Brrrrr, que frio!!! Lembro de Hilda Hist, poeta íntegra, e sua literatura quente. Você já leu Hilda Hilst? Se não leu, não sabe o que está perdendo. Então, prepare-se para conhecê-la porque agora eu trouxe para você uma crônica que faz parte do meu acervo particular. Acho ótima, perfeita, atual. (Quisera ter sido eu a escrevê-la). Foi publicada no Correio Popular de Campinas - SP, lá pelos idos de 1993, mas como já falei aqui, o talento de Hilda Hilst é imune à passagem do tempo.
Hilda Hilst |
O poeta pode ser violento. A maior parte das vezes contra si mesmo. Um tiro no peito, gás, veneno, um tiro na boca, como fez Hemingway, que também foi poeta em O Velho e o Mar; Maiakóvski, um tiro no peito; Sylvia Plath, gás de cozinha; Ana Cristina César, um salto pelos ares; etc etc etc. "Os delicados preferem morrer", dizia Drummond. Mas esta modesta articulista, sobretudo poeta, diante das denúncias feitas pela revista Veja, todos aqueles poços perfurados em prol de uma única pessoa ou em prol de amiguelhos de sua excelência, presidente da Câmara, senhor Inocêncio (a indústria da seca), e o outro com seu lindo carro às custas de gaze e esparadrapo... Credo, gente, quando você vê televisão ou in loco o povão famélico, desdentado, mirrado... Um amigo meu foi para o Ceará e passou os dias chorando! As crianças todas tortas, todos pedindo comida sem parar... e 500 toneladas de farinha apodrecendo... e montes de feijão desviados para uma só pessoa... (um parênteses, porque meu coração de poeta pede a forca, o fuzilamento, cadeia, cadeia para aqueles que se locupletam à custa da miséria absoluta, da dor, da doença). Gente, eu já estou uma fúria e para ficar mais calma proponho algumas coisas mais sutis, por exemplo: o Esquadrão Geriátrico de Extermínio, a sigla óbvia seria EGE. Arregimentaríamos várias senhoras da terceira idade, eu inclusive, lógico, e com nossas bengalinhas em ponta, uma ponta-estilete besuntada de curare (alguns jovens recrutas amigos viajariam até os Txucarramãe ou os Kranhacarore para consegui-lo) nos comícios, nos palanques, nas Câmaras, no Senado, espetaríamos as perniciosas nádegas ou o distinto buraco malcheiroso desses vilões, nós, velhinhas misturadas às massas, e assim ninguém nos notaria, como ninguém nunca nota a velhice. Nossas vidas ficariam dilatadas de significado, ó que beleza espetar bundões assassinos, nós faceiras matadoras de monstros!
O curare é altamente eficiente, provoca rapidinho a paralisia completa de todos os músculos transversais (bunda é transversal?) e em seguidinha sobrevém a morte por parada respiratória. Ficaríamos todas ao redor do coitadinho, abanando: óóóó, morreu é? Um pedido ao presidente Itamar: severidade, excelência, é ignominioso, indigno, insultante para todos nós, deste pobre Brasil tão saqueado, que essas terríveis denúncias terminem no vazio, no nada, na impunidade. É sobretudo perigoso porque:Beijos a todos e um ótimo final de semana.
de cima do palanque
de cima da alta poltrona estofada
de cima da rampa
olhar de cima
LÍDERES, o povo
Não é paisagem
Nem mansa geografia
Para a voragem
Do vosso olho.
POVO, POLVO
UM DIA.
O povo não é o rio
De mínimas águas
Sempre iguais.
Mais fundo, mais além
E por onde navegais
Uma nova canção
De um novo mundo.
E sem sorrir
Vos digo:
O povo não é
Esse pretenso ovo
Que fingis alisar,
Essa superfície
Que jamais castiga
Vossos dedos furtivos.
POVO. POLVO.
LÚCIDA VIGÍLIA.
UM DIA.
Infelizmente, minha querida, continua de uma atualidade pungente, não só no Brasil, não, não é privilégio vosso.
ResponderExcluirOlha a nobre/pobre Europa!!!
O crime continua a cair em saco roto, esse crime, o mais perverso, o de colarinho branco.
Precisamos, cada vez mais de povo polvo!
Beijos, amiga,
Nina
Parece ter sido escrito ontem à noite. Lindo. ótimo compartilhamento,Marli! beijos,tudo de bom,chica
ResponderExcluirSe trocarmos Itamar por todos os outros que vieram depois (ou mesmo antes), a crônica está atualíssima. E lindíssima e poética e raivosa, mas essencial para um libelo da amargura que nos assola dia e noite e não tem fim. Viva os poetas! rsrs. Abração, Marli. Paz e bem.
