificamente como: o sentido moral que vincula o indivíduo à vida e aos interesses da humanidade. Precisamos socorrer-nos mutuamente, antes que seja tarde.

- Marli Soares Borges -

domingo, março 16, 2014

VAMOS BRINCAR COM A CHICA?



A minha frase é:

- Nem tudo que falo brincando é brincadeira! -

UMA IMAGEM 140 CARACTERES (2)


Adotei exatamente a posição sugerida pelo fotógrafo. 
Preciso parecer natural. 
Meu Deus! Essa é minha chance de ouro,
será que vou conseguir?

- Marli Soares Borges -

* Participando da blogagem coletiva nos blogues: Meus Devaneios Escritos e Devaneios e desvarios

domingo, março 09, 2014

DO NASCIMENTO À MORTE

Pintura de Georgia O'Keeffe

Sorry, não torça o nariz, 8 de março é dia de alegria e não podemos passar em branco. "Dia Internacional da Mulher" é dia de saudar-nos umas às outras. Dia de abraços e apertos de mãos. E também de agradecer às mulheres e homens -- muitos deles -- que no passado deram seu sangue para que hoje pudéssemos ostentar os documentos que identificam nossa cidadania.


De lá para cá, estamos avançando a passos rápidos e somos vencedoras na luta pela conquista de nossos direitos. Somos unidas, inteligentes e informadas. Aprendemos a nos articular nos conflitos. Aprendemos que a união é nosso trunfo e estamos abandonando -- aos poucos, é verdade -- a maldita rivalidade que tanto nos escravizou e detonou nossa auto-estima, naqueles tristes tempos em que a gente não era ninguém. Aprendemos a ser solidárias umas com as outras. Confiamos em nós. E digo isso sem medo de errar, porque ninguém consegue avançar no campo dos direitos sem essas qualidades. Portanto, aviso aos navegantes: desistam de tentar nos jogar umas contra as outras. Isso de "dividir para melhor reinar" já era, e cá entre nós, foi um golpe baixíssimo que nos aplicaram durante quase um século e, reconheço, foi uma pedra no nosso sapato, e nos enfraqueceu demais como sujeitos de direitos. Ainda bem que conseguimos neutralizar os ataques e, hoje em dia, somos independentes de dentro para fora. E isso nada tem a ver com sustento, com riqueza, com independência financeira e tals. Nada mesmo. A independência emocional se alicerça em outros fatores e tem outra natureza. E não guarda qualquer relação com a classe social, é igual para todas. A gente simplesmente pensa com a nossa cabeça.

Aleluia!

Mas não pense que estamos com a vida ganha. Não mesmo. Ainda tem muito chão pela frente e muitos direitos a conquistar. Estamos engatinhando na arte de lidar com os homens. Eles não são fáceis quando se adentra no campo dos direitos, o que torna complicado ser mulher. Por exemplo, até hoje, no trabalho, ainda não estamos concorrendo com eles em igualdade de condições. Temos sempre de ser melhores, MUITO melhores. E isso é uma injustiça. Calma. É só uma questão de tempo, as mudanças acontecerão, acredito. E tem muito mais coisas, outro dia escrevo sobre. Agora um alerta, please, não caia naquela conversinha rançosa de que não é pra gente perder a ternura, que não precisamos competir com os homens porque já nascemos na frente e blablablá. Era o que nos diziam lá nas cavernas, para nos engambelar e surrupiar nossos direitos. Chega de papo furado. Nossos direitos são sagrados e vamos continuar lutando por eles. Todos os direitos que temos agora, tiveram de ser conquistados na marra. Ninguém nos deu de graça.

E agora um recadinho: valorizem-se mulheres, além de nosso intelecto, nossa sensibilidade, etc., carregamos em nosso corpo uma graça divina, a maior delas: podemos dar à luz um novo ser! Somos donas desse departamento e ninguém muda isso! E, de quebra, ainda gerenciamos o Departamento do Colinho. Explico. Vivemos a vida inteira dando colinho para os homens, aqueles fortões. Ao nascer lhes damos nosso colinho de mãe, nosso seio que amamenta; na mocidade lhes damos nosso colinho de amante, nosso seio que encanta, e na velhice lhes damos nosso colinho de aconchego, o porto seguro para amenizar suas mágoas. 

Já viu, estamos em todas, do nascimento à morte. Merecemos os parabéns.

- Marli Soares Borges - 

sábado, março 08, 2014

UMA IMAGEM 140 CARACTERES


Cada dia que passa os sintomas parecem se agravar. 
Agora ela tem ficado horas a fio, imóvel, 
empoleirada naquele pneu, 
olhando para o vazio.

- Marli Soares Borges -


Participando da blogagem coletiva no blog "Meus Devaneios Escritos".

quinta-feira, março 06, 2014

DE URUBU E URUCUBACA


Jamais pensei que acreditaria em olho gordo. Até o dia em que acreditei.

