“Um erro traz sempre um erro. Desafiado o destino, tudo será destino." (SÓFOCLES, Antígona) |
Jean Paul Sartre escreveu que viver é ficar o tempo todo se equilibrando entre escolhas e consequências. A bem da verdade não tenho certeza se a autoria desses dizeres é mesmo de Sartre, mas concordo com o que está dito, levando em consideração que podemos exercitar o livre arbítrio e escolher isso ou aquilo. E arcar com o resultado, o que é totalmente lógico, afinal somos seres dotados de pensamento e raciocínio.
Mas até que ponto podemos realmente escolher nosso futuro? O livre arbítrio é tão livre assim? E o destino (imutável), será que ele existe mesmo?
Não sei. O que posso dizer é que, para mim, o livre arbítrio e o destino são questões imbricadas na vida para todo e sempre. Tenho lido algumas discussões teóricas que negam a existência do livre arbítrio mas, ao mesmo tempo, dizem que somos livres para escolher o que é melhor para nós. Complicado isso.
Não acredito em destino como coisa imutável que irá ocorrer custe o que custar. É que isso simplesmente isentaria as pessoas de assumirem a responsabilidade pelos seus atos. Aliás, não consigo imaginar como se sustentaria a ideia de responsabilidade moral sem o livre arbítrio. Se o criminoso não podia evitar o delito, como atribuir-lhe a culpa?
No tocante ao destino, os estudiosos costumam considerá-lo como manifestação do "Karma" que por sua vez seria o resultado de sucessivos exercícios do livre arbítrio. Assim, dependendo das nossas sucessivas escolhas, o destino estaria sempre mudando. É o mesmo que dizer que o destino está em nossas mãos. O argumento que usam refere-se a alguns estudos onde o número de mortes por acidente de automóvel é sempre menor nos países onde as leis de trânsito são efetivamente cumpridas.
Mas aí eu pergunto: quem de nós não sofreu na pele o resultado de acontecimentos completamente alheios à nossa vontade? Coisas que nunca escolhemos, mas que temos de suportar, às vezes pela vida inteira? Seria então o destino? Sei não. Prefiro pensar que se trate de contingências da vida: os acidentes, por exemplo, --e as sequelas-- e tantas outras eventualidades que fogem ao nosso controle, embora algumas vezes resultem diretamente de nossas escolhas. Para mim isso não tem nada a ver com destino, apenas mostra que o livre arbítrio não é imune a influências externas, que está sujeito a inúmeras contingências capazes de mudar nossos destinos num piscar de olhos. Como se vê, o livre arbítrio não é tão livre assim. Por isso é que ainda sigo pensando que tudo o que a gente vive, ressalvadas as contingências da vida, são frutos das escolhas - certas ou erradas - que fizeram por nós na infância e das nossas próprias escolhas na vida adulta.
O quê? Suas dúvidas aumentaram? Toque aqui, as minhas também. Quanto mais se aprofunda a reflexão, mais dúvidas aparecem.
Antes de finalizar, quero dizer de um detalhe que pode colocar uma pá de cal no assunto: a transcendência.
Acredito muito na transcendência, no EU INTERIOR, essa inteligência cósmica que traduz em nós a presença de Deus e nos ajuda a superar e, em certos momentos, a afastar as energias imponderáveis do Karma.
-Marli Soares Borges-
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