ResponderExcluirPS: Eu concordo com o Drummond e acho que o meu irmão fazia parte daqueles delicados que ele citou.
marli
ResponderExcluirEu nunca tinha lido nada dela. Gostei imensamente.
com carinho Monica
Ler,ler e ler maravilhoso texto.
ResponderExcluirobrigada por compartilhar com a gente
beijos Marli
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue maravilha trouxeste, Marli, texto desta poeta íntegra e maravilhosa. Sabes que por muito tempo quiseram atirar pedras nela, mas ela as atirava primeiro.
ResponderExcluirbeijoca, querida.
Que texto forte e tocante,provocador e sincero,verdadeiro e atual,nos trouxeste,querida Marli.Bravo,bravíssimo!!!
ResponderExcluirVim te visitar,pois já estava em falta com a amiga e deparo com esta obra prima...
Marli,estou deste ontem,visitando todos os amigos e,de posse de um imaginário realejo,sorteando pensamentos,e,hoje,
chegou a sua vez.Prepare-se...
"A PROTEÇÃO QUE VOCÊ ALMEJA PODE NÃO CHEGAR PELAS VIAS QUE VOCÊ ESPERA.TAMBÉM PODE NÃO ESTAR NAS MÃOS DE OUTREM,MAS NAS SUAS PRÓPRIAS POSSIBILIDADES.É SÓ ABRIR A TORNEIRA DA INSPIRAÇÃO.
Bjsssss e um final de semana
muito feliz,
Leninha
Marli, que inveja (boa) desse seu tino em escolher textos maravilhosos!
ResponderExcluirHilda Hilst é um encanto.
Beijos
Marli, Hilda Hilst é intensa, forte e fulminante...
ResponderExcluirSempre nos entorpece com suas palavras... depois nos acende em imensas labaredas.
Este é o grande poder desta senhora poetisa.
Abraços
Hilda Hilst... tenho garimpado poemas e me deixo encantar/encontrar por suas palavras. Ótimo sábado, Marli!
ResponderExcluirAMOOOO Hilda Hilst! Amo Marli querida amo amo!
ResponderExcluirEu simplesmente Comecei a escrever por causa desta mulher!
Amo!
VA-LEU pelo post! Demais lembrar dela agora..
esquentou tudo ta 40 graus aqui!
Bejus de Luz pra vc!
To com saudade sua!
<3 :)))))))
Postagem oportunissima,cara Marli.
ResponderExcluirJá vou logo comprar a minha bengalinha.
Lembra-se do filme "Matadores de Velhinhas"? Pois é,os ladrões se deram mal...
Por hora ,uso e abuso de uma arma letal:a palavra.
Sempre q/ posso posto nos blogs e sites toda a indignação q/ transborda do meu ser e toda a raiva q/ essas notícias me causam.
A próxima espinafração,já pronta e baseada em dados reais é sobre a fusão do Pão de Açúcar,
Qdo postar enviarei o link p/ vc. bjs
Oi, Marli, voltei para lhe dizer que amanhã, dentro daquela série LER NÃO CAUSA LER, que publico às segundas feiras, estou citando um texto seu com link para seu blog. Espero que não se incomode, caso contrário eu posso retirar. Meu abraço. paz e bem.
ResponderExcluirVelhinha??? Você??? É ruim hein!!
ResponderExcluirMarli amiga,adoro vir aqui e la no Caca, aprendo tanto sobre os poetas da vida!!!
Quer dizer que ta friao ai é? Vixie...vou te mandar um pouquinho de sol daqui da Florida...rs!!
E vamos balançar esse esqueleto...rs, vai te ajudar a combater a friaca!!!
Pois e...essa fase da adolescencia dos filhotes esta me deixando nostálgica..rs..eta ferro!
Beijocas minha querida.
Marli,
ResponderExcluirVou copiar o que disse a Malu:
Hilda Hilst é intensa, forte e sempre toca meu coração.
"Ela sempre nos entorpece com suas palavras... depois nos acende em imensas labaredas.
Este é o grande poder desta senhora poetisa."
Um beijo
Denise
Nossa!
ResponderExcluirEstou embasbacado!
Muito bom o texto!
Blog sempre bom Marli...=D
Vim da beju e cobrar visita! KKKK
ResponderExcluirTo só com saudade...
Bjus!
Marli, por isso que gosto da sua realidade. E dividir foi de visão.
ResponderExcluirVou sempre aprendendo.
Obrigada
Xeros
Estou apaixonada por esta Hilda!!!! Parece que ela escreveu isso recentemente!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirMarli,
ResponderExcluirSem dúvvida, um texto muito atual. E muito bem escrito, com humor inteligente.
Obrigado por dividi-lo conosco!
Um abraço!
Que seu fim de semana seja de paz.