Naquele tempo - minha adolescência - era moda as pessoas decorarem o interior de suas casas com plantas ornamentais, principalmente samambaias, plantadas em vasos suspensos, -- aliás, ouvi dizer que a moda está voltando. E vovó tinha várias, e cuidava de todas com amor. Mas havia uma que se destacava, parecia uma renda e era a mais linda de todas. De um verde brilhante era uma planta adulta, forte e saudável. Até que um dia, se não me engano, num sábado, bateram palmas lá fora e vovó correu para atender. Era a vizinha do lado que viera conversar um assunto importante, sei lá... Só sei que assim que ela deu com os olhos na samambaia, desdobrou-se em elogios: coisa mais linda, como você consegue? Deus, ela é toda rendada! Olha, estou maravilhada, esta sim ficaria bonita na minha sala, você me dá uma muda? Claro, disse vovó, assim que 'brotar', farei a muda para você. E a vizinha falava no tal assunto importante e voltava a elogiar a planta. E vovó, que no início estava feliz com os elogios, passou a sentir-se meio desconfortável, com um não-sei-quê de aflição que não conseguia entender, e por isso foi tratando de 'despedir' a visita. Ufa, graças a Deus ela foi embora, suspirou vovó aliviada. Na sequência, entramos na sala e... bom, aí, tomamos o maior susto. A folhagem antes viçosa, jazia agora murcha, A-CA-BA-DA, nem sombra do que fora há poucos instantes! Não conseguimos recuperá-la de jeito nenhum. Estava mortinha da silva e seu destino foi o lixo. E vovó ficou inconsolável.

Verdade, gente.

Olho gordo, disse vovó, inveja da braba, isso sim! Jogou urucubaca em mim e matou minha folhagem! A inveja é uma tristeza, minha filha! Fuja das pessoas invejosas. Valha-me Nossa Senhora!

Guardei aquele episódio na memória e durante muito tempo acreditei em olho gordo. Hoje em dia, não mais. Aprendi que a inveja cumpre sua sina é no coração dos invejosos. Puxa vida, que tipo de gente é essa, que não consegue suportar o sucesso e a felicidade dos outros? Para quê, carregar no olhar esse roubo de energia vital? Dúvidas, sempre dúvidas. Contudo, a idade avançada clareou em mim algumas coisas e penso que embora a inveja mate -- como vovó passou a me catequizar pela vida afora --, ela (a inveja) não tem tanto poder assim. Temos mais é que enfrentá-la com armas de longo alcance: alegria, senso de humor e firmeza. Não vejo a menor necessidade de esconder as coisas novas, o sucesso, e muito menos os dons pessoais que desenvolvemos ao longo da vida. E nada de falsa modéstia também. O ingrediente básico é um só: o bom senso. É assumir -- com firmeza e merecimento -- as riquezas que nos pertencem, mas por outro lado, não pegar carona na ingenuidade e sair por aí alardeando sua vida, seus projetos e esperanças. E por favor, sem ostentações, ok? Assim você acaba atiçando a inveja dos outros!

Xô urubuzada! A urucubaca não me pertence!

Talvez vovó pudesse ter saído ilesa daquele olho gordo, se tivesse conseguido cortar o padrão vibratório da invejosa, usando e abusando do senso de humor, da alegria e da presença de espírito, virtudes que sempre foram tão marcantes em sua personalidade. Mas ela se deixou tocar pelo medo e ficou sem ação.

-Marli Soares Borges -
* Nada contra os urubus (as aves não têm culpa de nada, rsrsrs)

segunda-feira, março 03, 2014

CARNAVAL


Que me perdoem os que não gostam de carnaval, mas eu gosto. Na juventude eu não perdia nada, 'sassaricava' todas as noites e tenho doces recordações. Continuo gostando, mas atualmente minha música mudou: ♫ daqui não saio daqui ninguém me tira... ♫, hahahaha, e não me tira mesmo, minha casa, meu conforto, meu aconchego em primeiro lugar. Já botei meu bloco na rua em outros carnavais e agora quero mesmo é, ♫ ficar no meio do povo espiando, minha escola perdendo ou ganhando, lá no carnaval... ♫, mas o som da bateria, os brilhos, as fantasias, sei lá, o carnaval me seduz! E nessa vibe continuo cantando meu mantra musical (que nunca me negou fogo): ♫ hoje eu não quero sofrer, hoje eu não quero chorar, deixei a tristeza lá fora, mandei a saudade esperar... ♫. Desejo um ótimo carnaval a todos, aos que gostam e aos que não gostam, aos que sambam e aos que não sambam!

- Marli Soares Borges -

SASSASSARICANDO
(Lembrei de Virginia Lane, a Vedete do Brasil, que há pouco tempo nos deixou. Essa música, de 1951, foi um de seus maiores sucessos, senão o maior)

Sassassaricando
Todo mundo leva a vida no arame
Sassassaricando
A viúva o brotinho e a madame
O velho na porta da Colombo
É um assombro
Sassaricando

Quem não tem seu sassarico
Sassarica mesmo só
Porque sem sassaricar
Essa vida é um nó

http://www.kboing.com.br/carnaval/1-47723/