Olá, pessoal, tem um livro que acho excelente e que tem tudo a ver com umas discussões que despontam aqui e ali, a respeito das mulheres. Tenho observado que se alguém faz uma abordagem sobre o universo feminino, lá vem um coral cantando que o texto é feminista, etc... e infantiliza a discussão. É um preconceito velado que rotula e hostiliza qualquer coisa que se refira ao panorama feminino, quando os referidos textos tratam de direitos e obrigações, ou seja quando se fala na vida como ela é, porque no mais, a mulher é sempre "linda e maravilhosa". Tenho observado esse viés, nas entrelinhas dos comentários e dos posts que tratam de assuntos quetais. Então trouxe para vocês uma palhinha do pensamento de Wirgina Wolf, uma autora que considero fundamental justamente porque suas considerações focalizam o cerne da questão, a dificuldade da mulher impor-se como ser intelectual e de ser remunerada como tal. Já aviso que essa autora é muito polêmica: é amor ou desamor. (não é ódio, porque ódio não é o contrário de amor, rsrs!)
Trecho do livro “Um teto todo seu” de Virginia Woolf:
"Seria mil vezes lastimável se as mulheres escrevessem como os homens, ou vivessem como os homens, ou se parecessem com os homens, pois se dois sexos são bem insuficientes, considerando-se a vastidão e a variedade do mundo, como nos arranjaríamos com apenas um? Não deveria a educação revelar e fortalecer as diferenças, e não as similaridades? Pois atribuímos às semelhanças um valor exagerado;"
Claro, naquele tempo, 1928, a literatura para ser boa tinha que ser escrita do ponto de vista masculino e a (reduzida) literatura das mulheres tinha de ser parecida com a dos homens. E isso ela nunca aceitou.
Gosto muito de "Um Teto Todo Seu", aliás o título é absolutamente irretocável. No meu entender a autora escreveu esse texto, acima de feminismos, principalmente porque ela disse que a boa literatura está além e aquém dos gêneros, que a boa literatura deve ser escrita por uma mente despojada de preconceitos, mormente, os de gênero.
Embora não seja um texto feminista, com o decorrer da leitura a gente vai descortinando o panorama situacional das mulheres da época, no caso específico as que desejassem atuar em atividades intelectuais. É uma análise ressentida, inteligente e mordaz. Ela defende a tese de que o motivo crucial de haver um número tão insignificante de escritoras na literatura, (lembre-se estamos em 1928!) deve-se às condições precárias e à pobreza material em que as mulheres vivem. Para ela, as mulheres somente conquistarão um lugar ao sol no mundo das letras, no dia que tiverem o direito de ter sua própria renda e um teto todo seu, com chave e tudo. Essa dualidade de espaços - físico e metafórico - é primordial para que a escrita aflore, pois ninguém pode pensar e escrever livremente em meio a tantas limitações, inclusive sem acesso à educação. (Isso nos idos de 1928. Mas no meu pensar, esse assunto ainda é bem atual pois a mulher conquistou direitos --leis, etc-- mas o exercício desse direito ainda está a desejar).
Impressionou-me o poder de argumentação, a luminosidade, a lucidez marcante e, acima de tudo, a coragem dela quando revelou com todas as palavras o tratamento (desfavorável) que os críticos davam a seus próprios trabalhos, (ela era acusada de ser alienada dos problemas do momento, de privilegiar as causas pacifistas, liberais e feministas, como o direito de voto para as mulheres).
E hoje, olhando o passado a gente vê que ela estava com a razão, pois a mulher teve de conquistar muitos outros direitos antes de se firmar no mundo das letras. Sangue, suor e lágrimas. Tivemos que mudar mentalidades. É mole?
Gente, leiam esse livro, vocês podem até nem concordar com as idéias de La Wolf, mas verão que seus argumentos são instigantes, fortes e acima de tudo convincentes. E o cenário? 1928!!!!
Já faz algum tempo que li esse livro (na verdade, antes de ser livro, era um texto que foi escrito e apresentado por Virginia Wolf numa conferência, depois é que virou livro), e nunca esqueci. Não se parece com o "Passeio ao Farol", dela também, que é muito bom, mas é outro tipo de leitura. (talvez eu fale em outro post. Vou pensar)
(c) Marli Soares Borges, 2010
Achei seu post muito pertinente e gostei da abordagem da autora no texto que você nos apresenta aqui.
ResponderExcluirVou colocar o livro na lista dos que pretendo ler.
Um grande beijo e bom dia
Yoyo
Oi Marli!! Parabéns pelo seu blog, passei por aqui de passagem, mas resolvi parar e dar uma espiadinha, está super eclético, bem escrito, iluminado!!! Adorei!!! Beijo grande!!!