Wilson
Adorei, Marli!
ResponderExcluirCrítica bem feita e com muito bom humor.
Beijo grande e lindo fim de semana pra vc!
Marli, um texto atual. Necessário. Forte. Irônico. Ótimo.
ResponderExcluirNunca li Hilda, mas já ouvi muito sobre ela. Agora vou procurar por um livro dela. Ela merece aplausos!
Bom domingo!
Eu to com saudadinha de vc ê..
ResponderExcluire então aquela propopsta ta de pé.. de me dar um espaço aqui em teu Blog? Posso te mandar um email? :)))
Vim conhecer teu blog e encontro esta preciosidade,nossa muito bom, eu não a conhecia, nunca tinha lido nada dela, e adorei, obrigada meu anjo por compartilhar, beijos Luconi
ResponderExcluirOi, Marli!
ResponderExcluirQue crônica interessante: séria e divertida.
Não conheço a Hilda, e posso imaginar o que estou perdendo, de fato.
A crônica está atualizadíssima. Os personagens mudaram, mas, o cenário é o mesmo, infelizmente.
Beijos
Socorro Melo
Muito bom, valeu por compartilhar!
ResponderExcluirBeijo, beijo!
She
Olá, querida
ResponderExcluirComo é bom arranjar um tempinho em meio à falta de tempo total pela casa cheia pelas férias do meio de ano!!!
Assim pude apreciar a beleza do texto...
Bjs de paz e espero que tenha tido um feliz dia do amigo.
Eu li e reli, porque é maravilhoso ler Hilda Hilst. É sempre duro dizer ao óbvio descortinar dessa trilha dos brasileiros de não ler. Tenho pena! As livrarias estão fechando as portas e as academias estão abrindo as portas. Triste história de país descomprometido com a educação. Gostei muito. Bom revê-la. Grande abraço
ResponderExcluirMarli
ResponderExcluirDepois de algum tomo vergonha e venho te visitar.
Confesso que nunca li nada de Hilda Hilst, mas foi direto na ferida e sem papas na língua traçou as palavras nuas e cruas.
Ressalto esta frase que achei super:
"velhinhas misturadas às massas, e assim ninguém nos notaria, como ninguém nunca nota a velhice."
Foi muito bom estar aqui.
Beijos
Passando pra saber de você.
ResponderExcluirXeros
Marli, onde andas? Eu pensei que com o frio tivesse só eu congelado e desaparecido... mas pelo que vejo aqui, vc também está hibernando....
ResponderExcluirTudo bem contigo e a familia????
Abraços
Chegar aqui e apanhar com este post
ResponderExcluiré bom demais, porque a admiro
imenso.
Bj./Irene
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Marli,
ResponderExcluirEstava com saudades a tempos não passava por aqui.Li pouca coisa de Hilda Hist mas achei bastante intenso...otima cronica.
beijo.
Saudade.
ResponderExcluirEspero que esteja tudo bem. Fica na paz. bjs.
Oi, Marli, tá tudo bem por aí? Desejo que sim. Receba o meu abraço. Paz e bem.
ResponderExcluirSaudade suas!
ResponderExcluirBjo grande!
Cadê você Marli?? Ta tudo bem??Nao abandonou o blog nao nê?
ResponderExcluirBeijocas!!
Nada muda muito...beijo Lisette.
ResponderExcluirQue massa Marli, entrar por aqui e ver você falando de uma das minhas poetisas favoritas! Sem dúvida o trabalho da Hilda é atualíssimo e de uma sensibilidade sem igual! Você conhece o trabalho Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé - De Ariana para Dionísio - com poemas de Hilda Hilst musicados por Zeca Baleiro? É maravilhoso!
ResponderExcluirOlha, meu espaço Duas ou Três Coisas foi apagado por problemas pessoais, estou com um novo cantinho www.infinitaduvida.blogspot.com se der passa por lá tá?
Beijo Grande :D
Uai, amiga Marli. Deixou-nos por quanto tempo. Nos abandonou?
ResponderExcluirVolte logo que essas férias já duraram muito, rs rs
Abraços!
Olá, Marli!
ResponderExcluirVim comunicar que transferi meus blogs para a plataforma WordPress.
Blog da Maria Lúcia – Língua Portuguesa
http://professoramarialucia.wordpress.com/
Tudo que eu quiser postar – Variedades
http://tudoqueeuquiserpostar.wordpress.com/
Abraços!
Maria Lúcia Marangon
Olá Querida que por muitas vezes encantou minha Gostosura.
ResponderExcluirObrigado por tudo.
Estarei sempre por aqui...bjo
Tá bem de acervo minha amiga Hilda é sempre atual! Um abraço e um Feliz Natal e um Novo Ano do tamanho dos seus sonho!
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