ResponderExcluirmuito legal, adorei!
ResponderExcluirbjs
Uma mulher a frente do seu tempo certemante a Virginia Wolf. Adorei os comentários sobre o livro, aliás adorei sua inteligente e convincente abordagem. Bjs
ResponderExcluirPois é, Marli. A gente às vezes nem se dá conta de que perde um tempão por aí lendo em blogs textos de mulheres com o nariz empinadinho, cheiiiiiinhas de opinião disso e daquilo, críticas desse e daquele outro, textos carregados de "gosto" e "não gosto" e duvidosos conhecimentos baseados em pesquisas de Internet que só elas julgam ter importância. No fundo, no fundo, uma pessoinha voltada para seu mundinho, suas preferências, alienada por si mesma e suas supostas "diferenças intelectuais". E com sorte de ter um tempinho extra para blogar.
ResponderExcluirÉ quando leio posts como esse seu de hoje que tenho um alento! Uma brisa de conhecimento refrescante... E ânsia pela familiaridade com boas escritores reconhecidamente intelectuais como Virginia Wolf.
Quando desenvolvemos o hábito por leituras pertinentes, de repente nos vemos capazes de desenvolver textos pertinentes.
Seu post de hoje, como você mesma disse sobre um post meu outro dia (e eu adorei!) foi uma escolha feliz!
Obrigada.
Um abraço,
Michelle
Boa Tarde,bastante interessante seu texto sobre Virginia Wolf.A sugestão é bastante valida para refletirmos.Um livro para se ler com certeza!! Estamos cda vez mais nos distanciando dos seres humanos e nos tornando um chip virtual. Em um mundo robotizado e machista. As mulheres a muito ja ocupam seus espaços em diferentes profissões. Precisa haver o respeito e aceitação dessas gdes mulheres intelectualizadas desejando transformar pensamentos em ação.Pena que algumas só sabem escrever.Mas agir,se doar,ser humana,dar afeto e amizade verdadeiros.È, uma raridade cda vez menos encontrado no planeta terra.Paz e Luz sempre.
ResponderExcluirMarli , adorei seu post...muito inteligente ...Vou anotar a sugestao.Bjim
ResponderExcluirOlá minha querida Marli Borges, que dica importante. A vida fica muito mais leve e inteligente quando a visão de mundo está dentro de um contexto de igualdade de gêneros. Homens e mulheres devem pensar, caminhar, pesquisar, trabalhar, amar, gozar...sempre juntos e harmonicamente, o mundo será melhor e mais feliz. Parabéns pelo sensível trabalho.
ResponderExcluirPaz, harmonia e igualdade,
forte abraço
C@urosa
Querida Marli, excelente dica em seu post...
ResponderExcluirVirginia era uma mulher muito adiante de seu tempo... e vemos que até hoje temos resquícios do que ela e as mulheres daquele tempo viveram... concordo com ela completamente, as diferenças devem ser valorizadas e respeitadas, isto só enriquece.
Parece que tudo o que mulheres vão fazer, ainda nos dias de hoje, em muito, são mais exigidas. Realmente é preciso todos terem respeito por todos.
Deve ser muito interessante este livro.
Beijos...
Olá Marli,
ResponderExcluirJá li esse livro há um bom tempo, cá o título é «Um quarto que seja seu», uma forma metafórica de dizer «o seu espaço próprio» e é esse espaço que ainda hoje deixa muitas reticências, não é só porque os homens não deixam, também é porque muitas mulheres estão de costas voltadas para outras mulheres e baralham o jogo.
Quando descobri Virginia há uns anos, foi uma fascinação, acabei por comprar todas as suas obras, por cá publicadas. Não se pode dizer que a sua leitura seja fácil, mas isso é muito aliciante, além de que ela foi uma escritora de grandes convicções e isso representou para ela grande desassossego e inquietação, que acabou por a levar ao suicídio.
Gostei muito deste post claro!...
Beijinhos,
Manú
Pois é Manuela, é bem assim, algumas mulheres quando lhes chega a vez de darem as cartas, embaralham o jogo e tem de começar tudo outra vez. Para mim, o suicidio de Wolf foi um fato lamentável do ponto de vista humano, mas em nada ofuscou o brilho de suas obras, que continuam elevadas e instigantes.
ResponderExcluirBeijão.
Olá Marli, já fiquei interessada no livro. Parece realmente interessante.
ResponderExcluirSabe que ao mesmo tempo que defendo a luta pela igualdade (salarial, respeito, direito da familia, enfim), acho que tem o lado bom de ser diferente. Pra que igualar tudo, jogar na mesma panela. Gente?! Tem mulher que quer mesmo parecer com homem, em tudo. Eu gosto de ser forte e decidida, mas nao me faço de rogada quando ele quer carregar a compra pesada. Gosto de sair cedo pro trabalho e me sustentar, mas adoro estar muito feminina e aceitar que ele pague o jantar sozinho quando assim combinamos, enfim.
ha que ser batalhadora sem querer virar um brutamontes. E ser feminina é tudo!!!
Penso exatamente como você Lu, sou a favor de direitos iguais, da justiça social, não de igualdade dos sexos, pois nossas naturezas são diferentes e isso é que é bom. A verdadeira justiça não é tratar igualmente todas as pessoas, é tratar desigualmente os desiguais. Tanto as mulheres como os homens precisam ter suas diferenças e necessidades naturais reconhecidas mas os direitos de cidadania tem que ser iguais: oportunidades de trabalho, salário, jornada de trabalho etc. Nada de confusão de sexos, cada um na sua, hehe. Homem é homem e mulher é mulher!!! E os dois são companheiros, andam lado a lado, com suas diferenças naturais.
ResponderExcluirBelo post amiga
ResponderExcluirainda bem que as coisas estão mdando não é?
Beijos
Belo post amiga
ResponderExcluirainda bem que as coisas estão mdando não é?
Beijos
Bom dia, Marli:
ResponderExcluirAdorei a dica de leitura. Já está anotado. Realmente, a autora merece os nossos aplausos. Pois escrever como uma mulher na sua época era um grande desafio. Aliás, ainda hoje, a luta continua. Precisamos educar as gerações para o respeito e a dignidade das mulheres. Parabéns pela postagem querida Marli! Beijos, :)
Bom dia, Marli:
ResponderExcluirAdorei a dica de leitura. Já está anotado. Realmente, a autora merece os nossos aplausos. Pois escrever como uma mulher na sua época era um grande desafio. Aliás, ainda hoje, a luta continua. Precisamos educar as gerações para o respeito e a dignidade das mulheres. Parabéns pela postagem querida Marli! Beijos, :)
Gostei imenso do que li!
ResponderExcluir"Conheço" Virgínia Wolf, nem sempre estou de acordou com o legado dela mas reconheço que ela foi de um valor sem preço para a época. Juntamente com outras mulheres ela deu um grito de alerta para a condoção feminina...
Infelizmente, nos dias de hoje continuam a ser precisas mais Virgínias...
Abracinho
Abordagem moderna e insigante. Adorei e se encontrar, lerei esse texto. Bj. Elza
ResponderExcluirMarli, sua abordagem foi muito bem feita! Acho muito válido tocar nesse tipo de assunto, pois geralmente a gente se acostuma fácil demais a imagens "pré-estabelecidas" e se esquece que as coisas mudam, as pessoas mudam e que o tempo não pára!
ResponderExcluirGostei do post!
Jr.
Marli,
ResponderExcluirVirginia Woolf é maravilhosa. "Orlando" foi considerado um dos 10 melhores livros do século XX. No entanto, para colocar um pouco de debate nesta conversa, penso que a 'escrita feminina' não pertença só às mulheres. O Chico Buarque que nos diga. Mas Virginia é fundamental.
Teu blog também.
Abraços,
Carlos Eduardo
Se puder apareça em: veredaspulsionais.blogspot.com
Com certeza Eduardo, o escrever é manifestação intelectual comum aos seres humanos, independente de sexos e não se confunde com o conteúdo da escrita, que pertence ao seu autor, que assumirá em palavras, as ficções que desejar. Bj.
ResponderExcluirOi Marli,
ResponderExcluirObrigada por me seguir, mas o prazer é todo meu em lhe seguir e em vir aqui.
Gosto da idéia de que os opostos se atraem ou que se amarmos as diferenças faz todo o sentido para nos sentirmos iguais.
Enfim, a humanidade já descobriu que nem tanto a força do homem como nem tanto a sensibilidade da mulher, os colocam como oponentes, adversários. É passível de meio termo. Além do que, somos todos racionais.
Sim, embora ainda haja diferenças nos salários de cada um deles, homens e mulheres, quando em mesmas funções, em determinados ramos do comércio e indústria. E, claro, a solução chega a ser judicial, infelizmente.
Mas, ao meu ver, o que importa, de fato, me restringindo a este seu post, é que Virgínia foi um ícone para chamar a atenção de que as pessoas daquela época, 1928, não poderiam se acomodar e aceitar que
as diferenças pudessem ser motivos de menosprezo. Além do que enxergar as dificuldades da mulher e apontar uma saída dentro de uma sociedade patriarcal, mereceu todo um respeito.
Beijos,
É isso mesmo Ana Lúcia, se alguém não levanta a voz e chama a atenção, ninguém vê, ninguém se incomoda!... e o mundo continua na mesma. Ainda hoje é assim, e sempre será. Alguém precisa tomar a dianteira para as coisas acontecerem. Daí o grande mérito de Wolf e de muitas outras mulheres que, infelizmenmte a história obnubilou. Bjs.
ResponderExcluirImportante e oportuno esta crónica.
ResponderExcluirA escolha da Virgínia Woolf, mulher muita à frente na sua época, é a melhor ilustração para a expressão da usa ideia.
Tenhamos esperança porque os tempos estão mudando.
Aproveito para agradecer a sua simpática visita.
Oi Marli,
ResponderExcluirObrigada pela visitinha, adorei seu blog é bem diversificado e também amei assistir "Conduzindo Miss Daisy". Também estou te seguindo.
Grande beijo.
Olá, Marli! O seu post me fez lembrar uma discussão que se desenvolve na academia acerca da classificação da literatura em feminina, afro, gay etc. Acredito que esse trecho da Wolf responde bem essa questão. Segundo um professor que tive na faculdade, a literatura não se define pelo sexo (masculino/feminino) nem pelo gênero (construção social dos papéis sexuais). Além dessas palavras do meu querido professor, seu post me fez lembrar um pequeno trabalho que fiz sobre a obra da poetisa Francisca Júlia que, no final do séc. XIX e início do século XX, produziu uma poesia aos moldes parnasianos e que se caracteriza pela construção de imagens que remetem à masculinidade. Vale lembrar que Francisca Júlia usou desse expediente e daquele de assinar com um nome masculino para ter seus poemas aprovados para publicação nos jornais. Após o casamento, Francisca abandona a poesia e dedica-se exclusivamente aos cuidados do lar, dos filhos e do marido que amava profundamente. Não conheço a obra da Virgínia Wolf, mas fiquei curioso, uma vez que passa por questões que tenho lido, discutido e escrito há algum tempo. Grande beijo!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá! Vou ver se adquiro o livro. Sempre me interesso pelo universo feminino,sem ser feminista.Ainda bem que os tempos mudaram. A liberdade de expressão é pra todos,agora, a mulher realmente inteligente conquistou seu espaço e não perdeu a feminilidade. Muito bom o post. Montão de bjs e abraços
ResponderExcluirOlá! Vou ver se adquiro o livro. Sempre me interesso pelo universo feminino,sem ser feminista.Ainda bem que os tempos mudaram. A liberdade de expressão é pra todos,agora, a mulher realmente inteligente conquistou seu espaço e não perdeu a feminilidade. Muito bom o post. Montão de bjs e abraços
ResponderExcluirR E S P O N D E N D O ...
ResponderExcluirQueridos comentaristas
Obrigada por comentarem, tenham a certeza que visitarei cada um em particular, para ler com atenção e comentar seus posts.
efeitoseconceitos
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Pois é, você tem razão, "... Quando desenvolvemos o hábito por leituras pertinentes, de repente nos vemos capazes de desenvolver textos pertinentes." Também penso assim.
C@urosa
Muito bem colocado "...Homens e mulheres devem pensar, caminhar, pesquisar, trabalhar, amar, gozar...sempre juntos e harmonicamente, o mundo será melhor e mais feliz. Parabéns pelo sensível trabalho." É essa a tese que defendo.
ValériaC
Valéria, eu também "... concordo com ela completamente, as diferenças devem ser valorizadas e respeitadas, isto só enriquece. Parece que tudo o que mulheres vão fazer, ainda nos dias de hoje, em muito, são mais exigidas. Realmente é preciso todos terem respeito por todos."
Luciano Azevedo
Luciano, eu também aprendi que "... a literatura não se define pelo sexo (masculino / feminino) nem pelo gênero (construção social dos papéis sexuais)." E, veja, que se a gente for observar de perto, é bem isso, não há o que contestar. Lamentavelmente a grande poeta Francisca Júlia (séc. XIX - XX) foi vitimada por a aquele sistema falido. Procure conheçer a obra da Virgínia Wolf, vale a pena.
bj
lUDICO O SEU PONTO DE VISTA,APESAR DE TODA SUA LOUCURA CONSEGUIU ATRAVESSAR NO MUNDO LITERÁRIO A OLHAR PARA DEFESA DA MULHER. MUITO BOM
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